Sunday, April 10, 2005

Coincidência.

Li O PAGAMENTO, antologia de contos de P.K.Dick durante a última semana e, estranho, mas não surpreendente, me deparei com um conto intitulado A CIDADEZINHA que tem muito a ver com A CIDADE QUE ARISTÓTELES CONTRUIU, escrito por mim mesmo e publicado na revista pulp online A CASA DO TERROR.

Não é surpreendente porque já estou familiarizado demais com o "ideaspace" divulgado por Mr.Moore e corroborado por seus pares. Qualquer um externo a ordem cronológica e que lêsse os dois contos concluíria significativamente que se trata de plágio de minha parte, já que Dick escreveu o dele eras atrás e eu há somente dois ou três anos.

Segundo Moore, há um repositório de idéias que alguns chamam de inconsciente coletivo aonde tipos criativos vão buscar material bruto pra confeccionar suas obras. Pra mim soa adequado e justifica a coincidência, mas não explica. Ainda mais por conta de ser notória minha admiração pelo trabalho de Dick. Sempre senti falta de ler seus contos, sempre tive acesso a seus romances. Um dos primeiros livros que me lembro comprar com meu próprio dinheiro é justamente BLADE RUNNER (DO ANDROIDS DREAM OF ELETRICAL SHEEP?).

As temáticas dele são similares em mais de um ponto 'aquelas que gosto de abordar e também 'as que mereceram 'atenção de outro grande, talvez maior, talento literário, J.L.Borges. A percepção sendo a primeira delas. Percepção e mente ou consciência, como preferir.

De uns tempos pra cá meu interesse por psicologia se estendeu e aprofundou o bastante pra que me dedicasse também ao estudo do HD da coisa toda, a massa encefálica propriamente dita, e agora estudo também neurologia nas horas vagas. Meus trabalhos mais longos que só verão a luz do dia como roteiros em formato .pdf em algum ponto do futuro próximo (entenda-se, quando meu saco estiver mais cheio do que está agora) tratam do tema. Em PREFIXO SUPER, o mito do super-herói original é submetido ao tratamento da lente distorcida do universo DESVIO. Em VERDADE RELATIVA, a questão é "o que nos faz ser quem ou o quê somos?" ou "como vencer a programação que nos foi imposta?". Já O GRANDE JOGO tem um pouco disso em certa medida e lida com a coisa do "parece mais não é" com o que considero um tantinho de sutileza, de repente, mais sutileza do que o a que as pessoas que costumam ler quadrinhos estão acostumadas.

Isso merece um parêntese: as pessoas que costumam ler quadrinhos dificilmente vão atrás daqueles que exploram a mídia, o formato e tendem mais aos gibis coloridos de super-heróis, bichinhos ou infantis em geral. Isso não é derrogatório em nenhuma medida, só exclue todas as outras possibilidades de uso da linguagem. E quadrinhos, pra mim, são uma linguagem por essência. Uma das menos usadas e menos exploradas. O casamento perfeito entre duas outras, a verbal e a icônica e que, graças 'a indústria institucionalizada, só usa porções desta ou daquela na medida certa pra alienar o público do fato de se tratar de uma linguagem nova.

É fácil ouvir pessoas falando bem do roteiro ou dos desenhos de determinado gibi, difícil é ouvir falando do conjunto da obra.

E isso me perturba.

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