Thursday, April 14, 2005

Ontem e hoje.

Ontem tava tão cansado que, apesar de ter checado e-mail e tudo mais, não tive pique de escrever nada aqui. Cansaço dos mais atrozes.

Hoje o cansaço é o mesmo, tá, talvez piorado, já que mais um dia se acumulou sobre o outro, mas tive um par de idéias e quero tentar discorrer sobre elas pra meu próprio prazer.

Essa é uma delas, claro: escrever pra meu próprio prazer é um negócio que venho adiando há algum tempo por vários motivos, entre os quais, o princípio de negação. Não foi ontem nem ano passado que alguém me disse que eu escrevia só pra mim. Foi a um bom par de anos (leia-se 4). Fiquei puto. Me achei no direito de ficar puto. Mas de lá pra cá tive a oportunidade, mais de uma vez, de refletir sobre o assunto. O resultado de reflexões similares já apareceu por aqui há pouco tempo. Uma ficha que demorou a cair é que, apesar de escrever pra mim, pro tipo de leitor que eu e meus pares somos, me negava isso, dizia que qualquer pessoa poderia entender/apreciar o que quer que me desse na telha martelar no papel. Ainda tenho um ou dois argumentos que favorecem essa opinião, mas eliminei pelo menos metade deles com outro que diz que a pessoa teria que ter uma história de leituras similar 'a minha pra apreciar o que aprecio.

Outra, engraçado, é a capacidade terapêutica que os livros podem ter sobre mim. Outro dia coloquei uma lista dos textos que ando lendo ultimamente, mas não comentei o quanto essas leituras foram adiadas. O livro de Oliver Sacks, por exemplo, tenho desde 98, mas só agora, por motivos mais de autoconhecimento/autodiagnose me atrevi a fuçá-lo como devido. Tem sido recompensador. A antologia de contos chineses, idem, tenho até há mais tempo, mas só agora inventei a desculpa certa pra encará-la e tem me ajudado a balancear um pouco com fantástico a realidade 'as vezes cruel das anamneses de Sacks. Por fim, mas não menos importante, tive em mãos uma edição anterior da longa entrevista HITCHCOCK/TRUFFAUT, emprestada pelo meu amigo Sérgio dos Anjos e, apesar de dispor da dita cuja por vários meses, só agora, em versão definitiva e de minha posse, me atrevi a encará-la. E, agora, felizmente, com essa dosagem de coisas boas, meus neurotransmissores parecem desinibidos o bastante pra que eu sinta vontade de pensar e ser.

A máxima do dia, extraída da leitura de um gibi e que me pegou desprevenido é a seguinte: depressão é raiva sem entusiasmo. Sabe de uma coisa? Fazia tempo que eu sequer pensei no conceito de entusiasmo. Hoje, com a combinação de textos meio amalucada que enfrento, senti algo semelhante mover-se nas profundezas empedernidas de minha própria cabeça. Foi um tipo de coceirinha benéfica.

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