Sunday, July 31, 2005
Complete como quiser.
Pra mim, é outro dia que começa daqui a exatas 4 horas e 15 minutos.
Com a diminuição do fluxo, diminui também minha preocupação.
Estou engajado em mais um dos meus exercícios lingüísticos de praxe. O objetivo é dos mais simpes: evitar determinadas palavras e/ou classes de palavras pra descobrir o quanto posso comunicar com um vocabulário mais restrito.
Chamo esse método de "língua bizarra". A tendência é eliminar de forma gradual tudo que for expressão descartável, sem a qual o discurso possa se fazer sem se tornar ininteligível.
A coisa é mais fácil do que parece, acredite.
Hoje, por exemplo, estou me esquivando de usar advérbios de modo e negação. Isso passa longe de se estabelecer como um desafio, porque os advérbios são termos auxiliares da oração e, mesmo deixando-os de lado, dá pra escrever bastante, desde que se tenha um vocabulário razoável.
O meu cresce de maneira exponencial desde que me mantenha lendo. Já disse que leitura e escritura são atividades que considero indissociáveis. É engraçado notar o quanto se pode fazer em termos de malabarismos de linguagem pra alcançar um objetivo razoável como o que comunico agora.
Vou continuar devendo a seqüência do segundo ciclo porque faltou tempo e estive envolvido demais com leitura de quadrinhos hoje.
Espero ter novidades sobre coisas novas pra breve. Semana que vem devo ir 'a feira de literatura bienal e saciar meus apetites seqüenciais com as promoções que espero encontrar espalhadas por lá.
Saturday, July 30, 2005
Segunda temporada.
Suicídio.
Este poderia muito bem ser um bilhete de suicídio.
Sim, porque, depois de acordar todos os dias da semana 'as 5 da manhã, alugamos a segunda temporada de ALIAS... meu deus! Acabamos de ver agora. 22 benditos episódios. Chame de maratona, se quiser.
Mas com o retorno ao trabalho secular, a coisa toda tende a se tornar cada vez pior. Segunda, por exemplo, tenho o trabalho convencional pela manhã e 'a tarde uma videoconferência dum projeto aí de que estou participando.
Amanhã, tenho que estar em pé 'as 8 pra devolver os filmes até 'as 10. Sei lá. Não quero mais provar minha capacidade de resistência seminula. Até porque, conforme o tempo avança, fica mais e mais claro que não sobrou nada, mesmo.
De qualquer modo, se continuar nesse ritmo, meu tempo de leitura/escrita vai pro espaço de vez e não vou poder mais apelar pra minha pseudoterapia (ie, o ato de escrever).
Ainda assim vou tentar reunir forças o suficiente pra escrever, pelo menos, o fim do segundo ciclo de CÁPSULAS, antes do colapso final. Isso aí.
Como um dos pilares do que escrevo é a obra borgiana (e nunca me envergonhei disso, muito pelo contrário), peço que assumam a mesma postura do autor argentino com relação a um quadro que lhe foi prometido por um amigo pintor e nunca foi entregue. Borges se contentou em simplesmente imaginar como seria a obra, tendo assim, em sua mente, um quadro infinito.
Você, meu caro, está formalmente convidado a desvendar o mistério por trás do terceiro ciclo de CÁPSULAS, que provavelmente, nunca vou escrever.
Wednesday, July 27, 2005
Ach!
É verdade.
Esses momentos de não-produção tendem a aumentar, uma vez que o trabalho secular recomeçou. Claro que vou continuar postando diariamente (se der), mas as chances de escrever uma CÁPSULA todos os dias diminuíram bastante.
De qualquer modo, escrevo como terapia, então, se começar a me grilar sobre o assunto paro a produção geral e,acreditem, esse não é o objetivo.
Tá frio, meus pés tão gelados e vou tentar ser tão breve quanto o bom raciocínio permitir.
Relendo BREVE HISTÓRIA DO UNIVERSO pra ter certeza de que entendi tudo de maneira adequada. Não devia dizer, porque a maioria das pessoas não diz, mas é este livro que serve como alicerce pra tudo que tenho feito em roteiros ultimamente.
Uma vez, séculos atrás, me pediram pra escrever uma peça a respeito das influências literárias de Neil Gaiman. Uma das coisas que mais me chamou a atenção, então, foi notar quão pouco ele mencionava Borges como influência sendo que vários conceitos borgianos estão espalhados por grande parte de sua obra quadrinhística, particularmente, em Sandman.
Morrison, por outro lado, é um cara que não esconde o jogo de jeito nenhum. Prova maior que as respostas na coluna de correspondência de INVISIBLES é impossível. Ele me iniciou ou despertou meu interesse em um sem-número de autores de que nunca tinha ouvido falar ou já tinha mas não dera importância.
No meu caso, escrever está tão ligado ao ato de ler que se tornou indissociável. Quando alguém diz que escreve, pergunto, quase no automático, o que a pessoa costuma ler.
Isso já rendeu surpresas legais e choques absurdos, como no caso do cara que se dizia escritor e não gostava de ler. Sabe-se lá de onde vem a experiência com a escrita pruma pessoa que não lê.
É parecido com perguntar a um desenhista quais os autores de que ele gosta e a resposta ser que não gosta de arte.
Mas esse sou eu, certo? E posso estar errado.
Tuesday, July 26, 2005
De volta.
A transmissão de hoje saiu mais fácil do que imaginei. Tá, uma das coisas que percebi no segundo ciclo foi a predominância de motivos mágicos, míticos, etc. A razão disso vai ficar clara quando se puserem os três ciclos principais em ordem e eles forem examinados. O que acho legal a respeito do próximo é que ele vai fundir muito do que se viu nos que o antecederam. Mas vou deixar a conversa de lado e terminar o que vim fazer porque tenho que acordar daqui a três horas... mais ou menos.
CÁPSULAS
“PROIBIDO: AMOR”
A.Moraes
Painel 1;
Um duelo de espadas. Sim, espadas medievais, pesadas, cujos esgrimistas têm dificuldade em erguer e manusear. A propósito deles, são caras magros, com aquele corte de cabelo em cuia típico do período, sem costeletas, feito?
RECORDATÓRIO: A disputa era desigual desde o começo.
RECORDATÓRIO: Carne contra aço.
Painel 2;
Um close das espadas se chocando e produzindo faíscas.
RECORDATÓRIO: “Por que lutar?”, se perguntavam.
RECORDATÓRIO: “Por que negar nosso amor com tamanha violência?”
Painel 3;
Close nos olhos de um dos esgrimistas. Emoções mistas brilham em sua expressão. Ódio, medo, paixão.
RECORDATÓRIO: Todos podiam recordar com perfeição o início da desavença.
Painel 4;
Os esgrimistas são mostrados aqui alguns momentos antes do início do duelo. Estão parados diante de uma parede que tem as espadas que usarão (ou usaram, ou estão usando) no duelo cruzadas como enfeite.
ESGRIMISTA 1: Tem certeza de que essa “mulher” de quem fala é honesta?
ESGRIMISTA 2: Tão honesta quanto sua irmã é.
Painel 5;
O primeiro, tirando uma das luvas, se irrita com o comentário, o segundo age de modo defensivo, mas sem recuar.
ESGRIMISTA 1: Está sugerindo que minha irmã não é honesta?
ESGRIMISTA 2: Quem sugeriu que a mulher que amo não é honesta foi você!
Painel 6;
O primeiro esbofeteia o segundo com a luva que tem em mãos.
ESGRIMISTA 1: Então é pior do que pensei! Está se deitando com minha irmã!
ESGRIMISTA 2: Aaa!
Painel 7;
Os dois correm pras espadas na parede, apanhando-as.
RECORDATÓRIO: Amantes há centenas de anos forçadas ‘a violência por causa da banalidade da moral humana...
Painel 8;
Mais um close como o do painel 2, só que aqui as lâminas, com linhas de velocidade e tudo mais se desviam antes do choque que produziria faíscas e...
RECORDATÓRIO: ...elas tomam a única decisão possível na atual situação.
Painel 9;
As espadas cravadas nos cadáveres dos dois esgrimistas, caídos um sobre o outro no chão de modo que as empunhaduras das supra fiquem encostadas uma ‘a outra.
RECORDATÓRIO: O aço sempre ganha.
RECORDATÓRIO: E o amor, mesmo nos ambientes mais inóspitos, prevalece, reunindo as amantes num abraço terno.
FIM.
“PROIBIDO: AMOR”
A.Moraes
Painel 1;
Um duelo de espadas. Sim, espadas medievais, pesadas, cujos esgrimistas têm dificuldade em erguer e manusear. A propósito deles, são caras magros, com aquele corte de cabelo em cuia típico do período, sem costeletas, feito?
RECORDATÓRIO: A disputa era desigual desde o começo.
RECORDATÓRIO: Carne contra aço.
Painel 2;
Um close das espadas se chocando e produzindo faíscas.
RECORDATÓRIO: “Por que lutar?”, se perguntavam.
RECORDATÓRIO: “Por que negar nosso amor com tamanha violência?”
Painel 3;
Close nos olhos de um dos esgrimistas. Emoções mistas brilham em sua expressão. Ódio, medo, paixão.
RECORDATÓRIO: Todos podiam recordar com perfeição o início da desavença.
Painel 4;
Os esgrimistas são mostrados aqui alguns momentos antes do início do duelo. Estão parados diante de uma parede que tem as espadas que usarão (ou usaram, ou estão usando) no duelo cruzadas como enfeite.
ESGRIMISTA 1: Tem certeza de que essa “mulher” de quem fala é honesta?
ESGRIMISTA 2: Tão honesta quanto sua irmã é.
Painel 5;
O primeiro, tirando uma das luvas, se irrita com o comentário, o segundo age de modo defensivo, mas sem recuar.
ESGRIMISTA 1: Está sugerindo que minha irmã não é honesta?
ESGRIMISTA 2: Quem sugeriu que a mulher que amo não é honesta foi você!
Painel 6;
O primeiro esbofeteia o segundo com a luva que tem em mãos.
ESGRIMISTA 1: Então é pior do que pensei! Está se deitando com minha irmã!
ESGRIMISTA 2: Aaa!
Painel 7;
Os dois correm pras espadas na parede, apanhando-as.
RECORDATÓRIO: Amantes há centenas de anos forçadas ‘a violência por causa da banalidade da moral humana...
Painel 8;
Mais um close como o do painel 2, só que aqui as lâminas, com linhas de velocidade e tudo mais se desviam antes do choque que produziria faíscas e...
RECORDATÓRIO: ...elas tomam a única decisão possível na atual situação.
Painel 9;
As espadas cravadas nos cadáveres dos dois esgrimistas, caídos um sobre o outro no chão de modo que as empunhaduras das supra fiquem encostadas uma ‘a outra.
RECORDATÓRIO: O aço sempre ganha.
RECORDATÓRIO: E o amor, mesmo nos ambientes mais inóspitos, prevalece, reunindo as amantes num abraço terno.
FIM.
Monday, July 25, 2005
Hábito e monge.
Notem que é só por isso que escrevo aqui hoje. Em pé desde as 5 da madrugada, ainda não tive chance de escrever uma linha sequer. Estas são as primeiras. É por essas e outras que não senti falta do trabalho secular por nenhum minuto nos últimos 45 dias.
Certo.
Mas prometi não reclamar de minha infelicidade outro dia e vou manter (ou tentar manter) a promessa.
Faltam duas historinhas pra terminar o segundo ciclo de CÁPSULAS e ambas já foram plotadas. A que foi publicada ontem da uma pista do que vai se tratar a última e do que vem no terceiro e último ciclo.
O que foi ficando interessante em fazer as ditas cujas é que notamos, eu e o Léo, que algumas do segundo ciclo funcionariam mesmo fora do universo ficcional em que foram inseridas, do qual supostamente fazem parte. Significa que estamos fazendo alguma coisa certa.
Amanhã vou tentar postar a número 17 aqui. A última levou 20 minutos pra escrever inteira. Essa demanda um pouco mais de força e poder de síntese, então é possível que esteja pronta amanhã depois que eu tiver um tempo de ler, colocar as engrenagens em movimento e relaxar.
Continuem ligados.
Sunday, July 24, 2005
Efeito colateral.
A de hoje é efeito colateral de toda a leitura recente. Se não fizer sentido é porque tem um sentido invisível. Preste atenção!
CÁPSULAS
“PARA SER O HOMEM INVISÍVEL”
A.Moraes
Painel 1;
Ok, um desafio afinal. Ao contrário do título da história, o homem invisível é bastante visível. Um sujeito alto, magro, que veste roupa de escafandrista completa e tem, inclusive, uma mangueira de respiração erguida em direção ao céu. O detalhe: ele está em terra firme e caminha sem ser notado por ninguém.
RECORDATÓRIO: “Não é um truque. Não é magia nem ciência. Não há razão aparente pra isso.
Painel 2;
O escafandrista apanha um pedaço de madeira em chamas de uma fogueira e o ergue ‘a altura dos olhos. Os três homens que se aquecem ao redor do fogo acompanham a trajetória ascendente da madeira com os olhos.
RECORDATÓRIO: “Inicio os experimentos. É necessário registrar a reação dos nativos.
Painel 3;
As pessoas conversam entre si, agitadas mas não com medo.
RECORDATÓRIO: “Aos primeiros sons emitidos o aparelho de tradução gravação se ativa.
NATIVO 1: Que acontece?
NATIVO 2: Há um espírito presente...
Painel 4;
O escafandrista enfia a ponta em chamas da madeira na terra. Os nativos observam e continuam a falar.
RECORDATÓRIO: “Eles parecem muito primitivos. Conseguirei estabelecer comunicação?
NATIVO 3: O que é isso?
NATIVO 2: Acho que devemos perguntar o que quer.
Painel 5;
O escafandrista risca no chão um boneco de palitinhos, aquele desenho bem básico da figura humana que qualquer criança consegue interpretar.
RECORDATÓRIO: “São horticultores em sua maioria. Uns poucos ainda são caçadores-coletores. O que temos em comum?
NATIVO 2: Vejam! Riscou uma coisa na terra!
NATIVO 1: Será um deus?
Painel 6;
O escafandrista risca mais dois bonecos no chão ao lado do primeiro e desenha uma fogueira aos pés deles.
RECORDATÓRIO: “Não pode ser tão complicado!
NATIVO 2: Somos nós! Eu e vocês e o fogo!
NATIVO 1: Ele nos fez, então?
Painel 7;
O escafandrista desenha a si mesmo como um boneco de palitinho só que vestido do jeito que está agora um pouco acima dos desenhos anteriores.
NATIVO 2: Sim! Ele está acima de nós e nos fez! As imagens dizem isso!
NATIVO 1: Não olhem para o alto! Deuses são rancorosos!
Painel 8;
O escafandrista apaga o desenho do chão com um dos pés. Os nativos genuinamente assutados.
RECORDATÓRIO: “Vou tentar de novo. São mais primitivos do que pensei.
NATIVOS EM UNÍSSONO: AAAAA!!!
Painel 9;
O escafandrista olha em direção aos nativos que, simplesmente, desapareceram.
RECORDATÓRIO: “Observar no relatório: Sistema de crenças maleável e fortíssimo.
RECORDATÓRIO: “Eu fiz mesmo isso?”
FIM.
“PARA SER O HOMEM INVISÍVEL”
A.Moraes
Painel 1;
Ok, um desafio afinal. Ao contrário do título da história, o homem invisível é bastante visível. Um sujeito alto, magro, que veste roupa de escafandrista completa e tem, inclusive, uma mangueira de respiração erguida em direção ao céu. O detalhe: ele está em terra firme e caminha sem ser notado por ninguém.
RECORDATÓRIO: “Não é um truque. Não é magia nem ciência. Não há razão aparente pra isso.
Painel 2;
O escafandrista apanha um pedaço de madeira em chamas de uma fogueira e o ergue ‘a altura dos olhos. Os três homens que se aquecem ao redor do fogo acompanham a trajetória ascendente da madeira com os olhos.
RECORDATÓRIO: “Inicio os experimentos. É necessário registrar a reação dos nativos.
Painel 3;
As pessoas conversam entre si, agitadas mas não com medo.
RECORDATÓRIO: “Aos primeiros sons emitidos o aparelho de tradução gravação se ativa.
NATIVO 1: Que acontece?
NATIVO 2: Há um espírito presente...
Painel 4;
O escafandrista enfia a ponta em chamas da madeira na terra. Os nativos observam e continuam a falar.
RECORDATÓRIO: “Eles parecem muito primitivos. Conseguirei estabelecer comunicação?
NATIVO 3: O que é isso?
NATIVO 2: Acho que devemos perguntar o que quer.
Painel 5;
O escafandrista risca no chão um boneco de palitinhos, aquele desenho bem básico da figura humana que qualquer criança consegue interpretar.
RECORDATÓRIO: “São horticultores em sua maioria. Uns poucos ainda são caçadores-coletores. O que temos em comum?
NATIVO 2: Vejam! Riscou uma coisa na terra!
NATIVO 1: Será um deus?
Painel 6;
O escafandrista risca mais dois bonecos no chão ao lado do primeiro e desenha uma fogueira aos pés deles.
RECORDATÓRIO: “Não pode ser tão complicado!
NATIVO 2: Somos nós! Eu e vocês e o fogo!
NATIVO 1: Ele nos fez, então?
Painel 7;
O escafandrista desenha a si mesmo como um boneco de palitinho só que vestido do jeito que está agora um pouco acima dos desenhos anteriores.
NATIVO 2: Sim! Ele está acima de nós e nos fez! As imagens dizem isso!
NATIVO 1: Não olhem para o alto! Deuses são rancorosos!
Painel 8;
O escafandrista apaga o desenho do chão com um dos pés. Os nativos genuinamente assutados.
RECORDATÓRIO: “Vou tentar de novo. São mais primitivos do que pensei.
NATIVOS EM UNÍSSONO: AAAAA!!!
Painel 9;
O escafandrista olha em direção aos nativos que, simplesmente, desapareceram.
RECORDATÓRIO: “Observar no relatório: Sistema de crenças maleável e fortíssimo.
RECORDATÓRIO: “Eu fiz mesmo isso?”
FIM.
Saturday, July 23, 2005
Automática.
É o nome da escrita que usei hoje. 'As vezes vem tudo como um jorro e só preciso pensar em como adequar as frases que vão aparecer como texto de modo que ocupem o menor espaço possível. 'As vezes é um verdadeiro parto e partes da história precisam ser limadas até que possam se encaixar nos devidos lugares. 'As vezes é preciso esquentá-las e bater nelas com o martelo até deformá-las, melhor, conformá-las 'a vontade de quem escreve. A historinha de hoje faz referência 'a outra história e vem direto do impacto que suas diferentes versões tiveram em mim. O original é divertido e triste. A minha, bom, por quê você simplesmente não a lê?
CÁPSULAS
“GAROTOS PERDIDOS”
A.Moraes
Painel 1;
Um grupo de seis meninos de idade entre oito e dez anos reunido ao redor de uma árvore grande o bastante pra ter escavado em seu tronco um esconderijo onde eles brincam. A “porta” nada mais é que um pedaço de tecido pregado na parte de cima da entrada, certo?
RECORDATÓRIO: “Era uma vez...”
RECORDATÓRIO: “Quando começa assim, geralmente termina com ‘e viveram felizes para sempre’.
Painel 2;
Interna: o tronco por dentro parece maior do que por fora. Brinque com o conceito, pense grande... vemos os meninos entrando e se reunindo a um grupo maior que já se encontrava no interior iluminado precariamente por velas. Um deles mantém o pedaço de tecido supra levantado enquanto os outros passam.
RECORDATÓRIO: “Não no nosso caso. Pelo menos não por enquanto.
RECORDATÓRIO: “Ainda esperamos pelo retorno de nosso Líder.
Painel 3;
Os meninos reúnem-se ao redor de um altar druídico. Cê sabe, grande pedra com canais escavados nas laterais pra que o sangue possa escorrer, né?
RECORDATÓRIO: “Todos os dias considerados dEle nos reunimos pra pedir sua volta ao Inominável.
Painel 4;
Uma criança menor é arrastada, uma menina, por entre eles em direção ao altar.
RECORDATÓRIO: “Sempre que podemos escapar da atenção dos maiores... é assim que definimos os dias dEle.
Painel 5;
A menina é amarrada ao altar com cordas.
RECORDATÓRIO: “Sempre que conseguimos uma voluntária entre as meninas... é assim que definimos os dias dEle.
Painel 6;
A menina se debate amarrada no altar enquanto os meninos a observam atentamente. Um deles, maior que os outros e com uma pena presa ‘a cabeça por uma faixa, se aproxima com passos rituais. Suas mãos não estão ‘a vista.
RECORDATÓRIO: “Sempre que podemos fazer a pergunta sagrada... é assim...
Painel 7;
Ângulo descendente aqui, certo? Mostramos do alto o menino fantasiado de índio erguendo as mãos pro alto e gritando enquanto a menina se debate no altar e os outros, simplesmente, observam.
ÍNDIO: É esta a Wendy?
MENINA: SOCOOORRO!
Painel 8;
Mostra o mesmo ângulo e uma voz que vem de cima respondendo ‘a platéia decepcionada lá embaixo, inclusive a menina amarrada.
VOZ DO ALTO: Nããão!
MOLECADA (BALÕES MÚLTIPLOS): AAAHHH!
RECORDATÓRIO: “Então o ritual termina, a candidata ‘a Wendy é libertada e levada de volta pra casa por um irmão mais velho...
Painel 9;
Mostramos aqui um menino com cara de safado, sujinho, de uns 12 anos, mais velho que os outros lá de baixo, risonho, com um livro na mão (PETER PAN, adivinhão), numa plataforma superior dentro da árvore gigantesca. Embaixo, podemos ver que a molecada está soltando a Wendy.
RECORDATÓRIO: “...continuamos sem Ele, sem Péter, sem nosso guia espiritual...
RECORDATÓRIO: “...e vamos envelhecendo, sempre e sempre.
RECORDATÓRIO: “Isso lá é final feliz?”
FIM.
“GAROTOS PERDIDOS”
A.Moraes
Painel 1;
Um grupo de seis meninos de idade entre oito e dez anos reunido ao redor de uma árvore grande o bastante pra ter escavado em seu tronco um esconderijo onde eles brincam. A “porta” nada mais é que um pedaço de tecido pregado na parte de cima da entrada, certo?
RECORDATÓRIO: “Era uma vez...”
RECORDATÓRIO: “Quando começa assim, geralmente termina com ‘e viveram felizes para sempre’.
Painel 2;
Interna: o tronco por dentro parece maior do que por fora. Brinque com o conceito, pense grande... vemos os meninos entrando e se reunindo a um grupo maior que já se encontrava no interior iluminado precariamente por velas. Um deles mantém o pedaço de tecido supra levantado enquanto os outros passam.
RECORDATÓRIO: “Não no nosso caso. Pelo menos não por enquanto.
RECORDATÓRIO: “Ainda esperamos pelo retorno de nosso Líder.
Painel 3;
Os meninos reúnem-se ao redor de um altar druídico. Cê sabe, grande pedra com canais escavados nas laterais pra que o sangue possa escorrer, né?
RECORDATÓRIO: “Todos os dias considerados dEle nos reunimos pra pedir sua volta ao Inominável.
Painel 4;
Uma criança menor é arrastada, uma menina, por entre eles em direção ao altar.
RECORDATÓRIO: “Sempre que podemos escapar da atenção dos maiores... é assim que definimos os dias dEle.
Painel 5;
A menina é amarrada ao altar com cordas.
RECORDATÓRIO: “Sempre que conseguimos uma voluntária entre as meninas... é assim que definimos os dias dEle.
Painel 6;
A menina se debate amarrada no altar enquanto os meninos a observam atentamente. Um deles, maior que os outros e com uma pena presa ‘a cabeça por uma faixa, se aproxima com passos rituais. Suas mãos não estão ‘a vista.
RECORDATÓRIO: “Sempre que podemos fazer a pergunta sagrada... é assim...
Painel 7;
Ângulo descendente aqui, certo? Mostramos do alto o menino fantasiado de índio erguendo as mãos pro alto e gritando enquanto a menina se debate no altar e os outros, simplesmente, observam.
ÍNDIO: É esta a Wendy?
MENINA: SOCOOORRO!
Painel 8;
Mostra o mesmo ângulo e uma voz que vem de cima respondendo ‘a platéia decepcionada lá embaixo, inclusive a menina amarrada.
VOZ DO ALTO: Nããão!
MOLECADA (BALÕES MÚLTIPLOS): AAAHHH!
RECORDATÓRIO: “Então o ritual termina, a candidata ‘a Wendy é libertada e levada de volta pra casa por um irmão mais velho...
Painel 9;
Mostramos aqui um menino com cara de safado, sujinho, de uns 12 anos, mais velho que os outros lá de baixo, risonho, com um livro na mão (PETER PAN, adivinhão), numa plataforma superior dentro da árvore gigantesca. Embaixo, podemos ver que a molecada está soltando a Wendy.
RECORDATÓRIO: “...continuamos sem Ele, sem Péter, sem nosso guia espiritual...
RECORDATÓRIO: “...e vamos envelhecendo, sempre e sempre.
RECORDATÓRIO: “Isso lá é final feliz?”
FIM.
Friday, July 22, 2005
Sonho.
A de hoje é baseada num sonho que tive outro dia. Não é muito original, mas que seja como tem que ser. Seu Oscar foi amigo da família por todo o tempo que me entendo por gente. Uma homenagem do tipo que cês vão entender melhor quando lerem o fim.
CÁPSULAS
“PESCANDO GENTE”
A.Moraes
Painel 1;
Temos duas cabeças em primeiro plano e, entre elas, vemos um barco pequeno movendo-se num rio iluminado, impulsionado pelo remo por um velho. Os personagens que observam são dois adolescentes, Davi e Cristiano, esquerda e direita. Caracterize como quiser, ok? Oscar, o velho no barco, está muito longe pruma descrição se fazer necessária.
CRISTIANO: Nossa! Quem é esse cara?
DAVI: É o seu Oscar, Cristiano!
CRISTIANO: Mas há um minuto ele não tava ali!
DAVI: Não esquenta com isso, não, meu.
Painel 2;
Agora afasta um pouco de modo a mostrar os meninos até a cintura. Seu Oscar continua em segundo plano, remando com tranqüilidade.
DAVI: Seu Oscar é do bem. Se tô aqui hoje é por causa dele.
CRISTIANO: Mesmo, Davi?
DAVI: Só.
Painel 3;
Davi, com uns 5 anos, nadando no mesmo rio dos 2 painéis anteriores. Mostre de perto: compacto, firme, vigoroso e radiante com sua habilidade de nadador.
RECORDATÓRIO: “Eu era bem pequeno na época, mas lembro melhor disso do que do café da manhã.
RECORDATÓRIO: “O dia era quente e a água tava fresca. Perfeito prum filho de pescador.
Painel 4;
Em primeiro plano vemos, sobre os ombros de seu Oscar, ainda no barco, o menino nadando perto do redemoinho do rio. Cê não mostrou o velho antes porque o painel era um close, certo?
RECORDATÓRIO: “Tava tão contente que nem vi que nadei pra parte perigosa do rio. Nem os adultos vão lá.
RECORDATÓRIO: “A corrente me pegou e...
Painel 5;
Mostramos seu Oscar de perto, o corpo inclinado pra frente na posição de mergulho, sem camisa, peito e braços musculosos, vestindo calças brancas, cabeça com cabelos curtíssimos e brancos contrastando com a pele escura, curtida pelo sol.
RECORDATÓRIO: “... ele não pensou duas vezes.
Painel 6;
Seu Oscar segurando Davi pelos cabelos e nadando de volta pro barco, pra longe do redemoinho.
RECORDATÓRIO: “O velho parecia um deus na água, como se ela não oferecesse resistência a ele.
Painel 7;
Ele ajuda o menino a subir no barco, empurrando-o pro alto e continuando dentro d’água.
RECORDATÓRIO: “Era forte e vigoroso como ninguém. E ainda hoje não tem pescador melhor que ele na vila.”
Painel 8;
Volta pros dois adolescentes se encarando e conversando na beira do rio.O barco e o velho já não aparecem em segundo plano, só o luar batendo na’água.
CRISTIANO: Péraí! Que conversa é essa de era? O velho tá bem...
DAVI: Tava. Já foi de novo. Ele deve ter gostado de você.
Painel 9;
Agora, mais de perto, mostramos Cristiano com cara assustada e Davi com um sorriso tímido nos lábios.
CRISTIANO: No dia em que me salvou, depois de me empurrar pro barco, seu Oscar não saiu da água.
CRISTIANO: Em noite de lua ele vem matar a saudade da aldeia e se deixa ver pelas pessoas de quem gosta.
FIM.
“PESCANDO GENTE”
A.Moraes
Painel 1;
Temos duas cabeças em primeiro plano e, entre elas, vemos um barco pequeno movendo-se num rio iluminado, impulsionado pelo remo por um velho. Os personagens que observam são dois adolescentes, Davi e Cristiano, esquerda e direita. Caracterize como quiser, ok? Oscar, o velho no barco, está muito longe pruma descrição se fazer necessária.
CRISTIANO: Nossa! Quem é esse cara?
DAVI: É o seu Oscar, Cristiano!
CRISTIANO: Mas há um minuto ele não tava ali!
DAVI: Não esquenta com isso, não, meu.
Painel 2;
Agora afasta um pouco de modo a mostrar os meninos até a cintura. Seu Oscar continua em segundo plano, remando com tranqüilidade.
DAVI: Seu Oscar é do bem. Se tô aqui hoje é por causa dele.
CRISTIANO: Mesmo, Davi?
DAVI: Só.
Painel 3;
Davi, com uns 5 anos, nadando no mesmo rio dos 2 painéis anteriores. Mostre de perto: compacto, firme, vigoroso e radiante com sua habilidade de nadador.
RECORDATÓRIO: “Eu era bem pequeno na época, mas lembro melhor disso do que do café da manhã.
RECORDATÓRIO: “O dia era quente e a água tava fresca. Perfeito prum filho de pescador.
Painel 4;
Em primeiro plano vemos, sobre os ombros de seu Oscar, ainda no barco, o menino nadando perto do redemoinho do rio. Cê não mostrou o velho antes porque o painel era um close, certo?
RECORDATÓRIO: “Tava tão contente que nem vi que nadei pra parte perigosa do rio. Nem os adultos vão lá.
RECORDATÓRIO: “A corrente me pegou e...
Painel 5;
Mostramos seu Oscar de perto, o corpo inclinado pra frente na posição de mergulho, sem camisa, peito e braços musculosos, vestindo calças brancas, cabeça com cabelos curtíssimos e brancos contrastando com a pele escura, curtida pelo sol.
RECORDATÓRIO: “... ele não pensou duas vezes.
Painel 6;
Seu Oscar segurando Davi pelos cabelos e nadando de volta pro barco, pra longe do redemoinho.
RECORDATÓRIO: “O velho parecia um deus na água, como se ela não oferecesse resistência a ele.
Painel 7;
Ele ajuda o menino a subir no barco, empurrando-o pro alto e continuando dentro d’água.
RECORDATÓRIO: “Era forte e vigoroso como ninguém. E ainda hoje não tem pescador melhor que ele na vila.”
Painel 8;
Volta pros dois adolescentes se encarando e conversando na beira do rio.O barco e o velho já não aparecem em segundo plano, só o luar batendo na’água.
CRISTIANO: Péraí! Que conversa é essa de era? O velho tá bem...
DAVI: Tava. Já foi de novo. Ele deve ter gostado de você.
Painel 9;
Agora, mais de perto, mostramos Cristiano com cara assustada e Davi com um sorriso tímido nos lábios.
CRISTIANO: No dia em que me salvou, depois de me empurrar pro barco, seu Oscar não saiu da água.
CRISTIANO: Em noite de lua ele vem matar a saudade da aldeia e se deixa ver pelas pessoas de quem gosta.
FIM.
Thursday, July 21, 2005
Sem comentários.
É tarde, não fiquei totalmente satisfeito, mas contribui como todas as outras, então:
CÁPSULAS
“EX-MISSÃO”
A.Moraes
Painel 1;
Altura normal. Eis a cena: três homens sentados ao redor de uma fogueira e conversando. O homem que aparece atrás do fogo é Jorge, um cara grande e assustador. Imagine o monstro de Frankenstein sentado diante de uma fogueira numa noite escura e pronto. Careca, com cicatrizes pelo corpo e músculos do tamanho de bolas de demolição é nosso personagem principal. Os homens que aparecem nas laterais são soldados camuflados dos pés ‘a cabeça. Se quiser, pinte os rostos dos caras também, pra evitar diferenciação. No final, de onde eles vêm isso não faz diferença. Jorge, por outro lado.
SOLDADO 1: Gostaríamos que fizesse um relato da missão, sr., pra que conste dos registros.
JORGE: Você sabe que a informação é classificada, não?
Painel 2;
Flash-back: mostramos, por cima do ombro de Jorge, ele segurando um documento em que se lê no topo VOCÊ NÃO EXISTE e letras miúdas seguidas por assinatura mais abaixo.
RECORDATÓRIO: “Estava em serviço há 3 anos quando recebi as ordens. Não posso discutir detalhes nem ser ouvido oficialmente por causa da declaração que assinei.”
RECORDATÓRIO: “Sim, sr., mas vamos ouvi-lo extra-oficialmente.”
Painel 3;
Retorna pro cenário do 1, mudando pedaços e detalhes. Jorge está com a cabeça levemente inclinada, como quando não se entende alguma coisa dita pelo interlocutor. Os soldados parecem incomodados com alguma coisa, meio como se não estivessem confortáveis.
JORGE: Ok. Sargento Jorge Stein, número de série...
SOLDADO 1: Sr., o protocolo é desnecessário em audição extra-oficial.
SOLDADO 2: Sua missão?
Painel 4;
Jorge numa taba parecida com a mostrada em “CURA”. Ele brinca de cavalinho com um grupo de crianças e seu bloco de notas está caído na lama, aberto de modo que podemos ver que ele esteve fazendo desenhos infantis sem anotar nada.
RECORDATÓRIO: “Fui enviado pra recensear as não-pessoas por motivo cuja importância ignorava.”
RECORDATÓRIO: “O objetivo foi alcançado?”
RECORDATÓRIO: “Completamente.”
Painel 5;
Jorge erguendo-se pra longe da luz da fogueira de modo que vemos suas pernas claramente mas o resto do corpo desaparece de modo gradual na escuridão. Os soldados continuam sentados mas com aquele ar incomodado que já mencionei.
SOLDADO 1: Pode apanhar suas anotações, sr.?
JORGE: Sem dúvida.
Painel 6;
Jorge já não está ‘a vista e os soldados aproveitam o momento pra tirar as armas dos coldres escondidos ‘as suas costas.
SOLDADO 1: Você acha que ele suspeita de nossa verdadeira missão?
SOLDADO 2: Não. Acho que se sente grato por ter companhia civilizada depois de tanto tempo sozinho no “grande nada”.
Painel 7;
Jorge com uma das mulheres da taba dentro de um saco de dormir. Eles se beijam ternamente.
RECORDATÓRIO: “Pensei que depois de 10 anos tinham me esquecido, que estava por conta própria.
RECORDATÓRIO: “Concluí que a missão não tinha sentido no momento em que conheci a gente daqui.
Painel 8;
Jorge de frente pra fogueira, novamente sentado, tem uma caixa de papelão no colo e suas mãos não estão ‘a vista por motivos que ficarão óbvios a seguir... os dois soldados começam a erguer suas armas.
RECORDATÓRIO: “Pacífica, acolhedora, capaz de me dar tudo que não tive trabalhando pra eles.
RECORDATÓRIO: “Decidi então que se um dia me procurassem, mentiria.
SOLDADO 2: Temos ordens de recuperar...
SOLDADO 1: O sr. está efetivamente...
Painel 9;
A caixa cai de lado e uma 9 mm aparece nas mãos de Jorge fazendo dois disparos tão rápidos que podemos ver as linhas de velocidade do braço que a move. Papéis que possam aparecer de dentro da caixa estão cobertos de desenhos infantis. As cabeças dos soldados explodem em sangue e tecido encefálico.
JORGE: ...dispensado?
JORGE: Me dispensei do serviço faz tempo.
RECORDATÓRIO: “Exceto sobre como faz mais sentido estar aqui, no meu lar, junto de outros que também não existem.”
FIM.
“EX-MISSÃO”
A.Moraes
Painel 1;
Altura normal. Eis a cena: três homens sentados ao redor de uma fogueira e conversando. O homem que aparece atrás do fogo é Jorge, um cara grande e assustador. Imagine o monstro de Frankenstein sentado diante de uma fogueira numa noite escura e pronto. Careca, com cicatrizes pelo corpo e músculos do tamanho de bolas de demolição é nosso personagem principal. Os homens que aparecem nas laterais são soldados camuflados dos pés ‘a cabeça. Se quiser, pinte os rostos dos caras também, pra evitar diferenciação. No final, de onde eles vêm isso não faz diferença. Jorge, por outro lado.
SOLDADO 1: Gostaríamos que fizesse um relato da missão, sr., pra que conste dos registros.
JORGE: Você sabe que a informação é classificada, não?
Painel 2;
Flash-back: mostramos, por cima do ombro de Jorge, ele segurando um documento em que se lê no topo VOCÊ NÃO EXISTE e letras miúdas seguidas por assinatura mais abaixo.
RECORDATÓRIO: “Estava em serviço há 3 anos quando recebi as ordens. Não posso discutir detalhes nem ser ouvido oficialmente por causa da declaração que assinei.”
RECORDATÓRIO: “Sim, sr., mas vamos ouvi-lo extra-oficialmente.”
Painel 3;
Retorna pro cenário do 1, mudando pedaços e detalhes. Jorge está com a cabeça levemente inclinada, como quando não se entende alguma coisa dita pelo interlocutor. Os soldados parecem incomodados com alguma coisa, meio como se não estivessem confortáveis.
JORGE: Ok. Sargento Jorge Stein, número de série...
SOLDADO 1: Sr., o protocolo é desnecessário em audição extra-oficial.
SOLDADO 2: Sua missão?
Painel 4;
Jorge numa taba parecida com a mostrada em “CURA”. Ele brinca de cavalinho com um grupo de crianças e seu bloco de notas está caído na lama, aberto de modo que podemos ver que ele esteve fazendo desenhos infantis sem anotar nada.
RECORDATÓRIO: “Fui enviado pra recensear as não-pessoas por motivo cuja importância ignorava.”
RECORDATÓRIO: “O objetivo foi alcançado?”
RECORDATÓRIO: “Completamente.”
Painel 5;
Jorge erguendo-se pra longe da luz da fogueira de modo que vemos suas pernas claramente mas o resto do corpo desaparece de modo gradual na escuridão. Os soldados continuam sentados mas com aquele ar incomodado que já mencionei.
SOLDADO 1: Pode apanhar suas anotações, sr.?
JORGE: Sem dúvida.
Painel 6;
Jorge já não está ‘a vista e os soldados aproveitam o momento pra tirar as armas dos coldres escondidos ‘as suas costas.
SOLDADO 1: Você acha que ele suspeita de nossa verdadeira missão?
SOLDADO 2: Não. Acho que se sente grato por ter companhia civilizada depois de tanto tempo sozinho no “grande nada”.
Painel 7;
Jorge com uma das mulheres da taba dentro de um saco de dormir. Eles se beijam ternamente.
RECORDATÓRIO: “Pensei que depois de 10 anos tinham me esquecido, que estava por conta própria.
RECORDATÓRIO: “Concluí que a missão não tinha sentido no momento em que conheci a gente daqui.
Painel 8;
Jorge de frente pra fogueira, novamente sentado, tem uma caixa de papelão no colo e suas mãos não estão ‘a vista por motivos que ficarão óbvios a seguir... os dois soldados começam a erguer suas armas.
RECORDATÓRIO: “Pacífica, acolhedora, capaz de me dar tudo que não tive trabalhando pra eles.
RECORDATÓRIO: “Decidi então que se um dia me procurassem, mentiria.
SOLDADO 2: Temos ordens de recuperar...
SOLDADO 1: O sr. está efetivamente...
Painel 9;
A caixa cai de lado e uma 9 mm aparece nas mãos de Jorge fazendo dois disparos tão rápidos que podemos ver as linhas de velocidade do braço que a move. Papéis que possam aparecer de dentro da caixa estão cobertos de desenhos infantis. As cabeças dos soldados explodem em sangue e tecido encefálico.
JORGE: ...dispensado?
JORGE: Me dispensei do serviço faz tempo.
RECORDATÓRIO: “Exceto sobre como faz mais sentido estar aqui, no meu lar, junto de outros que também não existem.”
FIM.
Wednesday, July 20, 2005
O dia.
Nenhuma surpresa, hoje não tem CÁPSULAS. Só eu reclamando da vida, já que minha folga tá pra terminar e reentro o maelström de trabalho semana que vem. Mas nem é pra tanto.
Gosto de reclamar mesmo.
Mas vou poupar todo mundo (e isso me inclui) da lenga-lenga chata que a questão trabalho se tornou nos últimos tempos.
Vou falar do que assisti hoje e do que planejei fazer no futuro imediato e deixar o futuro (ainda) remoto pro futuro e pronto.
ALIAS (Jennifer Garner - nham!) é um dos melhores seriados bobinhos que já vi. Bastante parecido com um milhão de programas e de longas assistidos 'as vezes com fervor, outras com torpor, é uma diversão melhor no formato dvd, que permite que você assista a tudo em 24 horas ininterruptas.
Claro que não fiz isso porque preciso ir ao banheiro, me alimentar e demais funções fisiológias básicas, mas o jeito que a coisa é estruturada, de modo a quase sempre terminar num cliff hanger é de tirar o chapéu. Sim, por que as misões em que a garota é enviada nunca terminam de vez, sempre são prolongadas de modo a terminar no primeiro bloco do próximo episódio. Seriados de cinema, claro.
A cereja no bolo, não são palavras minhas, é a sra. Affleck. A primeira temporada, que é o que estou assistindo, tem um gostinho de novela, 'as vezes beira o dramalhão mexicano, mas ainda assim tem pernas o bastante (opa! Ato falho) pra garantir a curiosidade pra próxima etapa.
Tem um visionário medieval que fez projetos pra, entre outras coisas, um celular. Tem o amigo jornalista que é um dos interesses românticos. Tem a situação toda de ser agente dupla e estudar pra se tornar, pasmem, professora. Depois de formada tenho certeza de que ela larga tudo e vai se dedicar só a isso, tão estafante que é. Ah, o pai da menina e a relação entre ambos é um aspecto legal. Tem o outro interesse romântico que é também o elo de ligação dela com a CIA e assim por diante. Lógico que o negócio é bem melhor amarrado como narrativa visual. Só tô dando detalhes aqui pra encher lingüiça, mesmo.
A outra parte da mensagem é aquela em que falo que depois do intervalo na maratona ALIAS escrevi plot pra mais 5 historinhas de CÁPSULAS. Isso aí. Só falta mesmo montar o esqueleto de cada uma delas, dar um título e então começar a por carne. A parte engraçada desse processo é que tenho conseguido escrever exatamente todas as histórias a que me proponho. Bolo, 'as vezes, só o título e a partir dele monto uma trama rocambolesca de uma página ou não.
Como cês já perceberam, em uma página é difícil fazer qualquer coisa rocambolesca. Tô só fazendo pressão. O máximo que consigo fazer de um jeito razoável em uma página é criar o fulcro de uma situação e bolar um jeito de sair dela em 9 painéis. O que ainda não me deixa satisfeito.
Mas eu tinha dito que não ia reclamar, então...
Pronto.
Tuesday, July 19, 2005
Enfim.
Desta vez fiquei satisfeito. Tive que reescrever um pouco, mas valeu a pena. E fiz tudo no processador de texto, sem caderno de notas, o que foi um progresso. Vá ler! Agora!
CÁPSULAS
“CURA”
A.Moraes
Painel 1;
Nemo, apoiado em seu cajado na entrada de um acampamento, um tipo de taba feito de barracas de camping. Ele usa roupas rústicas, costuradas ‘a mão. Várias pessoas, mulheres e crianças em sua maioria, saem para saudá-lo. Uma das mulheres adianta-se.
RECORDATÓRIO: “Nada grave. Controlamos as doenças com higiene, boa alimentação, atividade física e ervas medicinais.
RECORDATÓRIO: “Exceto, é claro, que pode ser sério.
MULHER: Senhor, por aqui, por favor...
Painel 2;
Nemo na entrada de uma das barracas, segurando a aba que serve como porta levantada enquanto examina o interior escuro do lugar.
AVÓ(OP): É você, Sem-nome?
RECORDATÓRIO:”Ela me chama assim porque lhe disse que meu nome é Nemo – Ninguém –
RECORDATÓRIO: “é uma velha sábia.
Painel 3;
Nemo curvado dentro da tenda está diante de uma mulher muito, mas muito velha, que troca a compressa da cabeça de uma menina de, no máximo, 7 anos.
NEMO: Sim, Avó!
AVÓ: Bem-vindo.
NEMO: Como ela está?
AVÓ: Perdida numa floresta de pesadelos.
RECORDATÓRIO: “Como eu disse, sábia. Ela tem o dom, apesar de não tê-lo desenvolvido.
Painel 4;
Nemo acocorado ao lado da menina de modo a ficar de frente pra velha.
NEMO: Permita-me.
AVÓ: Vá em frente.
RECORDATÓRIO: “O toque serve para estabelecer contato e ampliar minha percepção sobre o enfermo.
Painel 5;
Faça um daqueles painéis metafísicos, com os olhos de Nemo flutuando soltos no painel e uma silhueta se formando ao redor deles, enquanto a menina aparece acocorada ao lado de um rio desenterrando uma batata. O rio é bastante escuro e animais mortos flutuam por ali.
RECORDATÓRIO:”’As vezes é o bastante pra descobrir males de ordem... espiritual.
RECORDATÓRIO: “A imagem recebida é um símbolo que não deve ser interpretado literalmente.
Painel 6;
A menina come a batata com voracidade, enquanto uma versão idealizada e totalmente formada de Nemo, uma versão sonhada dele mesmo, acompanha tudo.
RECORDATÓRIO: “Deve ser traduzido de acordo com o contexto em que é encontrado.
RECORDATÓRIO: “Um dia vou poder explicar como faço isso.
Painel 7;
Ainda no tempo dos sonhos, Nemo segura a menina de modo que ela fique curvada sobre o próprio abdome e insere dois dedos em sua boca, provocando vômito.
RECORDATÓRIO: “A tradição foi passada de geração em geração, mas não há lógica em sonhos lúcidos.
RECORDATÓRIO: “Conservar a consciência e partilhar o tempo dos sonhos de outra pessoa.
Painel 8;
A menina deitada de olhos abertos, visivelmente melhor, sorri para Nemo, que já está em pé e se prepara pra sair da barraca. A avó a seu lado.
AVÓ: O que houve?
NEMO: Ela se alimentou com imundície do rio que sai da cúpula. Imundície espiritual do campo dos sonhos.
Painel 9;
Nemo, agora, já está na porta da barraca e tem a aba erguida pra usa saída, mas volta o rosto pra Avó mais uma vez.
NEMO: Sonhos que não brotaram e apodreceram, viraram veneno.
NEMO: Avó de todos os homens, cuide pra que ela descanse e não vá mais ‘a floresta de pesadelos.
AVÓ: Será feito, Sem-nome.
RECORDATÓRIO: “Há detritos de outro mundo vazando por canais invisíveis no nosso.
RECORDATÓRIO: “É meu dever proteger a tribo.”
FIM.
“CURA”
A.Moraes
Painel 1;
Nemo, apoiado em seu cajado na entrada de um acampamento, um tipo de taba feito de barracas de camping. Ele usa roupas rústicas, costuradas ‘a mão. Várias pessoas, mulheres e crianças em sua maioria, saem para saudá-lo. Uma das mulheres adianta-se.
RECORDATÓRIO: “Nada grave. Controlamos as doenças com higiene, boa alimentação, atividade física e ervas medicinais.
RECORDATÓRIO: “Exceto, é claro, que pode ser sério.
MULHER: Senhor, por aqui, por favor...
Painel 2;
Nemo na entrada de uma das barracas, segurando a aba que serve como porta levantada enquanto examina o interior escuro do lugar.
AVÓ(OP): É você, Sem-nome?
RECORDATÓRIO:”Ela me chama assim porque lhe disse que meu nome é Nemo – Ninguém –
RECORDATÓRIO: “é uma velha sábia.
Painel 3;
Nemo curvado dentro da tenda está diante de uma mulher muito, mas muito velha, que troca a compressa da cabeça de uma menina de, no máximo, 7 anos.
NEMO: Sim, Avó!
AVÓ: Bem-vindo.
NEMO: Como ela está?
AVÓ: Perdida numa floresta de pesadelos.
RECORDATÓRIO: “Como eu disse, sábia. Ela tem o dom, apesar de não tê-lo desenvolvido.
Painel 4;
Nemo acocorado ao lado da menina de modo a ficar de frente pra velha.
NEMO: Permita-me.
AVÓ: Vá em frente.
RECORDATÓRIO: “O toque serve para estabelecer contato e ampliar minha percepção sobre o enfermo.
Painel 5;
Faça um daqueles painéis metafísicos, com os olhos de Nemo flutuando soltos no painel e uma silhueta se formando ao redor deles, enquanto a menina aparece acocorada ao lado de um rio desenterrando uma batata. O rio é bastante escuro e animais mortos flutuam por ali.
RECORDATÓRIO:”’As vezes é o bastante pra descobrir males de ordem... espiritual.
RECORDATÓRIO: “A imagem recebida é um símbolo que não deve ser interpretado literalmente.
Painel 6;
A menina come a batata com voracidade, enquanto uma versão idealizada e totalmente formada de Nemo, uma versão sonhada dele mesmo, acompanha tudo.
RECORDATÓRIO: “Deve ser traduzido de acordo com o contexto em que é encontrado.
RECORDATÓRIO: “Um dia vou poder explicar como faço isso.
Painel 7;
Ainda no tempo dos sonhos, Nemo segura a menina de modo que ela fique curvada sobre o próprio abdome e insere dois dedos em sua boca, provocando vômito.
RECORDATÓRIO: “A tradição foi passada de geração em geração, mas não há lógica em sonhos lúcidos.
RECORDATÓRIO: “Conservar a consciência e partilhar o tempo dos sonhos de outra pessoa.
Painel 8;
A menina deitada de olhos abertos, visivelmente melhor, sorri para Nemo, que já está em pé e se prepara pra sair da barraca. A avó a seu lado.
AVÓ: O que houve?
NEMO: Ela se alimentou com imundície do rio que sai da cúpula. Imundície espiritual do campo dos sonhos.
Painel 9;
Nemo, agora, já está na porta da barraca e tem a aba erguida pra usa saída, mas volta o rosto pra Avó mais uma vez.
NEMO: Sonhos que não brotaram e apodreceram, viraram veneno.
NEMO: Avó de todos os homens, cuide pra que ela descanse e não vá mais ‘a floresta de pesadelos.
AVÓ: Será feito, Sem-nome.
RECORDATÓRIO: “Há detritos de outro mundo vazando por canais invisíveis no nosso.
RECORDATÓRIO: “É meu dever proteger a tribo.”
FIM.
Monday, July 18, 2005
Um troço.
Fiz uma dessas coisas que dão nome ao registro de hoje.
Significando que escrevi quelque chose e me dei por satisfeito. Pior, cheguei até a publicar essa qualquer coisa, ignorando totalmente o padrão de ter certeza de que a história tava funcional, pelo menos, em um nível.
Daí voltei atrás e deletei a desgraçada.
Mesmo. Sem piedade.
É isso. Decidi faz muito tempo que a autocrítica é uma ferramenta a ser usada pra construir melhores histórias e a que fiz hoje não se enquadrava nos critérios a que me propus.
A idéia tá lá, há uma estrutura também, mas algo se perdeu no processo, algo que só vou descobrir depois de revisar o manuscrito. Melhor mesmo fazer o que tinha dito que faria, ou seja, recuar, reagrupar e partir pro ataque outra vez.
Estive, inclusive, pensando em como tenho sido crítico com material estrangeiro e como tenho sido benevolente com meu próprio material. Gostar do que estou fazendo não significa em absoluto que o que estou fazendo é bom pra mais alguém além de mim mesmo. É uma daquelas coisas que o ego inflado faz qualquer um perder de vista na primeira oportunidade.
Melhor continuar agindo como velho, com cuidado por causa da osteoporose e a possibilidade de fraturas expostas do que fazer por fazer.
Se tiver conseguido consertar minha argumentação quebrada até amanhã, publico a bagaça. Se não vai pro lixo, pra ser reaproveitada num futuro próximo ou distante.
É...
...pensei em ir dormir sem escrever nada, mas não adianta, vivou vício... quer dizer, nem tanto.
Registrar coisas num lugar acessível a outrem é meio que terapia, boa terapia. Ajuda a desobstruir canais e dá aquela sensação de estar comunicando mesmo que o triângulo da comunicação não se forme com o feedback de quem lê pela falta de comentários. Vou explicar isso porque me perguntaram uma vez e acho que uma vez é suficiente pra justificar uma explicação. Não muito detalhada, porque alguns aspectos do blog ainda me escapam, mas suficiente, acho.
Quando os comentários tão ativos, a atualização não funciona no momento que a faço. Ela sofre um atraso e não me perguntem por quê, que não sei, assumo minha ignorância. Se você tem lido o blog e sentido vontade de comentar alguma coisa, pode entrar em contato através do e-mail que vou colocar no fim desta mensagem. Por favor, não mande spam porque ele será simplesmente filtrado pelo anti-spam e deletado subseqüentemente.
Assim, depois da segunda historinha do segundo ciclo, vou precisar tirar um ou dois dias pra reorganizar as forças e retomar o ataque. Nada de espetacular vai acontecer. O tipo de história vai ser o mesmo, vou tentar pensar em jeitos criativos de inovar sempre e, assim que divisar um modo, tentar fugir da grade de nove painéis. Uma opção que me ocorreu pra lidar com as historinhas que já foram completadas é transformá-las em histórias de duas páginas com cinco painéis cada, o que chamo de "não-grade" porque fica a critério do desenhista como organizar os cinco painéis e pode trazer mais criatividade ao modo de narrar, também.
Cinco painéis podem ser feitos até como 5 tiras se o desenhista estiver num mood Quitely e sentir-se inspirado. Enfim, abre essa frente pro artista participar mais autoralmente da narrativa.
Em outra frente, terminei de ler 20 MIL LÉGUAS e comecei o terceiro cavalheiro de minha Liga preferida, O HOMEM INVISÍVEL, do sr, Wells, muito em voga ultimamente por conta da adaptação de Spielberg de um outro livro seu.
Pensando bastante a respeito de como o olhar da gente pode ser preguiçoso e deixar escapar detalhes em qualquer coisa examinada apenas uma vez. Acabei de reler ORBITER, de Ellis e Doran e (re)descobri uma graça daquela gn que talvez tenha me escapado 'a primeira leitura.
Mais elocubrações que provavelemente não vão levar a nada: descobri o estilo que o desenhista da minha adaptação de clássico pré-modernista vai precisar adotar pra bagaça ser aprovada. E não é oriundo dos quadrinhos.
No mais, no more.
O e-mail é AbsMoraes . Se se sentir inclinado, não deixe de escrever um par de linhas.
Saturday, July 16, 2005
Independente.
O que tenho gostado do novo ciclo de histórias é resultado direto de não precisar lidar diretamente com a opressão do SISTEMA, já que elas acontecem no exterior do seu perímetro. Daí a leveza com que se pode abordar cada uma que, independente disso, também contribuem com peças importantes do quebra-cabeças. Isso facilitou também em um outro aspecto: os painéis deixaram de ser só ilustrações pros textos mais densos e passaram a contar a história também. Além disso, a chance de escrever mais pessoas (e animais) falando deu uma nova energia 'a visão original.
Ah, a transmissão de hoje:
CÁPSULAS
“A INCRÍVEL JORNADA”
A.Moraes
Painel 1;
Estabelecendo o cenário: vemos as duas paredes do “consultório psicológico” na lateral direita do painel e na linha inferior. Alojado nesse vão está o típico divã de psicanalista onde se deita nosso personagem principal (!), José. Perto de sua cabeceira, a poltrona em que o médico costuma postar-se e emitir grunhidos ininteligíveis.
JOSÉ: Sabe, Doutor, a verdade é que me sinto muito só.
DOUTOR(OP): Rrr...
JOSÉ: Sem ofensa a você, claro! Tô só generalizando.
Painel 2;
José, na mesma posição do painel anterior, gesticula enquanto fala.
JOSÉ: Acho que tem a ver com essa jornada, essa viagem que não termina nunca...
JOSÉ: ...sinto falta de conhecer pessoas mais intimamente.
Painel 3;
Repete o anterior, com José se apoiando no cotovelo pra olhar na direção do “médico” que não mostramos.
JOSÉ: E tem o conforto do silêncio, sabe, quando você conhece alguém tão bem que pode ficar calado com a pessoa ali, sem precisar dizer nada...
DOUTOR: Rrr...
Painel 4;
Repete com José voltando a deitar sobre as costas.
JOSÉ: Entendi...
JOSÉ: Sei que preciso de outros pra ser um indivíduo! Como é que alguém poderia ser um se não existem mais?
Painel 5;
Mostramos só a cabeça de José. Ele tem uns 40 anos, a linha do cabelo recuada e a expressão marcada pelas rugas características de quem vive sob sol intenso, acostumado ‘as intempéries.
DOUTOR: Rrr...
JOSÉ: Pois é. Bom que cê entende, Doutor! Então, tudo que eu preciso fazer pra ser alguém diferente dos outros é encontrá-los.
JOSÉ: Enquanto isso não posso ser eu.
Painel 6;
Ele gesticula de modo que suas mãos entrem no requadro do último painel, tornando-o, assim, este. Rá!
JOSÉ: Daí a sensação de impotência... quer dizer, como é que vou mostrar que posso alguma coisa sem ninguém pra ver?
Painel 7;
Mostra o céu totalmente nublado, raios partindo a massa acinzentada.
JOSÉ(OP): Isso soa engraçado, né?
DOUTOR(OP): Rrr!
JOSÉ(OP): Acabou o tempo?
Painel 8;
Doutor, o rusky siberiano de José, entra em cena neste aqui, lambendo a face do dono. O cachorro tem uma armação de óculos amarrada na frente dos olhos, o que lhe dá uma aparência engraçada.
JOSÉ: Também acho melhor a gente ir, Doutor. Parece que vai cair um temporal daqueles...
DOUTOR: Au-au!!!
Painel 9;
Sabe a carta O LOUCO, do tarot? Faça aqui uma homenagem a ela, certo? José vai andando na frente, com uma mochila presa a um dos ombros e Doutor dá pulinhos ‘as suas costas enquanto eles abandonam o “consultório”, que na verdade só tem aquelas duas paredes mostradas no painel 1 em pé além do divã e da poltrona. O resto são ruínas.
RECORDATÓRIO: Qualquer pessoa classificada como mentalmente instável tem a memória apagada e é exilada pelo SISTEMA.
FIM.
“A INCRÍVEL JORNADA”
A.Moraes
Painel 1;
Estabelecendo o cenário: vemos as duas paredes do “consultório psicológico” na lateral direita do painel e na linha inferior. Alojado nesse vão está o típico divã de psicanalista onde se deita nosso personagem principal (!), José. Perto de sua cabeceira, a poltrona em que o médico costuma postar-se e emitir grunhidos ininteligíveis.
JOSÉ: Sabe, Doutor, a verdade é que me sinto muito só.
DOUTOR(OP): Rrr...
JOSÉ: Sem ofensa a você, claro! Tô só generalizando.
Painel 2;
José, na mesma posição do painel anterior, gesticula enquanto fala.
JOSÉ: Acho que tem a ver com essa jornada, essa viagem que não termina nunca...
JOSÉ: ...sinto falta de conhecer pessoas mais intimamente.
Painel 3;
Repete o anterior, com José se apoiando no cotovelo pra olhar na direção do “médico” que não mostramos.
JOSÉ: E tem o conforto do silêncio, sabe, quando você conhece alguém tão bem que pode ficar calado com a pessoa ali, sem precisar dizer nada...
DOUTOR: Rrr...
Painel 4;
Repete com José voltando a deitar sobre as costas.
JOSÉ: Entendi...
JOSÉ: Sei que preciso de outros pra ser um indivíduo! Como é que alguém poderia ser um se não existem mais?
Painel 5;
Mostramos só a cabeça de José. Ele tem uns 40 anos, a linha do cabelo recuada e a expressão marcada pelas rugas características de quem vive sob sol intenso, acostumado ‘as intempéries.
DOUTOR: Rrr...
JOSÉ: Pois é. Bom que cê entende, Doutor! Então, tudo que eu preciso fazer pra ser alguém diferente dos outros é encontrá-los.
JOSÉ: Enquanto isso não posso ser eu.
Painel 6;
Ele gesticula de modo que suas mãos entrem no requadro do último painel, tornando-o, assim, este. Rá!
JOSÉ: Daí a sensação de impotência... quer dizer, como é que vou mostrar que posso alguma coisa sem ninguém pra ver?
Painel 7;
Mostra o céu totalmente nublado, raios partindo a massa acinzentada.
JOSÉ(OP): Isso soa engraçado, né?
DOUTOR(OP): Rrr!
JOSÉ(OP): Acabou o tempo?
Painel 8;
Doutor, o rusky siberiano de José, entra em cena neste aqui, lambendo a face do dono. O cachorro tem uma armação de óculos amarrada na frente dos olhos, o que lhe dá uma aparência engraçada.
JOSÉ: Também acho melhor a gente ir, Doutor. Parece que vai cair um temporal daqueles...
DOUTOR: Au-au!!!
Painel 9;
Sabe a carta O LOUCO, do tarot? Faça aqui uma homenagem a ela, certo? José vai andando na frente, com uma mochila presa a um dos ombros e Doutor dá pulinhos ‘as suas costas enquanto eles abandonam o “consultório”, que na verdade só tem aquelas duas paredes mostradas no painel 1 em pé além do divã e da poltrona. O resto são ruínas.
RECORDATÓRIO: Qualquer pessoa classificada como mentalmente instável tem a memória apagada e é exilada pelo SISTEMA.
FIM.
Friday, July 15, 2005
BRIAN WOOD'S DMZ
NEWSARAMA.COM: SDCC DAY 2 � BRIAN WOOD ON HIS NEW VERTIGO SERIES DMZ
É o que sempre digo... um gibi tem que ter de tudo.
É o que sempre digo... um gibi tem que ter de tudo.
O formato é o mesmo, maaas...
Tentei mexer no número de painéis, mas ainda não consegui dar jeito. Mas garanto que essa é diferente no tom das demais e marca mesmo uma mudança de ciclo tanto quanto a última do primeiro.
CÁPSULAS
“TERRÍVEL SIMETRIA”
A.Moraes
Painel 1;
Em primeiro plano, presa a uma forquilha (tronco e galho lateral de uma árvore) vemos uma teia de aranha que acaba de apanhar uma mosca bem em seu centro. Em segundo plano vemos, bem pequeno, vindo através da vegetação rasteira, uma pessoa ainda não identificável.
MOSCA: Minhas asas!
Painel 2;
Em primeiro plano, a aranha desce até a mosca rapidamente, em segundo o homem está mais próximo, o suficiente pra sabermos que se trata de um bípede implume.
MOSCA: Por favor! Tem algo errado com minhas asas!
ARANHA: Em primeiro, bom-dia, minha cara!
Painel 3;
Em primeiro plano, a aranha segura a mosca cuidadosamente em suas patas dianteiras enquanto puxa o fio de teia produzido no fim de seu abdômen com as traseiras. Agora, a figura em segundo plano já pode ser identificada como uma fêmea da espécie humana.
ARANHA: Poderia, também, lhe dizer que tenho uma notícia boa e outra má a dar, mas detesto clichês.
MOSCA: O que é um clichê?
Painel 4;
A aranha começa a envolver a mosca com seu fio em primeiro plano. Em segundo, a mulher pára a meio caminho entre o painel 1 e o último, e põe a mão em aba sobre os olhos a fim de conseguir alguma sombra e enxergar mais longe.
ARANHA: Clichê seria se eu dissesse: a boa é que não tem nada errado com suas asas!
MOSCA: Sério?
Painel 5;
A aranha já enrolou a mosca até metade do corpo, mas ainda não envolveu suas asas. A mulher, agora mais perto, continua sendo uma completa estranha, mas usa calças largas, uma camiseta babylook e um lenço amarrado ‘a cabeça.
ARANHA: Sério! Agora, por que você não fica quietinha e observa o rigor do meu trabalho de tecelã enquanto eu termino aqui, hã?
MOSCA: O que uma tecelã faz?
Painel 6;
A aranha faz uma pausa aqui, olhando pra trás, já que a cabeça da mulher se aproxima perigosamente da teia.
ARANHA: Tecidos, ora!
ARANHA: Que raio é...
Painel 7;
A mulher enrosca-se na teia, rompendo-a com a mão. A mosca escapa zunindo e a aranha despenca pro chão.
ARANHA: Minha casaaa!!!
MOSCA: É um milagre! Minhas asas voltaram a funcionar!
MULHER: Merda de teia!
Painel 8;
A mulher, agora de costas pro leitor, afasta-se. A mosca a segue, zumbindo ao seu lado.
MOSCA: Uau! Você é bem grande, né?
MOSCA: Me deixa adivinhar seu nome: Deus, acertei?
Painel 9;
Mesma imagem do anterior, mas mais distante do leitor e com a mulher tangendo a mosca.
MOSCA: Sabe, eu sempre imaginei que você teria asas e mais patas...
MULHER (PENSA): De onde veio essa coisa nojenta?
RECORDATÓRIO: Uma das medidas tomadas nos primeiros dias do SISTEMA foi o banimento do perímetro urbano de animais e insetos considerados perniciosos.
FIM.
“TERRÍVEL SIMETRIA”
A.Moraes
Painel 1;
Em primeiro plano, presa a uma forquilha (tronco e galho lateral de uma árvore) vemos uma teia de aranha que acaba de apanhar uma mosca bem em seu centro. Em segundo plano vemos, bem pequeno, vindo através da vegetação rasteira, uma pessoa ainda não identificável.
MOSCA: Minhas asas!
Painel 2;
Em primeiro plano, a aranha desce até a mosca rapidamente, em segundo o homem está mais próximo, o suficiente pra sabermos que se trata de um bípede implume.
MOSCA: Por favor! Tem algo errado com minhas asas!
ARANHA: Em primeiro, bom-dia, minha cara!
Painel 3;
Em primeiro plano, a aranha segura a mosca cuidadosamente em suas patas dianteiras enquanto puxa o fio de teia produzido no fim de seu abdômen com as traseiras. Agora, a figura em segundo plano já pode ser identificada como uma fêmea da espécie humana.
ARANHA: Poderia, também, lhe dizer que tenho uma notícia boa e outra má a dar, mas detesto clichês.
MOSCA: O que é um clichê?
Painel 4;
A aranha começa a envolver a mosca com seu fio em primeiro plano. Em segundo, a mulher pára a meio caminho entre o painel 1 e o último, e põe a mão em aba sobre os olhos a fim de conseguir alguma sombra e enxergar mais longe.
ARANHA: Clichê seria se eu dissesse: a boa é que não tem nada errado com suas asas!
MOSCA: Sério?
Painel 5;
A aranha já enrolou a mosca até metade do corpo, mas ainda não envolveu suas asas. A mulher, agora mais perto, continua sendo uma completa estranha, mas usa calças largas, uma camiseta babylook e um lenço amarrado ‘a cabeça.
ARANHA: Sério! Agora, por que você não fica quietinha e observa o rigor do meu trabalho de tecelã enquanto eu termino aqui, hã?
MOSCA: O que uma tecelã faz?
Painel 6;
A aranha faz uma pausa aqui, olhando pra trás, já que a cabeça da mulher se aproxima perigosamente da teia.
ARANHA: Tecidos, ora!
ARANHA: Que raio é...
Painel 7;
A mulher enrosca-se na teia, rompendo-a com a mão. A mosca escapa zunindo e a aranha despenca pro chão.
ARANHA: Minha casaaa!!!
MOSCA: É um milagre! Minhas asas voltaram a funcionar!
MULHER: Merda de teia!
Painel 8;
A mulher, agora de costas pro leitor, afasta-se. A mosca a segue, zumbindo ao seu lado.
MOSCA: Uau! Você é bem grande, né?
MOSCA: Me deixa adivinhar seu nome: Deus, acertei?
Painel 9;
Mesma imagem do anterior, mas mais distante do leitor e com a mulher tangendo a mosca.
MOSCA: Sabe, eu sempre imaginei que você teria asas e mais patas...
MULHER (PENSA): De onde veio essa coisa nojenta?
RECORDATÓRIO: Uma das medidas tomadas nos primeiros dias do SISTEMA foi o banimento do perímetro urbano de animais e insetos considerados perniciosos.
FIM.
Thursday, July 14, 2005
Backburner.
Ou boca de trás do fogão. É o lugar onde CÁPSULAS fica por hoje, imagino, enquanto faço aqui o registro diário dos trabalhos desenvolvidos em chez Abs.
Nenhuma novidade, pode ter certeza, mas mais uma pausa dramática (desnecessária pra alguns) que eu precisava fazer pra adquirir firmeza suficiente nos dedos a fim de voltar a empunhar a caneta e escrever qualquer coisa. O frio hoje não tá perdoando e já penso num par extra de meias.
De qualquer jeito e eliminando impiedosamente essa fala banal de uma vez por todas, acho que estou no mood certo de embromar, sabe como é? Encher lingüiça, mesmo... mas com alguma categoria.
O fato é que me peguei pensando em como CÁPSULAS de repente ficou parecido com outro projeto finado, também de história mais longa, que tinha o título planejado de CARTAS NA MESA.
A premissa era das mais bobas e bem condizente com minha mentalidade na época: um escritor morto encontra-se numa sala escura de um cassino indeterminado conversando com um indivíduo desconhecido. Óbvio que o escritor não sabe que está morto, não sabe que o desconhecido é o diabo e muito menos que o cassino é um dos muitos cantinhos particulares do inferno.
Aliás, ele não sabe de nada, nem mesmo de como foi parar ali.
O diabo, como é de sua natureza, lhe oferece um trato ou pacto, se preferir: responde 'as perguntas do escritor desde que ele lhe conte histórias. "Pra passar o tempo, sabe?", é a justificativa que ele dá.
O outro aquiesce, mas diz que não tem material sobre o qual trabalhar, que não consegue gerar suas idéias espontaneamente e que precisa de estímulo externo pra tanto.
O diabo, então, saca um set de tarot e dá quatro cartas, uma 'a cada vez, sobre as quais o escritor deve produzir suas histórias.
Como na época eu era totalmente ingênuo a respeito de como desenvolver um projeto maior e mais ambicioso, esse me pareceu um recurso digno o bastante pra construir uma trama que não fosse somente peças soltas e sem sentido de uma história maior. Algo que aprendi a partir do momento que tive contato com THE TATOOED MAN e o DECAMERON. Originalidade? Ora, francamente...
Tudo isso pra falar da história que a Torre da destruição me inspirou. Quer dizer, pra não falar, já que se disser qualquer coisa vou estragar completamente qualquer surpresa possível do que está por vir em CÁPSULAS.
Acho que escrevi tudo isso por gostar de saber de onde vem a ficção que costumo ler. E espero, evidentemente, que o leitor tire algum prazer dessa divagação sem pé nem cabeça.
Wednesday, July 13, 2005
Diferente.
Nada mais vai ser o mesmo depois desta. Acho que já tinha dito que haveria um esquema de ciclos de 9 historinhas e uma mudança de abordagem a cada ciclo, não? Bom, esta é a nona do primeiro ciclo. Daí o que quer que apareça de agora pra frente deve ter um sabor (estou trabalhando nisso) diferente. Com o fim do ciclo arrumei também uma boa desculpa pra quebrar regrinhas que tinha estabelecido ou que foram se estabelecendo subrepticiamente nas histórias anteriores. Quero tentar mexer um pouco mais na narrativa, torná-la mais dinâmica e tentar dar um jeito de diminuir ou aumentar o número de painéis por página. Se vou conseguir são outros quinhentos completamente diferentes. Mais sobre isso conforme eu for definindo.
CÁPSULAS
“FUGA”
A.Moraes
Painel 1;
Pandemônio na sala dos monitores. Um deles grita no headset, assustado, enquanto outros homens com uniformes militares e rifles se preparam pra sair.
MONITOR: É o cliente 17.011.971! O aparato em sua cama falhou e ele o viu!
MONITOR: Não, não está mais na casa!
RECORDATÓRIO: Depois de décadas de funcionamento impecável, uma falha no SISTEMA.
Painel 2;
Vista aérea, a primeira, de Abel correndo de madrugada pelas ruas desertas com um ar de medo palpável expresso em seus movimentos... corre olhando pra trás.
RECORDATÓRIO: Os monitores só conseguem pensar em uma coisa: O que fazer?
RECORDATÓRIO: Afinal é uma situação inédita.
ABEL: Não é real!
Painel 3;
Aproximamos de Abel na altura normal, ainda correndo, mas agora de frente pro leitor. Tem mais de 30 anos e veste calça de abrigo, tênis de corrida e uma camiseta escura. Um cara comum.
RECORDATÓRIO: Correias e grilhões brotando da cama em que você costuma dormir...
RECORDATÓRIO: ...a negação de Abel é perfeitamente aceitável.
Painel 4;
Guardas como os vistos no painel 1 aparecem num entroncamento que Abel acabou de atravessar e começam imediatamente a persegui-lo.
RECORDATÓRIO: Ele quer voltar pra casa e provar seu engano.
GUARDAS: Ali! O homem vai fugir!
RECORDATÓRIO: Mas sabe que não vai fazer isso. Que um ciclo se fechou no momento exato de sua visão.
Painel 5;
Abel visto pelo pdv de um dos guardas. O sujeito está apontando um rifle pra suas costas.
GUARDA 1: O que eu faço agora, porra?
GUARDA 2: ATIRA!
RECORDATÓRIO: Uma era de inocência.
RECORDATÓRIO: O que o mantém em movimento é o medo irracional de um tempo anterior ‘a lei e ‘a ordem.
Painel 6;
Abel sai do caminho do tiro e mostramos que o projétil é um dardo tranqüilizante.
GUARDA 1(OFF PANEL): Caralho, não fui treinado pra isso!
GUARDA 2(OFF PANEL): Nenhum de nós foi!
RECORDATÓRIO: Sobrevivência.
RECORDATÓRIO: O instinto desnecessário no conforto do SISTEMA...
Painel 7;
Nos limites da cidade, a perseguição continua. Abel ‘a frente, os guardas perdendo terreno a cada minuto. Todos afastando-se da iluminação artificial para uma penumbra que, mais adiante, se transforma em escuridão.
RECORDATÓRIO: ...é seu único guia agora.
RECORDATÓRIO: Abel se congratula incontáveis vezes por não ter vícios e exercitar-se sempre.
Painel 8;
Vários guardas apontando seus respectivos rifles pra Abel enquanto ele chega perto do limite escuro da cidade. O que há além dele não vamos mostrar por ora.
RECORDATÓRIO: Ele sente o peito afogueado e a mente focada. Sabe que a perseguição está no fim.
GUARDA 1: Se ele alcançar os limites da cidade vai estar perdido pra nós!
Painel 9;
Do pdv dos guardas, mostramos Abel desaparecendo na escuridão enquanto vários disparos são feitos.
RECORDATÓRIO: Só há uma coisa que importa a Abel agora: “Como vai ser?”
GUARDA 2: É melhor avisar a central! Vamos precisar reescrever muitas memórias e apagar esse desgraçado da existência!
RECORDATÓRIO: “Nunca como antes”, é a reposta que obtém.
FIM.
“FUGA”
A.Moraes
Painel 1;
Pandemônio na sala dos monitores. Um deles grita no headset, assustado, enquanto outros homens com uniformes militares e rifles se preparam pra sair.
MONITOR: É o cliente 17.011.971! O aparato em sua cama falhou e ele o viu!
MONITOR: Não, não está mais na casa!
RECORDATÓRIO: Depois de décadas de funcionamento impecável, uma falha no SISTEMA.
Painel 2;
Vista aérea, a primeira, de Abel correndo de madrugada pelas ruas desertas com um ar de medo palpável expresso em seus movimentos... corre olhando pra trás.
RECORDATÓRIO: Os monitores só conseguem pensar em uma coisa: O que fazer?
RECORDATÓRIO: Afinal é uma situação inédita.
ABEL: Não é real!
Painel 3;
Aproximamos de Abel na altura normal, ainda correndo, mas agora de frente pro leitor. Tem mais de 30 anos e veste calça de abrigo, tênis de corrida e uma camiseta escura. Um cara comum.
RECORDATÓRIO: Correias e grilhões brotando da cama em que você costuma dormir...
RECORDATÓRIO: ...a negação de Abel é perfeitamente aceitável.
Painel 4;
Guardas como os vistos no painel 1 aparecem num entroncamento que Abel acabou de atravessar e começam imediatamente a persegui-lo.
RECORDATÓRIO: Ele quer voltar pra casa e provar seu engano.
GUARDAS: Ali! O homem vai fugir!
RECORDATÓRIO: Mas sabe que não vai fazer isso. Que um ciclo se fechou no momento exato de sua visão.
Painel 5;
Abel visto pelo pdv de um dos guardas. O sujeito está apontando um rifle pra suas costas.
GUARDA 1: O que eu faço agora, porra?
GUARDA 2: ATIRA!
RECORDATÓRIO: Uma era de inocência.
RECORDATÓRIO: O que o mantém em movimento é o medo irracional de um tempo anterior ‘a lei e ‘a ordem.
Painel 6;
Abel sai do caminho do tiro e mostramos que o projétil é um dardo tranqüilizante.
GUARDA 1(OFF PANEL): Caralho, não fui treinado pra isso!
GUARDA 2(OFF PANEL): Nenhum de nós foi!
RECORDATÓRIO: Sobrevivência.
RECORDATÓRIO: O instinto desnecessário no conforto do SISTEMA...
Painel 7;
Nos limites da cidade, a perseguição continua. Abel ‘a frente, os guardas perdendo terreno a cada minuto. Todos afastando-se da iluminação artificial para uma penumbra que, mais adiante, se transforma em escuridão.
RECORDATÓRIO: ...é seu único guia agora.
RECORDATÓRIO: Abel se congratula incontáveis vezes por não ter vícios e exercitar-se sempre.
Painel 8;
Vários guardas apontando seus respectivos rifles pra Abel enquanto ele chega perto do limite escuro da cidade. O que há além dele não vamos mostrar por ora.
RECORDATÓRIO: Ele sente o peito afogueado e a mente focada. Sabe que a perseguição está no fim.
GUARDA 1: Se ele alcançar os limites da cidade vai estar perdido pra nós!
Painel 9;
Do pdv dos guardas, mostramos Abel desaparecendo na escuridão enquanto vários disparos são feitos.
RECORDATÓRIO: Só há uma coisa que importa a Abel agora: “Como vai ser?”
GUARDA 2: É melhor avisar a central! Vamos precisar reescrever muitas memórias e apagar esse desgraçado da existência!
RECORDATÓRIO: “Nunca como antes”, é a reposta que obtém.
FIM.
Tuesday, July 12, 2005
Nova.
Terminei o primeiro tratamento desta ontem e fiz um segundo enquanto tentava conciliar o sono. Quando terminei, satisfeito, adormeci de vez. Hoje, enquanto digitava o material, fiz os últimos ajustes e, voilá, prontinho, como sempre.
CÁPSULAS
“COMUNHÃO”
A.Moraes
Painel 1;
O gato aparece aqui sendo estrangulado por mãos firmes, vestidas em luvas de pedreiro que, ainda assim, não impedem sua reação automática de arranhar.
RECORDATÓRIO: “É minha terapia”, ele ouve a própria voz dizendo enquanto cerra os dedos.
RECORDATÓRIO: “Se não posso purgar a terra do verdadeiro demônio, mato suas crias”, acrescenta.
Painel 2;
Vemos o padre Willian pela primeira vez. O gato, agora inerte, está sendo jogado numa lata de lixo, segurado pelo rabo. Não descrevi o padre, né? Bom, use um modelo básico qualquer, de preferência com aquela porrinha na gola, feito?
RECORDATÓRIO: Antes de descobrir o segredo o padre Willian era bastante progressivo.
Painel 3;
O padre removendo a luva da mão esquerda. Mostre que o gato lutou bravamente e a estropiou um pouco.
RECORDATÓRIO: Depois de saber, teve o primeiro de uma série de colapsos nervosos, tentou esclarecer as coisas com seus superiores...
Painel 4;
Ele se ajoelha na nave da igreja e reza.
RECORDATÓRIO: ...e recebeu ordens expressas de manter silêncio.
RECORDATÓRIO: A igreja tinha segredos há séculos...
Painel 5;
Close no homem rezando. Uma lágrima rola por sua face.
RECORDATÓRIO: ...e sabia mantê-los.
RECORDATÓRIO: Sem poder falar com ninguém sobre o assunto, refugiou-se em seus estudos.
Painel 6;
O padre estudando livros antiquados ‘a luz de velas em seu gabinete. Tudo muito sinistro, mas mais ainda a expressão do homem, evidentemente enlouquecido.
RECORDATÓRIO: Por causa da natureza improvável do segredo fixou-se no período da inquisição, em que a igreja combatia inimigos invisíveis.
RECORDATÓRIO: Toda a iconografia o fascinava.
Painel 7;
Mostra o padre colocando o lixo na rua e vendo um gato preto aproximar-se. Ele olha o bicho com ar de gula.
RECORDATÓRIO: De repente, encontrou um inimigo físico que podia sobrepujar.
RECORDATÓRIO: Matou um sem número de gatos, nem todos pretos, repetindo sempre: “É uma terapia!”
Painel 8;
O padre na igreja, na ocasião da missa, distribuindo as hóstias. Um fiel ‘a sua frente tem a boca aberta e sua mão está a meio caminho de depositá-la sobre a língua do sujeito.
RECORDATÓRIO: Ele já não pensa mais no que há nas hóstias.
Painel 9;
Close aqui, enquanto ele põe a hóstia na boca do fiel.
RECORDATÓRIO: Só reza com fervor pra que o lilagre da transubstanciação ocorra e as drogas neuro-inibidoras do SISTEMA não mais funcionem.
FIM.
“COMUNHÃO”
A.Moraes
Painel 1;
O gato aparece aqui sendo estrangulado por mãos firmes, vestidas em luvas de pedreiro que, ainda assim, não impedem sua reação automática de arranhar.
RECORDATÓRIO: “É minha terapia”, ele ouve a própria voz dizendo enquanto cerra os dedos.
RECORDATÓRIO: “Se não posso purgar a terra do verdadeiro demônio, mato suas crias”, acrescenta.
Painel 2;
Vemos o padre Willian pela primeira vez. O gato, agora inerte, está sendo jogado numa lata de lixo, segurado pelo rabo. Não descrevi o padre, né? Bom, use um modelo básico qualquer, de preferência com aquela porrinha na gola, feito?
RECORDATÓRIO: Antes de descobrir o segredo o padre Willian era bastante progressivo.
Painel 3;
O padre removendo a luva da mão esquerda. Mostre que o gato lutou bravamente e a estropiou um pouco.
RECORDATÓRIO: Depois de saber, teve o primeiro de uma série de colapsos nervosos, tentou esclarecer as coisas com seus superiores...
Painel 4;
Ele se ajoelha na nave da igreja e reza.
RECORDATÓRIO: ...e recebeu ordens expressas de manter silêncio.
RECORDATÓRIO: A igreja tinha segredos há séculos...
Painel 5;
Close no homem rezando. Uma lágrima rola por sua face.
RECORDATÓRIO: ...e sabia mantê-los.
RECORDATÓRIO: Sem poder falar com ninguém sobre o assunto, refugiou-se em seus estudos.
Painel 6;
O padre estudando livros antiquados ‘a luz de velas em seu gabinete. Tudo muito sinistro, mas mais ainda a expressão do homem, evidentemente enlouquecido.
RECORDATÓRIO: Por causa da natureza improvável do segredo fixou-se no período da inquisição, em que a igreja combatia inimigos invisíveis.
RECORDATÓRIO: Toda a iconografia o fascinava.
Painel 7;
Mostra o padre colocando o lixo na rua e vendo um gato preto aproximar-se. Ele olha o bicho com ar de gula.
RECORDATÓRIO: De repente, encontrou um inimigo físico que podia sobrepujar.
RECORDATÓRIO: Matou um sem número de gatos, nem todos pretos, repetindo sempre: “É uma terapia!”
Painel 8;
O padre na igreja, na ocasião da missa, distribuindo as hóstias. Um fiel ‘a sua frente tem a boca aberta e sua mão está a meio caminho de depositá-la sobre a língua do sujeito.
RECORDATÓRIO: Ele já não pensa mais no que há nas hóstias.
Painel 9;
Close aqui, enquanto ele põe a hóstia na boca do fiel.
RECORDATÓRIO: Só reza com fervor pra que o lilagre da transubstanciação ocorra e as drogas neuro-inibidoras do SISTEMA não mais funcionem.
FIM.
Monday, July 11, 2005
Você viu?
Tenho certeza de que esta todo mundo viu chegando.
CÁPSULAS
“A TESTEMUNHA”
A.Moraes
Painel 1;
Felipe tem a cara de Philip K. Dick mas se veste muito mais esmeradamente e tem cabelos e barba bem aparados. No momento em que o encontramos está usando camisa sob um pulôver e calças jeans gastas, confortáveis; nos pés, alpargatas de couro. Está organizando sua escrivaninha. Tem um ar de tranqüilidade quase palpável ao seu redor.
RECORDATÓRIO: Felipe escreve ficção diariamente há cerca de 30 anos.
RECORDATÓRIO: É muito popular por suas telenovelas mas seu verdadeiro prazer está em escrever livros.
Painel 2;
Aproxima de Felipe, que está tirando a capa de uma máquina datilográfica parecida com as do escritório de Daniel. Duas bandejas de papel, uma de cada lado da máquina supra, assinalam o volume de trabalho do escritor.
RECORDATÓRIO: Alcançou estabilidade financeira e reconhecimento profissional suficientes pra se dar ao luxo de escrevê-los.
Painel 3;
Mostra a página de rosto do manuscrito em que Felipe está trabalhando na bandeja ‘a direita do personagem. Nela, além do título, vemos o nome do autor e uma epígrafe: A HIERARQUIA, Felipe D. Leon, “O homem é bom?”-Moebius.
RECORDATÓRIO: Pra sua felicidade, os livros sempre são sucessos de venda.
FELIPE: “Pão quente!”
RECORDATÓRIO: Tiragens inteiras esgotam-se assim que chegam ‘as livrarias.
Painel 4;
Felipe trabalhando velozmente em sua máquina.
RECORDATÓRIO: Os críticos o chamam de “naturalista” como se isso fosse ofensivo.
RECORDATÓRIO: Pra ele não existe matéria mais rica do que a reação do homem ao meio.
Painel 5;
Repete o anterior, mas com ênfase, nas mãos e no teclado, ou seja, mostramos este detalhe que, na verdade, não apareceu no anterior. Rá!
RECORDATÓRIO: Os fãs, por sua vez, o vêem como um dos grandes ficcionistas de seu tempo.
RECORDATÓRIO: Ele nutre a maior expectativa com relação ao trabalho atual.
Painel 6;
Mostramos a mão de Felipe movendo a alavanca do carro da máquina de modo a começar nova linha.
RECORDATÓRIO: Esmerou-se na construção de um mundo digno de Orwell, em que a repressão se dá nos níveis mais surpreendentes.
Painel 7;
Vamos mostrar o cara de perto neste aqui, ok? Mostre como ele está satisfeito em sua expressão facial.
RECORDATÓRIO; Consegue até imaginar as cartas que receberá perguntando de onde vêm suas idéias.
Painel 8;
Mostra a mesma cena do painel 1, agora com Felipe trabalhando na escrivaninha. Desta vez, no entanto, o requadro é igual ao de um dos monitores, como os mostrados em MONITORES, é claro.
RECORDATÓRIO: “Tenho muita imaginação”, ele dirá.
MONITORA (OFF PANEL): Ele tá inspirado hoje.
MONITOR: É verdade.
Painel 9;
A monitora sentada observa atentamente a tela. O outro, em pé, está apoiado na poltrona dela com um copinho descartável de café na mão. Nas outras telas, divirta-se.
MONITORA: Não vejo a hora de ler o final...
MONITOR: Eu também!
RECORDATÓRIO: O SISTEMA tem uma verba específica para compra de livros considerados subversivos de autores considerados indispensáveis.
RECORDATÓRIO: Felipe só esqueceu de um detalhe enquanto urdia sua ficção: incluir-se nela.
FIM.
“A TESTEMUNHA”
A.Moraes
Painel 1;
Felipe tem a cara de Philip K. Dick mas se veste muito mais esmeradamente e tem cabelos e barba bem aparados. No momento em que o encontramos está usando camisa sob um pulôver e calças jeans gastas, confortáveis; nos pés, alpargatas de couro. Está organizando sua escrivaninha. Tem um ar de tranqüilidade quase palpável ao seu redor.
RECORDATÓRIO: Felipe escreve ficção diariamente há cerca de 30 anos.
RECORDATÓRIO: É muito popular por suas telenovelas mas seu verdadeiro prazer está em escrever livros.
Painel 2;
Aproxima de Felipe, que está tirando a capa de uma máquina datilográfica parecida com as do escritório de Daniel. Duas bandejas de papel, uma de cada lado da máquina supra, assinalam o volume de trabalho do escritor.
RECORDATÓRIO: Alcançou estabilidade financeira e reconhecimento profissional suficientes pra se dar ao luxo de escrevê-los.
Painel 3;
Mostra a página de rosto do manuscrito em que Felipe está trabalhando na bandeja ‘a direita do personagem. Nela, além do título, vemos o nome do autor e uma epígrafe: A HIERARQUIA, Felipe D. Leon, “O homem é bom?”-Moebius.
RECORDATÓRIO: Pra sua felicidade, os livros sempre são sucessos de venda.
FELIPE: “Pão quente!”
RECORDATÓRIO: Tiragens inteiras esgotam-se assim que chegam ‘as livrarias.
Painel 4;
Felipe trabalhando velozmente em sua máquina.
RECORDATÓRIO: Os críticos o chamam de “naturalista” como se isso fosse ofensivo.
RECORDATÓRIO: Pra ele não existe matéria mais rica do que a reação do homem ao meio.
Painel 5;
Repete o anterior, mas com ênfase, nas mãos e no teclado, ou seja, mostramos este detalhe que, na verdade, não apareceu no anterior. Rá!
RECORDATÓRIO: Os fãs, por sua vez, o vêem como um dos grandes ficcionistas de seu tempo.
RECORDATÓRIO: Ele nutre a maior expectativa com relação ao trabalho atual.
Painel 6;
Mostramos a mão de Felipe movendo a alavanca do carro da máquina de modo a começar nova linha.
RECORDATÓRIO: Esmerou-se na construção de um mundo digno de Orwell, em que a repressão se dá nos níveis mais surpreendentes.
Painel 7;
Vamos mostrar o cara de perto neste aqui, ok? Mostre como ele está satisfeito em sua expressão facial.
RECORDATÓRIO; Consegue até imaginar as cartas que receberá perguntando de onde vêm suas idéias.
Painel 8;
Mostra a mesma cena do painel 1, agora com Felipe trabalhando na escrivaninha. Desta vez, no entanto, o requadro é igual ao de um dos monitores, como os mostrados em MONITORES, é claro.
RECORDATÓRIO: “Tenho muita imaginação”, ele dirá.
MONITORA (OFF PANEL): Ele tá inspirado hoje.
MONITOR: É verdade.
Painel 9;
A monitora sentada observa atentamente a tela. O outro, em pé, está apoiado na poltrona dela com um copinho descartável de café na mão. Nas outras telas, divirta-se.
MONITORA: Não vejo a hora de ler o final...
MONITOR: Eu também!
RECORDATÓRIO: O SISTEMA tem uma verba específica para compra de livros considerados subversivos de autores considerados indispensáveis.
RECORDATÓRIO: Felipe só esqueceu de um detalhe enquanto urdia sua ficção: incluir-se nela.
FIM.
Sunday, July 10, 2005
Um tipo de escritor.
É o personagem do roteiro cuja feitura interrompi pra poder fazer meu registro diário. Acho que enquanto estiver de férias o hábito vai continuar. Pena que as benditas não vão durar pra sempre.
De qualquer modo, já tenho o feeling certo da história e tudo o que li hoje contribuiu pra isso. E não foi pouca coisa. 2 jornais, 3 revistas mais trechos dos 3 livros que têm sido minha dieta bibliomântica diária.
Evidente que o eventual leitor não vai precisar ler tudo que leio pra ter uma compreensão do que cada CÁPSULA trata. Mas tem muita coisa absorvida que encontra um jeito de aparecer, independentemente da vontade de quem escreve.
Tem, por exemplo, o fato de eu gostar muito do Naturalismo, que é um movimento literário do final do séc. XIX que se embasava nas teses de Taine e seus contemporâneos pra criar personagens mais próximos da realidade. Taine dizia que todos são fruto do meio, da hereditariedade e das circustâncias.
Como CÁPSULAS trata sempre de PESSOAS é inevitável que eu lembre disso a todo momento. Nada existe no vácuo e, 'as vezes, o leitor será capaz de pescar informações úteis a respeito do "meio, da hereditariedade e das circustâncias" diluídas em cada roteiro.
O mais engraçado nisso é que, na verdade, todos esses elementos são ficcionais e meu trabalho é redobrado, mas mais prazeroso. Em certa medida, a lista de referências se estenderia de modo a abarcar grande parte da produção de FC do século XX, com destaque pro Orwell e pro K.Dick, o primeiro, por 1984, o segundo, por ter sempre abordado seus mundos absurdos através dos olhos do sujeito comum.
Uma vez respondi a uma pergunta relativa 'a presumida morte da FC dizendo que, no mínimo, elementos dela sobreviveriam e seriam incorporados em novas tendências literárias. Hoje em dia acredito muito mais na sobrevivência da FC do que antes. A diferença é que não precisamos mais viajar ao futuro pra participar de mundos loucos e belos.
Basta olhar na vizinhança.
Saturday, July 09, 2005
Ok.
Nada com que se preocupar, tudo sob o mais rígido controle, mas precisei de um fôlego pra renovar o estoque de historinhas a serem contadas no menor espaço possível.
Ontem anotei os títulos de 5 e hoje escrevi a maioria em linhas beeem gerais. Uma delas já está, inclusive, semi-roteirizada, mas vai aguardar na fila pra aparecer porque não dá pra ignorar a ordem da coisa.
Sim, há uma "ordem da coisa" nessa coisa que se tornou meu parque de diversões apertado, apertado. O primeiro "ciclo", o interno, deve terminar quando eu tiver finalizado o roteiro de mais 3 historinhas com os títulos provisórios de... ah, melhor manter o mistério, não? Afinal, se eu falar delas, deixa de ser mistério e ninguém quer isso.
É bom manter um certo distanciamento do material de vez em quando pra ter energia suficiente pra renovar o ar e os nutrientes do grande vegetal que meu cérebro se torna depois de um par de roteiros... quer dizer, três pares. Acredite ou não, já são seis dessas coisinhas e a pilha tende a ficar maior.
Tem gente que escreveu dizendo ter curiosidade a respeito das historinhas. Bom, confesso que é um artifício tacanho colocar em todas elas a palavra SISTEMA e sei que a curiosidade é justamente sobre ela. As pessoas querem saber do que se trata, nada mais comum. Maaas, tem um detalhe: apesar de fornecer pistas, não vou dizer, nunca, imagino concretamente O QUE É. Quando comecei a escrevê-las minha proposta era, tão somente, contar histórias sobre pessoas. É isso o que venho fazendo e o que pretendo fazer por um bom tempo.
Não vai ter resposta pronta. Os elementos vão surgir 'a medida que o já mencionado quebra-cabeças for montado. Sem truques. O leitor vai ter que ler e interpretar. Do jeito que quiser.
Uma dica interessante é olhar ao próprio redor.
Capisce?
Friday, July 08, 2005
Primitivo.
Algumas coisas valem 'a pena divulgar. Hoje, por exemplo, tava lendo a ENTRE LIVROS do mês de junho (sim, atrasado) quando me peguei lendo o dossiê de Jim-Joyce-velho-de-guerra. Pensei em digitar "velho de guelras" e, assim, fazer uma alusão a um dos quadrinhos preferidos do mês, AQUABLUE #2, mas a vontade passou. Foi só respirar fundo...
De qualquer jeito, lendo um dos muitos artigos sobre Joyce, vi um comentário sobre criação que me fez lembrar de um dos muitos papos recentes com o Léo: o articulista dizia que RETRATO DE UM ARTISTA QUANDO JOVEM já traz a semente do que seria considerado posteriormente como "joyceano". O que quer que isso signifique, já que ninguém entende Joyce, mesmo.
Comentando com o Léo a respeito da introdução que Moore fez 'a uma das coleções de O MONSTRO DO PÂNTANO sob seu reinado, lembrei que ele dizia que a Liga da Justiça era algo como uma reunião dos aventureiros proto-pulp da literatura que tanto amava. Ok, a essa altura você já percebeu a deixa, certo? Moore, em sua introdução, menciona, talvez alheadamente, um projeto que só veria a luz cerca de 20 anos depois, sua própria Liga de Cavalheiros Extraordinários.
A semente do que se conhece como Moore hoje em dia está lá atrás, no começo de sua carreira no "mainstream" norte-americano.
Tudo isso pra dizer que, ao contrário do que disse em tom de piada ao meu amigo Massula, CÁPSULAS não é fruto de geração espontânea. É resultado de um trabalho que vem sendo feito há anos e também de uma hq vista num fanzine anarquista pré-jurássico editado pelo meu amigo Ciborgue, não o Lee Majors, evidente. Bom, o Zé (apelido de Ciborgue, é claro) tinha feito essa hq meio tosca que eu amei de paixão e disse, meio que de brincadeira, que eu devia fazer a minha. Perguntei se podia fazer a mesma, dar uma melhorada no desenho etc. e ele disse que tudo bem. Sim a lenda é verdadeira, eu já desenhei! Os motivos do original do Zé eram sociais, mormente políticos, 'a minha dei tons religiosos. Muita ficção de terror sacrílega, acho, resulta nesse tipo de obsessão.
Daí que terminei os desenhos e o argumento de minha primeira historinha. Mostrei pra algumas pessoas, que acharam literária demais, mas eu não tinha idéia do que isso significava e encontrei alguém pra "passar a tinta". E pronto. Este foi o fim. A história não progrediu pra além disso mesmo. O Léo ainda fez uma versão melhorada do desenho e terminou tudo numa gaveta ou numa caixa qualquer sem a menor chance de ver a luz do dia.
O título, se é que me lembro, era ECCE HOMMO, em homenagem a Nietzche e Pôncio.
Agora, séculos depois, as camadas superiores que então eram lava movediça se consolidaram em terra rochosa e firme sob meus pés e abordo mais ou menos o que o original do Zé, então, abordava, na série de minihistórias CÁPSULAS.
O negócio tem tanto sabor que o Léo tá contribuindo cada vez mais com idéias e me fazendo lembrar do que é colaboração de verdade. E ele não tem se contentado só com a parte visual, não. Em e-mails trocados esta semana recebi material de base importante e que ainda não tinha despertado meu interesse.
Enfim, CÁPSULAS é resultado de uma obsessão original e de colaboração, como toda hq tem que ser.
E pensar que hoje tava pensando em falar da aranha que pegou a barata embaixo da pia...
Thursday, July 07, 2005
Que conste!!!
Verdade seja dita, nem sei porque decidi vir aqui hoje e manter a regularidade. é mais por hábito, acho, do que por qualquer outra coisa.
Lembro que noutro dia falei de A MILÉSIMA SEGUNDA NOITE, livro-testemunho de Fausto Wolff, jornalista e escritor cuja indignação e verve aprendi a admirar e buscar em momentos menos inspirados.
Wolff tem um quê de Hunter Thompson, um quê de clown shakespeariano e muita história de vida, e, nesse livro, o leitor corre o risco de sofrer uma retroalimentação com o excesso.
Pros menos habituados é aconselhável a leitura parcimoniosa, econômica mesmo. Pros fãs, você corre o risco de se ver num estado mental alterado se começar a ler e não parar.
Tenho alternado a leitura dele com as aventuras clássicas de gente esperta e a aventura moderna de gente antenada e, ainda assim, fica difícil de engolir os tijolos amargos de realidade que ele oferece e não se pode recusar.
Um livro divertido e monstruoso como nenhum outro, principalmente, por não pintar o Brasil em meios tons e dar uma visão fodidamente verdadeira da assim chamada realidade.
Wednesday, July 06, 2005
Continuo.
Ainda sem resposta pra várias perguntas, entre as quais as que dizem respeito ao formato adotado, mas já procurando respostas com o sempre presente Léo. Como disse, nada está consolidado no que diz respeito 'as CÁPSULAS, tudo é passível de mudança.
Andei descolando um ou outro conceito pra sustentar o castelo de cartas que começamos a construir e, por enquanto, tô satisfeito. Alicerce é básico em ocasiões assim.
A de hoje té longe de ser minha preferida, mas acrescenta ao quebra-cabeça tanto quanto qualquer outra.
Vai lendo:
CÁPSULAS
“APOCALIPSE PESSOAL”
A.Moraes
Painel 1;
Abrimos com um close no rosto do velho Aristides. Velho mesmo, nada de eufemismos. Aproveite pra delinear bem o estrago que o tempo fez nesse camarada. Talvez refletida no óculos, vejamos a imagem de um menino nadando numa piscina. Faça um close parcial de seu rosto se for o caso, com ênfase na parte superior a partir do nariz... podemos discutir outras possibilidades, sendo o caso.
ARISTIDES: Ele cresceu desde a última vez.
RECORDATÓRIO: A resposta que Rodolfo dá é tão vazia que Aristides a ignora. Tem sido assim há um tempo: ele ignora sistematicamente o que não lhe interessa.
Painel 2;
Abrimos e mostramos a cena toda: Aristides em sua cadeira de rodas olha o neto na piscina, enquanto o filho Rodolfo e sua mulher preparam uma toalha sobre a grama do jardim em que dispõem um lanche da tarde. Ao fundo, em segundo plano, há um pomar e uma macieira que você vai perceber, é familiar de uma conversa que tivemos semanas atrás.
ARISTIDES: Nem me fale.
RECORDATÓRIO: Ele descobriu sem muito esforço, que o filho age do mesmo modo, daí também não se importa com o que diz ao interlocutor.
Painel 3;
O casal ao lado do velho na piscina, que virou a cadeira de modo que dá a idéia de querer sair do local. Os jovens observam o menino na piscina.
ARISTIDES: Vou ver o pôr-do-sol.
RECORDATÓRIO: Alguém diz algo sobre o lanche, mas a mente de Aristides já se moveu pra longe.
RECORDATÓRIO: Ele tem uma quase-memória de uma época em que fazer isso delimitava o território entre sanidade e loucura.
Painel 4;
Aristides em sua cadeira de rodas embaixo da macieira contemplando o pôr-do-sol. De frente pro leitor de modo que possamos mostrar os outros personagens em segundo plano ‘a beira da piscina.
RECORDATÓRIO: Mas esse retalho de lembrança pré-data seu encontro com Ana, pedaço de sua trama que nunca esmaeceu, mesmo passados tantos anos.
Painel 5;
No tronco da árvore, pouco acima da cabeça de Aristides, vemos um coração flechado com o nome do casal em seu interior, talhado na madeira.
RECORDATÓRIO: Ao comprarem o acre de terra onde fizeram seu lar, ela já estava decidida a ter um pomar só seu.
Painel 6;
Mostra a lateral da cadeira de rodas bem próxima ao chão, onde cai uma maçã que quica.
RECORDATÓRIO: Pareciam crianças quando a primeira árvore ficou grande o bastante pra gravarem nela seus sentimentos.
Painel 7;
Mostramos Aristides sentado na cadeira, de costas pro leitor, a cabeça pendendo pra um dos lados e o sol já atrás da colina, ainda despedindo alguma luz. Seu neto se aproxima enxugando-se com uma toalha.
NETO: Vô, o pai tá chamando pra comer.
RECORDATÓRIO: Por um momento ele acha voltou ao pavilhão em que cumpriu sua pena, o lugar onde aprendeu a arte de não ouvir.
Painel 8;
O neto põe a mão no rosto do avô e notamos preocupação no expressão do menino.
NETO: Vô?
RECORDATÓRIO: Mas isso não é possível. O SISTEMA erradicou qualquer memória de crime que as pessoas tivessem e reintegrou mesmo os criminosos mais empedernidos.
Painel 9;
O menino correndo em direção aos pais e gritando. Aristides, sentado em sua cadeira, parece banhado por outro tipo de luz que não a do sol.
NETO:Pai, vem aqui que o vô tá gelado!
RECORDATÓRIO: Além disso, agora estava morto.
RECORDATÓRIO: Aristides era o único sobrevivente de um sistema carcerário extinto...
RECORDATÓRIO: ...e seu apocalipse pessoal foi dos mais discretos.
FIM.
“APOCALIPSE PESSOAL”
A.Moraes
Painel 1;
Abrimos com um close no rosto do velho Aristides. Velho mesmo, nada de eufemismos. Aproveite pra delinear bem o estrago que o tempo fez nesse camarada. Talvez refletida no óculos, vejamos a imagem de um menino nadando numa piscina. Faça um close parcial de seu rosto se for o caso, com ênfase na parte superior a partir do nariz... podemos discutir outras possibilidades, sendo o caso.
ARISTIDES: Ele cresceu desde a última vez.
RECORDATÓRIO: A resposta que Rodolfo dá é tão vazia que Aristides a ignora. Tem sido assim há um tempo: ele ignora sistematicamente o que não lhe interessa.
Painel 2;
Abrimos e mostramos a cena toda: Aristides em sua cadeira de rodas olha o neto na piscina, enquanto o filho Rodolfo e sua mulher preparam uma toalha sobre a grama do jardim em que dispõem um lanche da tarde. Ao fundo, em segundo plano, há um pomar e uma macieira que você vai perceber, é familiar de uma conversa que tivemos semanas atrás.
ARISTIDES: Nem me fale.
RECORDATÓRIO: Ele descobriu sem muito esforço, que o filho age do mesmo modo, daí também não se importa com o que diz ao interlocutor.
Painel 3;
O casal ao lado do velho na piscina, que virou a cadeira de modo que dá a idéia de querer sair do local. Os jovens observam o menino na piscina.
ARISTIDES: Vou ver o pôr-do-sol.
RECORDATÓRIO: Alguém diz algo sobre o lanche, mas a mente de Aristides já se moveu pra longe.
RECORDATÓRIO: Ele tem uma quase-memória de uma época em que fazer isso delimitava o território entre sanidade e loucura.
Painel 4;
Aristides em sua cadeira de rodas embaixo da macieira contemplando o pôr-do-sol. De frente pro leitor de modo que possamos mostrar os outros personagens em segundo plano ‘a beira da piscina.
RECORDATÓRIO: Mas esse retalho de lembrança pré-data seu encontro com Ana, pedaço de sua trama que nunca esmaeceu, mesmo passados tantos anos.
Painel 5;
No tronco da árvore, pouco acima da cabeça de Aristides, vemos um coração flechado com o nome do casal em seu interior, talhado na madeira.
RECORDATÓRIO: Ao comprarem o acre de terra onde fizeram seu lar, ela já estava decidida a ter um pomar só seu.
Painel 6;
Mostra a lateral da cadeira de rodas bem próxima ao chão, onde cai uma maçã que quica.
RECORDATÓRIO: Pareciam crianças quando a primeira árvore ficou grande o bastante pra gravarem nela seus sentimentos.
Painel 7;
Mostramos Aristides sentado na cadeira, de costas pro leitor, a cabeça pendendo pra um dos lados e o sol já atrás da colina, ainda despedindo alguma luz. Seu neto se aproxima enxugando-se com uma toalha.
NETO: Vô, o pai tá chamando pra comer.
RECORDATÓRIO: Por um momento ele acha voltou ao pavilhão em que cumpriu sua pena, o lugar onde aprendeu a arte de não ouvir.
Painel 8;
O neto põe a mão no rosto do avô e notamos preocupação no expressão do menino.
NETO: Vô?
RECORDATÓRIO: Mas isso não é possível. O SISTEMA erradicou qualquer memória de crime que as pessoas tivessem e reintegrou mesmo os criminosos mais empedernidos.
Painel 9;
O menino correndo em direção aos pais e gritando. Aristides, sentado em sua cadeira, parece banhado por outro tipo de luz que não a do sol.
NETO:Pai, vem aqui que o vô tá gelado!
RECORDATÓRIO: Além disso, agora estava morto.
RECORDATÓRIO: Aristides era o único sobrevivente de um sistema carcerário extinto...
RECORDATÓRIO: ...e seu apocalipse pessoal foi dos mais discretos.
FIM.
Tuesday, July 05, 2005
Ainda não.
Apesar de estar sempre pensando em mais 9 painéis pra próxima CÁPSULA, admito que não tô satisfeito com os resultados. Pra mim, aliás, essa é a atitude mais lúcida possível e seria incompreensível de meu pdv pensar diferente.
No momento.
Porque não cheguei no que queria. Vou continuar tentando, evidente, destilar o máximo possível no mínimo imaginável. Quero tentar fazer coisas com 3, 2, 1 painel(is), aí sim me aproximando do ideal de síntese que propus uns dias atrás.
A coisa é relativamente simples: fazer um painel síntese de tal modo elaborado que o leitor possa interagir com ele sem se arranhar em aresta nenhuma.
Outro dia tava, novamente, discutindo a diferença entre mcms aqui com ela. Domingão a gente costuma ler o jornal e conversar a respeito de artigos, notícias e que mais. Daí veio 'a tona esse assunto que sempre vem 'a tona onde quer que eu esteja: a prevalência de alguns mcms sobre outros. A tentativa de entender porque alguns têm maior apelo popular que outros.
A articulista falava claramente sobre a diferença de atitude de quem lê (introspectiva) pra quem assiste qualquer coisa na tevê, digamos, novela (expansiva). A diferença é simples demais pra escapar de qualquer um com meio neurônio funcionando e no mais das vezes é essa, exatamente, minha condição mental. Experiência individual versus experiência compartilhada. Há uma troca imediata entre as pessoas que assistem novela que não ocorre com os que lêem um livro (exceto em casos como HARRY POTTER e O CÓDIGO DA VINCI, fenômenos de venda). Pra compartilhar o que se lê há uma demanda maior. Você teria que, no mínimo, entrar em alguma comunidade de discussão na internet pra fazer isso.
Ou escrever num blog.
Eu, por exemplo, tenho uma dificuldade danada de descrever o prazer que me dá estar lendo A MILÉSIMA SEGUNDA NOITE, de Fausto Wolff. Mesmo que me esforce pra descrever o dito sentimento, poucos responderão a ele por conta, até, da inacessibilidade do material (livros são caros) e por se tratar de algo supérfluo.
Por outro lado, se digo que tenho acompanhado determinada novela e a comento, muita gente vai estar fazendo a mesma coisa e ciente do que falo sobre a dita cuja. A comunicação, mesmo por escrito, ocorre com maior fluência.
Sei lá.
Li a mesma coisa outro dia num site que faz campanha pelo projeto pra tevê de GLOBAL FREQUENCY.
Meses atrás, li uma entrevista também reveladora a respeito de mangá dada por Claudio Seto. É um jogo de ligar pontos, só isso.
Me pergunto se me importo em jogá-lo.
Monday, July 04, 2005
Mais um! Mais um!
Este é um risco porque tô jogando várias peças de um quebra-cabeças que pode não ser entendido a princípio mas que vai se revelar com a progressão da "história subterrânea". Ainda assim, acho que dá pra ler como uma hq fechada, apesar de ser um tantinho mais hermética que as outras. Mas só vou saber disso se alguém disser.
CÁPSULAS
“CIDADE DOS SONHOS”
A.Moraes
Painel 1;
Cenário de sonho, mesmo: Naomi(pense na nossa querida srta. Watts) vestida como Alice (Disney) come algodão doce enquanto saltita alegremente pela rua... libera geral e faz os painéis oníricos como aquecimento pro nosso outro projeto... ilustração de livro infantil (Mckean). No segundo plano vemos silhuetas de ursos (visão infantil, ok?).
NAOMI:Láláririlári...
RECORDATÓRIO: Naomi sabe que está fazendo algo errado, algo que desafia as leis.
Painel 2;
Ela salta, soltando seu algodão doce, pose típica de super-herói, um braço esticado ‘a frente do corpo, o outro dobrado perto dos quadris. Sorriso enorme e de boca cheia, com manchas de algodão doce derretido nos cantos. Sem mostrar os dentes, claro.
NAOMI: Iiiihhúúú!!!
RECORDATÓRIO: Só desconhece quais leis. A da gravidade?
Painel 3;
Naomi retorna ao solo e os ursos aplaudem, mantendo uma distância respeitosa. Ela acena sorridente.
NAOMI: Obrigada!
RECORDATÓRIO: “A gravidade é uma lei natural! Mas se os ursos aplaudem não deve estar errado desafiá-la!”
Painel 4;
Naomi e um urso de seu tamanho dançam de mãos dadas. Os outros ursos fazem um círculo e batem palmas, marcando o ritmo da dança.
RECORDATÓRIO: É a lógica desgovernada da situação. “Afinal, os ursos vivem na natureza e a sabem melhor do que ninguém!”
Painel 5;
De repente, no meio da festa, chega um carro de bombeiros. Um javali o dirige e macacos apontam a mangueira de alta pressão pros ursos, afastando-os de Naomi.
ONOMATOPÉIAS DA SIRENE E DO JATO D’ÁGUA:
Uóuóuóuóuó!!!
Chuááá!!!
RECORDATÓRIO: “Isso sim não é natural!”, pensa, milissegundos antes de...
Painel 6;
Naomi sentada na cama sem entender nada, com o despetador de corda ao lado, vestindo só uma camiseta grande do Yellow Kit e calcinhas de algodão. Semidesperta, não vê correias e grilhões sendo recolhidos pra debaixo da cama.
DESPERTADOR: Trrriiimmm!!!
NAOMI: Nossa!
RECORDATÓRIO: ...acordar.
Painel 7;
Ela no banheiro, sentada no vaso.
RECORDATÓRIO: A sensação maravilhosa de ter vivido algo inédito não a deixa.
Painel 8;
Ela lava as mãos na pia do banheiro sem olhar o reflexo no espelho do armarinho.
NAOMI: Um sonho... foi tudo um...
RECORDATÓRIO: Mas o momento passa. Ela esquece a palavra que definia sua experiência e foi banida pelo SISTEMA.
Painel 9;
Close na boca de Naomi, enquanto ela estica a língua pra um dos cantos e lambe a mancha de algodão doce derretido que há ali. Claro, agora ela está olhando no espelho.
RECORDATÓRIO: Só lembra que foi doce.
FIM.
“CIDADE DOS SONHOS”
A.Moraes
Painel 1;
Cenário de sonho, mesmo: Naomi(pense na nossa querida srta. Watts) vestida como Alice (Disney) come algodão doce enquanto saltita alegremente pela rua... libera geral e faz os painéis oníricos como aquecimento pro nosso outro projeto... ilustração de livro infantil (Mckean). No segundo plano vemos silhuetas de ursos (visão infantil, ok?).
NAOMI:Láláririlári...
RECORDATÓRIO: Naomi sabe que está fazendo algo errado, algo que desafia as leis.
Painel 2;
Ela salta, soltando seu algodão doce, pose típica de super-herói, um braço esticado ‘a frente do corpo, o outro dobrado perto dos quadris. Sorriso enorme e de boca cheia, com manchas de algodão doce derretido nos cantos. Sem mostrar os dentes, claro.
NAOMI: Iiiihhúúú!!!
RECORDATÓRIO: Só desconhece quais leis. A da gravidade?
Painel 3;
Naomi retorna ao solo e os ursos aplaudem, mantendo uma distância respeitosa. Ela acena sorridente.
NAOMI: Obrigada!
RECORDATÓRIO: “A gravidade é uma lei natural! Mas se os ursos aplaudem não deve estar errado desafiá-la!”
Painel 4;
Naomi e um urso de seu tamanho dançam de mãos dadas. Os outros ursos fazem um círculo e batem palmas, marcando o ritmo da dança.
RECORDATÓRIO: É a lógica desgovernada da situação. “Afinal, os ursos vivem na natureza e a sabem melhor do que ninguém!”
Painel 5;
De repente, no meio da festa, chega um carro de bombeiros. Um javali o dirige e macacos apontam a mangueira de alta pressão pros ursos, afastando-os de Naomi.
ONOMATOPÉIAS DA SIRENE E DO JATO D’ÁGUA:
Uóuóuóuóuó!!!
Chuááá!!!
RECORDATÓRIO: “Isso sim não é natural!”, pensa, milissegundos antes de...
Painel 6;
Naomi sentada na cama sem entender nada, com o despetador de corda ao lado, vestindo só uma camiseta grande do Yellow Kit e calcinhas de algodão. Semidesperta, não vê correias e grilhões sendo recolhidos pra debaixo da cama.
DESPERTADOR: Trrriiimmm!!!
NAOMI: Nossa!
RECORDATÓRIO: ...acordar.
Painel 7;
Ela no banheiro, sentada no vaso.
RECORDATÓRIO: A sensação maravilhosa de ter vivido algo inédito não a deixa.
Painel 8;
Ela lava as mãos na pia do banheiro sem olhar o reflexo no espelho do armarinho.
NAOMI: Um sonho... foi tudo um...
RECORDATÓRIO: Mas o momento passa. Ela esquece a palavra que definia sua experiência e foi banida pelo SISTEMA.
Painel 9;
Close na boca de Naomi, enquanto ela estica a língua pra um dos cantos e lambe a mancha de algodão doce derretido que há ali. Claro, agora ela está olhando no espelho.
RECORDATÓRIO: Só lembra que foi doce.
FIM.
O jovem Krusty!
At last!
CÁPSULAS:
“PALHAÇO ACIDENTAL”
A.Moraes
Painel 1;
O jovem Krusty, ou Palhaço Arrepio, é novo, magro, veste-se como esperado, com calças curtas e escuras presas em suspensórios e uma camisa de mangas curtas clara contrastando, além de usar tênis e um par de luvas brancas, justas nas mãos como luvas cirúrgicas. Está parado entre fachadas de lojas e faz o que se propõe a fazer: encher bexigas e amarrá-las de modo a dar-lhes formas diferentes e entreter crianças. Aliás, uma delas, Luizinho, está ‘a sua frente, acompanhado pela mãe, Márcia, ainda jovem e viçosa num vestidinho florido.
LUIZINHO: Uuulha, mãe! Tá viranum bichu!
MÁRCIA: É mesmo, filho!
RECORDATÓRIO: O palhaço Arrepio pensa muito na escolha que fez.
Painel 2;
Mostramos Arrepio mais de perto. Apesar do sorriso pintado no rosto, vemos que o cara não está alegre, mas, sim, concentrado.
LUIZINHO: Qui bunito!
RECORDATÓRIO: Ele lembra dos outros palhaços e seus nomes alegres e engraçados e quase conclui que o que pegou pra si não se adequa.
Painel 3;
Arrepio entrega uma girafa de balão pra Luizinho que continua encantado com a coisa toda. Márcia dá um passo ‘a frente já colocando a mão na bolsa.
LUIZINHO: Brigadu!
MÁRCIA: Quanto é?
RECORDATÓRIO: Então pensa que um arrepio pode ser indicador de prazer e relaxa.
Painel 4;
Márcia recua um pouco, mão ainda na bolsa, expressão de contrariedade no rosto, segurando o ombro de Luizinho. O palhaço cruza os braços.
MÁRCIA: Tudo isso?
ARREPIO: Acho que você quis dizer “só isso”, né?
RECORDATÓRIO: Ele põe em sua lista um significado em desuso de “arrepiar”.
Painel 5;
Mais ou menos a mesma atitude do anterior. Arrepio mete a mão no bolso procurando algo enquanto a mulher meio que mantém a postura.
MÁRCIA: É caro!
ARREPIO: Ai, meu saco!
RECORDATÓRIO: “Arrepiar, v.: 3.provocar ou sentir medo, horror, indignação etc.”
Painel 6;
Ele tem um cigarro nos lábios e o acende sem hesitar, olhos semicerrados na atitude de quem traga. Márcia assume uma postura de espanto e a criança segura sua girafa com a boca aberta.
ARREPIO: Cê acha que eu tô aqui pra negociar, é? Eu ganho minha vida com essa merda, porra!
RECORDATÓRIO: Márcia não sente indignação, medo ou horror...
Painel 7;
A discussão continua, com Arrepio soltando uma baforada de fumaça na cara de Márcia. A única coisa que aparece de Luizinho é a mão que segura a bendita girafa flutuante.
ARREPIO: É assim que eu como, caralho!
MÁRCIA: Por favor, não na frente da criança...
RECORDATÓRIO: ...ao contrário, está excitadíssima, pois é a primeira vez que um homem age como homem com ela em anos.
Painel 8;
Márcia dá uma nota de valor indefinido a Arrepio, que continua fumando. Luizinho parece assustado com a situação.
MÁRCIA: Desculpa, tá?! Tá aqui seu dinheiro!
ARREPIO: Tudo bem, tá legal! É o meu trabalho! Respeito, pô!
RECORDATÓRIO: Mais tarde, quando deixar Luizinho com a avó, vai voltar, procurar Arrepio e pedir desculpas do seu jeito especial.
RECORDATÓRIO: “Pessoal e intransferível”, ri pra si.
Painel 9;
Este é um pouquinho mais complicado. No canto direito (sua direita) do painel, vemos ainda um pouco do palhaço Arrepio em primeiro plano... talvez a mão enluvada segurando o cigarro já no fim. Em segundo plano, Márcia de costas e de mãos dadas com Luizinho, que se volta e olha na direção de Arrepio. A mão que segura a girafa de balão se abre. Ele tem uma expressão de medo e repulsa no rosto.
RECORDATÓRIO: Luizinho vai viver com essa memória pra sempre e pensar num SISTEMA que impeça que outras pessoas passem pelo que passou hoje.
FIM.
“PALHAÇO ACIDENTAL”
A.Moraes
Painel 1;
O jovem Krusty, ou Palhaço Arrepio, é novo, magro, veste-se como esperado, com calças curtas e escuras presas em suspensórios e uma camisa de mangas curtas clara contrastando, além de usar tênis e um par de luvas brancas, justas nas mãos como luvas cirúrgicas. Está parado entre fachadas de lojas e faz o que se propõe a fazer: encher bexigas e amarrá-las de modo a dar-lhes formas diferentes e entreter crianças. Aliás, uma delas, Luizinho, está ‘a sua frente, acompanhado pela mãe, Márcia, ainda jovem e viçosa num vestidinho florido.
LUIZINHO: Uuulha, mãe! Tá viranum bichu!
MÁRCIA: É mesmo, filho!
RECORDATÓRIO: O palhaço Arrepio pensa muito na escolha que fez.
Painel 2;
Mostramos Arrepio mais de perto. Apesar do sorriso pintado no rosto, vemos que o cara não está alegre, mas, sim, concentrado.
LUIZINHO: Qui bunito!
RECORDATÓRIO: Ele lembra dos outros palhaços e seus nomes alegres e engraçados e quase conclui que o que pegou pra si não se adequa.
Painel 3;
Arrepio entrega uma girafa de balão pra Luizinho que continua encantado com a coisa toda. Márcia dá um passo ‘a frente já colocando a mão na bolsa.
LUIZINHO: Brigadu!
MÁRCIA: Quanto é?
RECORDATÓRIO: Então pensa que um arrepio pode ser indicador de prazer e relaxa.
Painel 4;
Márcia recua um pouco, mão ainda na bolsa, expressão de contrariedade no rosto, segurando o ombro de Luizinho. O palhaço cruza os braços.
MÁRCIA: Tudo isso?
ARREPIO: Acho que você quis dizer “só isso”, né?
RECORDATÓRIO: Ele põe em sua lista um significado em desuso de “arrepiar”.
Painel 5;
Mais ou menos a mesma atitude do anterior. Arrepio mete a mão no bolso procurando algo enquanto a mulher meio que mantém a postura.
MÁRCIA: É caro!
ARREPIO: Ai, meu saco!
RECORDATÓRIO: “Arrepiar, v.: 3.provocar ou sentir medo, horror, indignação etc.”
Painel 6;
Ele tem um cigarro nos lábios e o acende sem hesitar, olhos semicerrados na atitude de quem traga. Márcia assume uma postura de espanto e a criança segura sua girafa com a boca aberta.
ARREPIO: Cê acha que eu tô aqui pra negociar, é? Eu ganho minha vida com essa merda, porra!
RECORDATÓRIO: Márcia não sente indignação, medo ou horror...
Painel 7;
A discussão continua, com Arrepio soltando uma baforada de fumaça na cara de Márcia. A única coisa que aparece de Luizinho é a mão que segura a bendita girafa flutuante.
ARREPIO: É assim que eu como, caralho!
MÁRCIA: Por favor, não na frente da criança...
RECORDATÓRIO: ...ao contrário, está excitadíssima, pois é a primeira vez que um homem age como homem com ela em anos.
Painel 8;
Márcia dá uma nota de valor indefinido a Arrepio, que continua fumando. Luizinho parece assustado com a situação.
MÁRCIA: Desculpa, tá?! Tá aqui seu dinheiro!
ARREPIO: Tudo bem, tá legal! É o meu trabalho! Respeito, pô!
RECORDATÓRIO: Mais tarde, quando deixar Luizinho com a avó, vai voltar, procurar Arrepio e pedir desculpas do seu jeito especial.
RECORDATÓRIO: “Pessoal e intransferível”, ri pra si.
Painel 9;
Este é um pouquinho mais complicado. No canto direito (sua direita) do painel, vemos ainda um pouco do palhaço Arrepio em primeiro plano... talvez a mão enluvada segurando o cigarro já no fim. Em segundo plano, Márcia de costas e de mãos dadas com Luizinho, que se volta e olha na direção de Arrepio. A mão que segura a girafa de balão se abre. Ele tem uma expressão de medo e repulsa no rosto.
RECORDATÓRIO: Luizinho vai viver com essa memória pra sempre e pensar num SISTEMA que impeça que outras pessoas passem pelo que passou hoje.
FIM.