Friday, July 08, 2005

Primitivo.

Algumas coisas valem 'a pena divulgar. Hoje, por exemplo, tava lendo a ENTRE LIVROS do mês de junho (sim, atrasado) quando me peguei lendo o dossiê de Jim-Joyce-velho-de-guerra. Pensei em digitar "velho de guelras" e, assim, fazer uma alusão a um dos quadrinhos preferidos do mês, AQUABLUE #2, mas a vontade passou. Foi só respirar fundo...
De qualquer jeito, lendo um dos muitos artigos sobre Joyce, vi um comentário sobre criação que me fez lembrar de um dos muitos papos recentes com o Léo: o articulista dizia que RETRATO DE UM ARTISTA QUANDO JOVEM já traz a semente do que seria considerado posteriormente como "joyceano". O que quer que isso signifique, já que ninguém entende Joyce, mesmo.
Comentando com o Léo a respeito da introdução que Moore fez 'a uma das coleções de O MONSTRO DO PÂNTANO sob seu reinado, lembrei que ele dizia que a Liga da Justiça era algo como uma reunião dos aventureiros proto-pulp da literatura que tanto amava. Ok, a essa altura você já percebeu a deixa, certo? Moore, em sua introdução, menciona, talvez alheadamente, um projeto que só veria a luz cerca de 20 anos depois, sua própria Liga de Cavalheiros Extraordinários.
A semente do que se conhece como Moore hoje em dia está lá atrás, no começo de sua carreira no "mainstream" norte-americano.
Tudo isso pra dizer que, ao contrário do que disse em tom de piada ao meu amigo Massula, CÁPSULAS não é fruto de geração espontânea. É resultado de um trabalho que vem sendo feito há anos e também de uma hq vista num fanzine anarquista pré-jurássico editado pelo meu amigo Ciborgue, não o Lee Majors, evidente. Bom, o Zé (apelido de Ciborgue, é claro) tinha feito essa hq meio tosca que eu amei de paixão e disse, meio que de brincadeira, que eu devia fazer a minha. Perguntei se podia fazer a mesma, dar uma melhorada no desenho etc. e ele disse que tudo bem. Sim a lenda é verdadeira, eu já desenhei! Os motivos do original do Zé eram sociais, mormente políticos, 'a minha dei tons religiosos. Muita ficção de terror sacrílega, acho, resulta nesse tipo de obsessão.
Daí que terminei os desenhos e o argumento de minha primeira historinha. Mostrei pra algumas pessoas, que acharam literária demais, mas eu não tinha idéia do que isso significava e encontrei alguém pra "passar a tinta". E pronto. Este foi o fim. A história não progrediu pra além disso mesmo. O Léo ainda fez uma versão melhorada do desenho e terminou tudo numa gaveta ou numa caixa qualquer sem a menor chance de ver a luz do dia.
O título, se é que me lembro, era ECCE HOMMO, em homenagem a Nietzche e Pôncio.
Agora, séculos depois, as camadas superiores que então eram lava movediça se consolidaram em terra rochosa e firme sob meus pés e abordo mais ou menos o que o original do Zé, então, abordava, na série de minihistórias CÁPSULAS.
O negócio tem tanto sabor que o Léo tá contribuindo cada vez mais com idéias e me fazendo lembrar do que é colaboração de verdade. E ele não tem se contentado só com a parte visual, não. Em e-mails trocados esta semana recebi material de base importante e que ainda não tinha despertado meu interesse.
Enfim, CÁPSULAS é resultado de uma obsessão original e de colaboração, como toda hq tem que ser.
E pensar que hoje tava pensando em falar da aranha que pegou a barata embaixo da pia...

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