Sunday, August 21, 2005

Linguagem.

Digito enquanto o almoço não fica pronto e sem propósito aparente. A idéia é que o “propósito” apareça durante o processo de escritura.

Tá.

Uma das coisas em que continuo pensando com cada vez mais freqüência é na linguagem dos quadrinhos.

Dizer que há arte seqüencial pra mim é dizer tudo.

Repito isso como um mantra todos os dias, vezes sem conta.

Por quê?

Simples:

Tem um monte de gente que cisma em gorgolejar que a linguagem supra é só um composto de textos e imagens quando nada poderia ser mais distante da realidade.

Texto é uma coisa, arte é outra coisa. Ponha as duas juntas e você obtém um terceiro elemento que não é e, ao mesmo tempo, é uma combinação das duas.

O que me faz lembrar de algo já dito a respeito da gestalt que se aplica perfeitamente ‘a minha ladainha incessante sobre quadrinhos: o todo é maior do que a soma das partes.

Isto posto, sabemos que o todo está infundido nas partes e, numa história em quadrinhos verdadeira, um elemento não pode ser separado do outro sem perda real.

O que me faz questionar o que seria uma hq de verdade...

É aquela em que os elementos se complementam de modo a não ser possível a compreensão deles em separado.

Se você tira a arte de uma história e ela continua compreensível, por exemplo, poderia ser perfeitamente um texto em prosa.

Se você tira o texto de uma história e ela continua compreensível, tudo está ok, porque a arte de uma história é também seu texto.

Mais ainda, o texto de uma história é também sua arte, já que o letreiramento faz parte da arte. Exemplo melhor do que os estupros na arte vistos em alguns mangás reproduzidos no Brasil por causa da substituição dos kanjis por simples onomatopéias com letras do alfabeto romano não há.

Então, nas histórias em quadrinhos, tudo é texto. Mesmo, acredite.

Tá certo que isso é difícil de aceitar quando se pensa em historinhas da Marvel, por exemplo, mas vá lá e pegue o último volume de Crumb que cê adquiriu e diga se estou mentindo. Ou o último exemplar de qualquer coisa do Millazo, Eddie Campbell, Antonio Eder ou seus pares.

A verdade, definitivamente, é que se faz necessário aceitar a linguagem como coisa única, não como híbrido de coisas distintas.

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