Wednesday, July 06, 2005

Continuo.

Ainda sem resposta pra várias perguntas, entre as quais as que dizem respeito ao formato adotado, mas já procurando respostas com o sempre presente Léo. Como disse, nada está consolidado no que diz respeito 'as CÁPSULAS, tudo é passível de mudança.
Andei descolando um ou outro conceito pra sustentar o castelo de cartas que começamos a construir e, por enquanto, tô satisfeito. Alicerce é básico em ocasiões assim.
A de hoje té longe de ser minha preferida, mas acrescenta ao quebra-cabeça tanto quanto qualquer outra.
Vai lendo:
CÁPSULAS
“APOCALIPSE PESSOAL”
A.Moraes

Painel 1;
Abrimos com um close no rosto do velho Aristides. Velho mesmo, nada de eufemismos. Aproveite pra delinear bem o estrago que o tempo fez nesse camarada. Talvez refletida no óculos, vejamos a imagem de um menino nadando numa piscina. Faça um close parcial de seu rosto se for o caso, com ênfase na parte superior a partir do nariz... podemos discutir outras possibilidades, sendo o caso.

ARISTIDES: Ele cresceu desde a última vez.

RECORDATÓRIO: A resposta que Rodolfo dá é tão vazia que Aristides a ignora. Tem sido assim há um tempo: ele ignora sistematicamente o que não lhe interessa.

Painel 2;
Abrimos e mostramos a cena toda: Aristides em sua cadeira de rodas olha o neto na piscina, enquanto o filho Rodolfo e sua mulher preparam uma toalha sobre a grama do jardim em que dispõem um lanche da tarde. Ao fundo, em segundo plano, há um pomar e uma macieira que você vai perceber, é familiar de uma conversa que tivemos semanas atrás.

ARISTIDES: Nem me fale.

RECORDATÓRIO: Ele descobriu sem muito esforço, que o filho age do mesmo modo, daí também não se importa com o que diz ao interlocutor.

Painel 3;
O casal ao lado do velho na piscina, que virou a cadeira de modo que dá a idéia de querer sair do local. Os jovens observam o menino na piscina.

ARISTIDES: Vou ver o pôr-do-sol.

RECORDATÓRIO: Alguém diz algo sobre o lanche, mas a mente de Aristides já se moveu pra longe.

RECORDATÓRIO: Ele tem uma quase-memória de uma época em que fazer isso delimitava o território entre sanidade e loucura.

Painel 4;
Aristides em sua cadeira de rodas embaixo da macieira contemplando o pôr-do-sol. De frente pro leitor de modo que possamos mostrar os outros personagens em segundo plano ‘a beira da piscina.

RECORDATÓRIO: Mas esse retalho de lembrança pré-data seu encontro com Ana, pedaço de sua trama que nunca esmaeceu, mesmo passados tantos anos.

Painel 5;
No tronco da árvore, pouco acima da cabeça de Aristides, vemos um coração flechado com o nome do casal em seu interior, talhado na madeira.

RECORDATÓRIO: Ao comprarem o acre de terra onde fizeram seu lar, ela já estava decidida a ter um pomar só seu.

Painel 6;
Mostra a lateral da cadeira de rodas bem próxima ao chão, onde cai uma maçã que quica.

RECORDATÓRIO: Pareciam crianças quando a primeira árvore ficou grande o bastante pra gravarem nela seus sentimentos.

Painel 7;
Mostramos Aristides sentado na cadeira, de costas pro leitor, a cabeça pendendo pra um dos lados e o sol já atrás da colina, ainda despedindo alguma luz. Seu neto se aproxima enxugando-se com uma toalha.

NETO: Vô, o pai tá chamando pra comer.

RECORDATÓRIO: Por um momento ele acha voltou ao pavilhão em que cumpriu sua pena, o lugar onde aprendeu a arte de não ouvir.

Painel 8;
O neto põe a mão no rosto do avô e notamos preocupação no expressão do menino.

NETO: Vô?

RECORDATÓRIO: Mas isso não é possível. O SISTEMA erradicou qualquer memória de crime que as pessoas tivessem e reintegrou mesmo os criminosos mais empedernidos.

Painel 9;
O menino correndo em direção aos pais e gritando. Aristides, sentado em sua cadeira, parece banhado por outro tipo de luz que não a do sol.

NETO:Pai, vem aqui que o vô tá gelado!

RECORDATÓRIO: Além disso, agora estava morto.

RECORDATÓRIO: Aristides era o único sobrevivente de um sistema carcerário extinto...

RECORDATÓRIO: ...e seu apocalipse pessoal foi dos mais discretos.

FIM.





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