3º GERAÇÃO.
Não pergunte.
Exceto se quiser saber, claro.
É o que tenho feito enquanto folheio o gibi que traz na capa o título desta entrada. Publicado por aqui pela RGE em 1981, é descrito como "a nova evolução da KRYPTA", outro gibi, na minha opinião, de qualidade incontestável.
Mas ainda fica a pergunta: 3º geração do quê, exatamente? Tudo bem se isso soa futurístico o suficiente pra você, eu acho. Pra mim, bom, não sei.
O que sei: é um bom gibi com boas historinhas.
Tem uma adaptação de Larry Niven feita por Doug Moench e Vincent alcazar, por exemplo, e a vibe geral é de uma Heavy Metal mais voltada pro ato de contar histórias do que entreter visualmente.
O que, por si, não chega a ser bom ou ruim, qualidade ou defeito.
É o tipo de gibi que seria ignorado pela maioria dos leitores de quadrinhos nestas plagas por ser em p&b e não trazer na capa um super-herói multicolorido socando alguém, voando, morrendo ou praticando qualquer ação relevante (ou irrelevante, como o é na verdade e no mais das vezes).
Chamaria atenção pela ilustração de robofilia explícita na capa, talvez.
Também é o tipo de gibi que seria extremamente interessante vermos sendo circulado por mãos afoitas e perscrutados por olhos ávidos ligados 'as mentes elásticas de garotos de 12, 13, 14 anos porque, simples, traz idéias sociais e políticas ausentes na maior parte das publicações atuais.
E não me leve a mal: não é reacionarismo, muito pelo contrário. É carência de qualquer publicação que preencha essa lacuna, mesmo.
Nos gibis da Warren (que é a originadora também deste material) havia uma preocupação subjacente com ecologia, corrupção etc, etc e etc. Coisas que passam batidas pelas crianças mesmo que sejam divulgadas pela tevê em larga escala porque, verdade seja dita, sofre com uma veiculação no mínimo tediosa por parte de âncoras e repórteres televisivos apáticos.
Não dá pra esperar que alguém com a imaginação ativa do princípio da adolescência fique salivando de curiosidade a respeito de qualquer coisa apresentada pela Fátima Bernardes, pra citar um dos zumbis catódicos.
O conto do Niven é interessante pra molecada por contrapor dois tipos, personagens, bastante comuns, pode-se dizer arquetípicos, o Mago e o Guerreiro. Inteligência e Força. Enfim... um vive sabiamente o outro matando tudo que se move por estar dominado por sua arma... que pode ser entendida como um símbolo fálico...
Pra encurtar uma história longa, o Mago descobre que a magia está se esgotando na atmosfera com rapidez surpreendente e procura soluções para o problema, enquanto o Guerreiro o procura com uma desculpa esfarrapada para matá-lo por estar interessado em sua mulher. Sexualmente, como tem que ser.
É mais subtexto do que se pode encontrar em toda a cronologia Marvel atual.
Não é questão de ser ranzinza também.
De certo modo tô fazendo côro a um troço que Morrison disse a respeito do leitor atual e sua incapacidade de interpretar textos. Por que a Marvel, apesar de minha opinião a seu respeito, faz o sucesso que faz?
Porque esmiúça tudo pro leitor, entrega a leitura pronta, sem haver necessidade de interpretação nenhuma. É o tipo de encanto que precisa ser recuperado pros quadrinhos voltarem a valer 'a pena.
Noutro dia me peguei pensando que antes do surgimento da Metal Hurlant na França os quadrinhos alternativos americanos e ingleses em seu boom original eram muito mais interessantes em caráter conteudístico do que qualquer fc seria capaz.
Pegue FRITZ THE CAT, por exemplo. Freud, Jung e outros bichos.
Ontem falei que Duke meio que perdeu a graça pra mim. Ainda assim li com interesse uma parte do livro em que ele falava do fenômeno dos não-estudantes no campus da Universidade de Berkeley. Eram pessoas que queriam saber melhor mesmo que pra isso não adquirissem diploma universitário. Gente interessada em desdenhar e usar o sistema que as oprimia e impedia de viver a seu próprio modo pra viver de seu próprio modo.
Acho que é isso que faz falta no quadrinho atual: provocação, vontade de subverter o status quo. Por todos os motivos acima e mais alguns.
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