Wednesday, August 31, 2005

Versos.

E não versus. Distinção importante, porém, não essencial. Enquanto digitava o título de hoje pensava em qualquer coisa que caberia no espaço e que sugerisse mais que dissesse, culpa dos simbolistas, de Mallarmé, mais especificamente.
Pensando em poesia e pensando em versos, lembrei de Bandeira, que escreveu:
Eu faço versos como quem chora,
de desalento, de desencanto,
Fecha meu livro se por agora
Não tens motivo maior de pranto.
'As vezes é preciso fazer rcp de emoções. Vendo o making off de BEST OF YOU hoje soube que não se trata de um fenômeno localizado. Aliás, apesar de estar longe de ser original, é um dos clipes que mais gosto de assistir. O motivo: um lobo que aparece em alguns poucos frames mas que é de uma expressividade sem tamanho.
O lobo me faz lembrar que os canídeos têm uma capacidade emotiva comparável 'a nossa, humana, no caso de alguém aí não se lembrar.
Lógico que você não espera sustentar tudo com emoções e se, veja só, é um grande SE (como agora deve ter ficado óbvio e, até, redundante) um dia decidir ler HAMLET pra um lobo faminto, saiba que ele vai encarar a experiência de um modo bastante pragmático.
Se pusermos em palavras o que se passaria pela cabeça do lupino hipotético, teríamos algo assim: "Hm, tô com fome! Tem essa refeição grunhindo na minha frente... hm, tô com fome!" e, sem dúvida, não hesitaria muito em devorar o dito leitor. O único problema seria um par de coisas a serem cuspidos durante a mastigação. Como um livro, um par de sapatos...
Enfim, emoção não significa, necessariamente, qualquer tipo de ligação afetiva. Acho até que pode temperar relacionamentos, mas relacionamentos são objetos subjetivos ( eu sei, EU SEI) construídos com um material, também, hipotético: o tempo.
O que me leva a perguntar: estarei dormindo e tendo um sonho alucinatório no qual digito coisas sem sentido aparente que, depois de uma pormenorizada análise junguiana, vão se mostrar de uma profundidade obscura e oculta?

Tuesday, August 30, 2005

TELEPATIA.

Lendo Rupert Sheldrake, sim , o mesmo dos campos morfogenéticos, só que a respeito de PES(Percepção Extra-Sensorial) e ligando pontos com um monte de outras coisas lidas recentemente ou no meio do processo de leitura. Tô considerando esta como minha experiência de telepatia entre livros.
Daí que me ocorreu a palavra "telepatina". Sabia que já tinha lido sobre ela em algum lugar, sabia que se tratava de uma substância psicoativa qualquer, pus no Google e, olha só, é um dos princípios ativos da Ayuhasca! O que, não por acaso, me fez lembrar de todas as leituras concatenadas de anos, desde o RETORNO 'A CULTURA ARCAICA, do Terence Mckenna até AS CARTAS DO YAJÉ, de Burroughs e Ginsberg.
Uma das características legais de RETORNO, por exemplo, é que o doc Mckenna sugere, entre outras coisas, aquele lance romântico do retorno do homem 'a natureza, do bom selvagem etc., coisas que são totalmente contraditórias com a idéia de avanço que permeia a história humana recente.
E, ainda assim, ele é citado de cinco em cinco segundos por quem sabe melhor como um dos responsáveis pelas tendências de expansão da consciência etc e tal. Coisa legal sobre o doc: quando tinha 14 aninhos leu AS PORTAS DA PERCEPÇÃO, do Huxley e descobriu sua vocação para a alucinação.

Monday, August 29, 2005

Por escrito.

Diariamente penso por escrito.
Comecei fazendo isso numa agenda financeira que encontrei jogada, sem uso, numa das gavetas da escrivaninha que também era meu local de trabalho. Como o hábito de escrever apareceu pra mim só bem tarde, quando tinha 22 anos, demorou também pra arraigar-se e levei um par de anos até preencher todas as páginas da dita cuja.
Depois passei pruma outra agenda, presente de uma das mulheres que marcaram minha história (até o momento - conhecer mulheres interessantes é uma atividade que não quero abandonar tão cedo).
A diferença entre essas duas agendas e qualquer outro material em que tenha escrito é de fundo afetivo. Uma foi a primeira, a outra me foi dada.
Descobri que gosto daqueles livros com capas peculiares da TASCHEN e páginas inteiramente em branco, feitos de papel reciclado e com as folhas presas por espiral. Já enchi uns três destes e só não os uso mais por não encontrá-los com a facilidade e ao preço que encontrei os 5 originais.
Passei, então, a procurar um substituto. Algo que fosse agradável ao tato, pelo menos, já que a possibilidade de ter um objeto atraente ou tão atraente quanto os livros de notas da Taschen foi ficando mais e mais remota.
Descobri um caderno dos mais baratos feito com um papel sobre o qual a caneta simplesmente desliza. Não tem jeito melhor de descrevê-lo. Brochura, mesmo, não brochante.
Desde o ano passado tenho experimentado cadernos de tamanho maior, capa dura, brochura, mas a experiência de tentar fazê-los caber na escrivaninha mais o fato de a caneta não deslizar como no outro me fizeram recuar em seu uso.
Hoje, por exemplo, não escrevi nada no papel, optei por atacar digitalmente, mais prático, pra dizer o mínimo.
Por algum motivo sempre achei esse tipo de coisa interessante. Tudo que se relaciona ao ato de escrever em si me parece interessante.
Pessoas, autores conhecidos fazem desse assunto uma especialidade e constróem suas obras sobre eles.
Achei que devia contribuir com meus dois centavos.

Sunday, August 28, 2005

Zumbis.

Sonhei um troço engraçado noutro dia que tem tudo a ver com várias coisas simultâneas ou simultaneamente.

Tem a ver com o término de minha segunda leitura de BREVE HISTÓRIA, tem a ver com essa assumida de que a maioria das pessoas ignora propositalmente o mundo em que vive e assim por diante.

O sonho era uma versão aclimatada em praias brasileiras de um filme de Romero. Em que Romero é grande? Em filmes com mortos-vivos, certo?

Ok.

A trama básica era essa: um grupo de pessoas ainda vivas resistia aos ataques em ondas dos zumbis. Num tipo de castelo/casa antiquado(a).

O que me interessa o suficiente pra citá-lo é que tem um “final feliz”, um final em que a maioria sobrevive e precisa então lidar com uma minoria de “zumbificados”.

Espero que isso se torne realidade em breve.

Mesmo.

Que em breve os “zumbis” do mundo real se desliguem um tanto que seja de seus interesses monológicos e passem a observar a dialogia com mais interesse.

A metáfora do zumbi funciona sobremaneiramente bem por que se trata da criatura mais monotemática possível: seu único interesse, na versão de Romero, são os benditos “miolos”. Em EXTERMÍNIO, é a propagação do agente contaminador.

Quando houver espaço suficiente pras pessoas sacarem que a mente existe fora do cérebro também, estendo-se e entendendo o mundo, em diálogo constante com o campo gerado por ela mesma e que envolve outras mentes, estaremos indo em direção de um mundo melhor.

Talvez.

Caranguejo com chocolate.

É o que digo em sala de aula quando quero chamar 'atenção pruma discrepância muito grande entre estilos de época diferentes.
A molecada faz careas de nojo, mas a verdade é que ninguém experimentou caranguejo com chocolate... pelo menos não os dois juntos.
Coloquei este título no registro de hoje porque estive conversando com o Léo a respeito das agonias prementes de quem tateia no escuro e, claro, concluimos que o ideal é tentar manter as coisas diferenciadas mas, ainda assim, encarando-as como se todas fossem facetas diferentes do mesmo objeto.
Daí meu retorno ao tema política. Retorno insistente. Tá certo que já disse praticamente tudo que sei, mas não o suficiente, o número suficiente de vezes pra me satisfazer.
Longe disso.
Um dos textos que me fizeram mal durante a pesquisa de O GRANDE JOGO foi OS NOVOS SENHORES DO MUNDO, de John Pilger. O livro é fantástico e altamente aconselhável por tratar de modo objetivo a questão de quem manda em quem e desde quando.
Saber que os representantes, mesmo os eleitos por voto popular, não passam de testas-de-ferro pros economicamente favorecidos deixou de ser um saco faz tempo. Já é INSUPORTÁVEL. Pior do que isso é saber que regimes políticos que tendiam a beneficiar o povo e investir na economia interna sem apelar pro Banco Mundial foram derrubados com apoio dos grandes oligarcas e substituídos rapidamente por pessoas de confiança dos mesmos. Além disso, a narrativa de como os caras decidiram quem ficaria com o quê num país de terceiro mundo que acabara de passar pelo processo de golpe e posterior instituição de regime fantoche é pra lá de chocante.
Michael Moore teria muita coisa pra aprender com Pilger.
E, enquanto escrevo aqui, estou falando ao vivo com o Léo usando o Google talk. Pensando seriamente em fazer uso dessa tecnologia pra produzir um texto pra cá com diálogos impertinentes entre nós dois.
E, antes que esqueça, dê uma olhada em qualquer coisa escrita pelo José Arbex. Outro cara responsável que sabe bastante a respeito de narcotráfico, jogos de poder e demais anomalias sociais pelas quais passamos desnecessariamente.

Friday, August 26, 2005

Utilidade.

Antes de qualquer coisa, gostaria de enviar qualquer interessado ao Newsarama pra leitura detida e meticulosa (tô sabendo da redundância) da entrevista de Brian Wood sobre design. Só não ponho o link específico por preguiça. Mas vale a pena fuçar lá, acredite.
Retomando minha lenga-lenga semipoética a respeito de política e da relação que as pessoas "médias" têm com ela (nenhuma, haja visto que o brasileiro sente uma repulsa de nascença por qualquer coisa que traga na nomenclatura a palavra "política") e reforçando meu ponto de vista negligente, ainda acho que a solução está em informar quem não quer ser informado, apesar de isso ser clichê e já ter sido dito milhões de vezes.
Palavrinhas pequenas podem ajudar. Se você explica a qualquer pessoa o que é ser cidadão e viver na polis já tem um começo. Ainda mais se conseguir fazer-se entender. Explicar a diferença entre política e partidarismo é outro ponto interessante de ser abordado. Daí partir pra explicar do que se trata a corrupção, palavra derivada que tem em sua composição o verbo romper.
São só idéias soltas de alguém que passou tempo demais viajandão em livros e deixou jornais e revistas de lado. Coisas essenciais, apesar de mormente propagandísticas, pra se ter noção dos acontecimentos recentes.
Taí outra das estratégias: fazer com que o brasileiro se interesse pela leitura de tudo, não apenas da página de esportes. Ou pelas manchetes absurdas de jornalecos sem-vergonha (ririri!!!). Ler além do que vem na primeira página a fim de descobrir a essência por trás das aparências, além de saber interpretar aquilo que se lê de modo adequado.
Sei lá, só sei como isso deve parecer. Sei como parece pra mim. Eu, o alienado, preocupado na maior parte do tempo com quadrinhos e as melhores formas de contar historinhas, de repente querendo meter o bedelho num assunto que não domino. Mas acho que chegou a hora de mudar isso. Só falar a respeito como diletante na faculty não dá mais barato.
Basicamente, temos um punhado de representantes eleitos pelo povo, autoridades legalmente constituídas, que não prezam o voto de confiança que receberam de seus representados e se deixam corromper pelos interesses excusos de outra minoria, esta, dos economicamente abonados pra aprovar todo tipo de desculpas jurídicas pra ganhos que são, no mínimo, ilícitos, no máximo, danosos 'a economia do país e 'as pessoas que os elegeram em primeiro lugar.
Conforme for me atualizando vou voltar ao assunto.
Lembrei o motivo de ter deixado de lado o mundo da política como assunto: no meio das pesquisas pra escrever O GRANDE JOGO me senti mal fisicamente. Talvez tenha sido um dos motivos pelos quais não cheguei a escrever sequer o capítulo V como gostaria.

Wednesday, August 24, 2005

Algo diferente.

Decidi escrever alguma coisa que não fosse igual ao que tenho martelado aqui recentemente.
Acho que tem a ver com a revolta constante e adolescente que captei em dois textos bem diferentes dos autores mais diversos possíveis. Os que saltam, agora, na memória, são as contantes pancadas desferidas por um dos mais ferrenhos e renitentes críticos da sociedade, sr. Wolff e o bem mais modesto, mas ainda assim cheio de emoção, de uma menina de 17 anos que tem as mesmas dúvidas de nosotros que ainda somos obrigados a viver a "realidade" dia-a-dia e cheia de pus e sangue que nos é dada através dos mcm.
Meu débito é maior com Marcela, a menina, do que com Fausto, o verdadeiro vetusto da fábula. Porque saber que uma adolescente se preocupa com a situação atual me comove muito mais que saber que um homem mais velho e curtido pelas intempéries ainda se preocupa.
Tá bem.
Os dois me comovem o bastante preu querer escrever a respeito. Aliás, se não fosse assim, por que escreveria? Só pra ocupar espaço? Sempre é necessário que algo comova ou mova quem escreve na direção necessária no momento.
Tenho andado propositadamente alheado da situação escabrosa e, esquisito dizer isso, divertida que se instalou ou entalou recentemente na mídia. Por isso, procure salgar um pouco o que quer que eu diga aqui com sua própria perspectiva.
No momento presente, o âncora da tevê diz algo sobre crise política que deve ser familiar a todos. A raiz do problema são os interesses. Sei que não sou o único alheado, que há uma maioria silenciosa e imanifesta que sequer toma conhecimento superficialmente do que acontece, como eu. Sei disso por causa do trabalho secular.
A tal crise é combustível inesgotável pra críticas infinitas.
A questão continua, ainda, sendo a mesma.
Interesses.
A maioria deve achar menos interessante a notícia da crise do que o resultado do último jogo de futebol. Como, eu mesmo, acho mais interessante pensar cosmicamente e agir globalmente, fingir que o que os políticos fazem não me afeta e seguir adiante, fazendo as coisas de sempre sem maiores atribulações da alma.
Gostaria de ainda ser capaz de acreditar que uma revolução social resolveria o problema, mas acho que passei dessa fase. Revolução, sim, mas não somente social e nunca, jamais, envolvendo conflito armado.
A gente teria que voltar no tempo e muito pra alcançar a raiz danificada do problema. Teria que ampliar, e muito, a consciência de que a multidão é capaz e, acima de tudo, teria que conseguir convencer a maioria a interessar-se por problemas de ordem prática.
Nada religioso, maníaco,só aplicando racionalidade e bom-senso.
Afinal, é da maioria silenciosa os votos que fizeram dessas aberrações nossos governantes. Que modo mais eficaz de mudar o quadro que educando as massas? Tornando-as superiores ao presidente fajuto que temos?
Meu projeto de longo prazo ao entrar no trabalho secular de minha escolha era subverter o sistema por dentro. 'As vezes textos como o da Marcela mantém a esperança do projeto viva.
Agora vou dormir que já fiquei incoerente ontem, quando cmecei a escrever isto aqui.

Tuesday, August 23, 2005

Hodie.

"Tô cansado!" era o mote de um personagem que eu e o Léo criamos pro TUBARÃO na idade da pedra lascada.
E é verdade pra mim no momento.
Cansei, não exatamente de ser sexy, mas de estar cansado, mas o que parece ser contraditório não o é, pois tenho estado cansado desde o fim de 98. 7 anos de cansaço são suficientes. Chegou a hora de retomar a energia de que sou capaz e maior prova disso do que estar aqui, digitando inconseqüentemente 'a esta hora já diz muito.
Refleti, minutos atrás, sozinho com meu caderninho de notas, a respeito da necessidade da reflexão. Sabe como é, sentar diante do espelho e pensar sobre o sentido disso tudo, particularmente da barriguinha proeminente que já não se deixa ocultar mais com tanta facilidade. Outras coisas também, mas nada relevante. O fútil tem sua utilidade privada.
Uma das coisas em que me pego pensando com freqüência, digamos, freqüente, é o fato de encararmos a realidade como algo natural e confundirmos realidade com natureza. E natureza com Natureza. Mas ainda não fui fundo a esse respeito. Portanto me calo.
Relendo mais do que lendo e ainda assim satisfeito.
Reli AO CAIR DAS SOMBRAS, de John Ney Rieber e John Van Fleet. A arte é legal, a história não acrescenta. Por algum motivo tenho a hq. Não entendi ainda qual. Mais um daqueles mistérios insondáveis.
Cheguei, depois de um intervalo considerável na leitura, a ultrapassar o meio de A MILÉSIMA SEGUNDA NOITE, ainda em primeira leitura. Outro material que meiei também é QUANDO TERESA BRIGOU COM DEUS, do Jodô. Assim que tiver tempo sobrando pra saborear como deve ser, vou ler BÓRGIA, do mesmo mais Manara.
Tô com 4 livros do Crumb clamando por leitura. Ler Crumb depois de assistir ao documentário do Zwigoff é uma experiência diferente. Quero tentar alinhavar as duas coisas e escrever um je ne sais quoi a respeito.

Monday, August 22, 2005

El sueño de la razon...

Pensando, pensando...

...a respeito de muito mais do que olho vê. Por exemplo, ultimamente notei que durante o dia minha tendência pra adernar num estado de semiconsciência aumenta em demasia.

Mais de uma vez me peguei, enquanto com um livro nas mãos, sendo lenta e inexoravelmente dragado pro reino de Morpheus.

O detalhe interessante é que nesses momentos específicos em que tinha livro nas mãos e sono em excesso, terminava lendo trechos de texto que, depois de verificação atenta, não estavam impressos na página.

É como se pudesse acessar um livro que não existe neste plano e ler trechos breves, inexistentes, dele.

Por motivo não particularmente hermético, lembrei de um dos contos que deve ter inspirado Gaiman na construção de sua mítica onírica em que uma biblioteca com livros jamais escritos era visitada pelo narrador. Infeliz de mim que não recordo o título nem o autor do dito cujo. Só que está numa daquelas antologias MARAVILHAS DO CONTO... talvez seja o INGLÊS, talvez o FANTÁSTICO, não tenho certeza.

‘Tudo isso pra dizer o quê?’, você deve estar se perguntando.

Bom, nada em particular.

Só que, de agora em diante, a temática onírica, mítica, mística deve voltar a freqüentar esta(s) página(s).

E nada melhor que isso pra proporcionar um novo alento ‘as CÁPSULAS futuras.

Se você achou a de ontem diferente das demais, vá se preparando que o que tenho planejado até o momento é, entre outras coisas, revelar a origem do mundo e o segredo da existência.

Afinal, por que somos como somos?

Héin?
O desafio é esse e vou decepcionar todo mundo indo na direção que ninguém espera e o Tao indica.

Sunday, August 21, 2005

Meta.

Vai lendo:
CÁPSULAS
“AUTOR EM FUGA”
A.Moraes

Painel 1;
Abrimos com Abs sentado diante de sua mesa com o computador ligado e o Word na tela. O ambiente é todo branco, mas o computador e seus periféricos são pretos.

VOZ(OP): Arrããã!

Painel 2;
Abs faz a cadeira de rodinhas girar de modo a ficar de frente para o leitor. Ele tem uma expressão de grata surpresa no rosto.

ABS: Ah, você chegou, afinal!

ABS: Sabe, por alguns momentos achei que não conseguiria.

Painel 3;
Ele tira, pacientemente, um Lucky do maço.

ABS: Verdade. Passei muito tempo pensando no que fazer com você. Imaginei várias resoluções possíveis mas nenhuma me agradou.

Painel 4;
Com um isqueiro Bic! branco dotado de olhos de desenho animado e franzindo o rosto, ele acende o cigarro.

ABS: Nem a que usei.

ABS: Provável que tenha desagradado também quem acompanha a série por terminar num paroxismo.

Painel 5;
Com os dedos indicador e médio em forquilha, ele afasta o cigarro dos lábios e expele fumaça, ocultando a parte inferior de seu rosto.

ABS: Terminar com o momento anterior ao final é um dos recursos narrativos que mais aprecio.

ABS: Permite que o leitor complete a história usando seu próprio repertório

Painel 6;
Ele gesticula com a mão que segura o cigarro traçando um arco ascendente.

ABS: Sei que você não veio aqui pra ouvir isso.

ABS: É do futuro que se trata, não? Seu futuro? Pois bem...

Painel 7;
Abs se levanta da cadeira e gesticula para seu interlocutor invisível aproximar-se.

ABS: ...por que não dá uma olhada?

ABS: Estava trabalhando nele bem na hora em que você chegou.

Painel 8;
A câmera aproxima-se da cadeira e do computador, passando por Abs, ainda em pé com cigarro e tudo mais.

ABS: Então?

Painel 9;
Mostra a tela com o Word, este trecho do roteiro, talvez do painel 7 em diante e pronto. Só isso.

ABS(OP): O que acha?

FIM

Linguagem.

Digito enquanto o almoço não fica pronto e sem propósito aparente. A idéia é que o “propósito” apareça durante o processo de escritura.

Tá.

Uma das coisas em que continuo pensando com cada vez mais freqüência é na linguagem dos quadrinhos.

Dizer que há arte seqüencial pra mim é dizer tudo.

Repito isso como um mantra todos os dias, vezes sem conta.

Por quê?

Simples:

Tem um monte de gente que cisma em gorgolejar que a linguagem supra é só um composto de textos e imagens quando nada poderia ser mais distante da realidade.

Texto é uma coisa, arte é outra coisa. Ponha as duas juntas e você obtém um terceiro elemento que não é e, ao mesmo tempo, é uma combinação das duas.

O que me faz lembrar de algo já dito a respeito da gestalt que se aplica perfeitamente ‘a minha ladainha incessante sobre quadrinhos: o todo é maior do que a soma das partes.

Isto posto, sabemos que o todo está infundido nas partes e, numa história em quadrinhos verdadeira, um elemento não pode ser separado do outro sem perda real.

O que me faz questionar o que seria uma hq de verdade...

É aquela em que os elementos se complementam de modo a não ser possível a compreensão deles em separado.

Se você tira a arte de uma história e ela continua compreensível, por exemplo, poderia ser perfeitamente um texto em prosa.

Se você tira o texto de uma história e ela continua compreensível, tudo está ok, porque a arte de uma história é também seu texto.

Mais ainda, o texto de uma história é também sua arte, já que o letreiramento faz parte da arte. Exemplo melhor do que os estupros na arte vistos em alguns mangás reproduzidos no Brasil por causa da substituição dos kanjis por simples onomatopéias com letras do alfabeto romano não há.

Então, nas histórias em quadrinhos, tudo é texto. Mesmo, acredite.

Tá certo que isso é difícil de aceitar quando se pensa em historinhas da Marvel, por exemplo, mas vá lá e pegue o último volume de Crumb que cê adquiriu e diga se estou mentindo. Ou o último exemplar de qualquer coisa do Millazo, Eddie Campbell, Antonio Eder ou seus pares.

A verdade, definitivamente, é que se faz necessário aceitar a linguagem como coisa única, não como híbrido de coisas distintas.

Saturday, August 20, 2005

Ressurreto.

Sem mais delongas que cansei ao digitar isso tudo... fazia tempo... Fim de ciclo.
CÁPSULAS
“CENTAURO”
A.Moraes

Painel 1;
‘A margem do rio caudaloso, vemos uma balsa daquelas que fazem a travessia usando um sistema de roldanas e cordas além dos não menos importantes remos. Dois homens e um cavalo aparecem sobre ela, silhuetados contra o crepúsculo.

RECORDATÓRIO: Et la nave va...

RECORDATÓRIO: O número de migrantes no exterior nunca diminui porque as pessoas não param de mover-se.

Painel 2;
A planície coberta de vegetação rasteira sobre a qual um dos homens do painel anterior cavalga, também silhuetado contra o horizonte de modo que uma olhadela menos atenta mostraria, aparentemente, um centauro.

RECORDATÓRIO: Esse comportamento fluído aliado ao conhecimento pode ser a chave de saída do território selvagem.

Painel 3;
Aqui retomamos Abel,um dos poucos que escaparam do SISTEMA em “FUGA”. Ainda está inteiro, só mais estropiado, barbudo e com um brilho novo no olhar. Ele caminha decidido com uma mochila nas costas em direção a uma depressão no terreno da qual não mostraremos o fundo. O cavalo está amarrado num arbusto pouco atrás dele.

RECORDATÓRIO: O caminho sofre a influência do peregrino. Pode ser fácil ou difícil, íngreme ou plano e assim por diante.

RECORDATÓRIO: A maioria ignora o que os leva a partir.

Painel 4;
No fundo da depressão, ainda acompanhando Abel, vemos a entrada do que parece ser uma caverna ou galeria de minas com uma placa de PERIGO caída lateralmente e semicoberta por pedras e vegetação rasteira.

RECORDATÓRIO: Para Abel, no entanto, tudo continua límpido e claro: ganhar distância do pesadelo em que acordou.

Painel 5;
Abel na entrada da mina, desaparecendo lentamente na escuridão. Só a parte posterior de seu corpo ainda é visível neste aqui.

RECORDATÓRIO: Ele não mede esforços nem reprime sua curiosidade. Só avança.

Painel 6;
Todo preto.

RECORDATÓRIO:Mesmo o vazio imensurável ainda é preferível ao despertar de correias, algemas e seringas, ‘a privação da liberdade de sonhar.

Painel 7;
Abel acende um fósforo e põe fogo numa tocha que tirou da mochila. A luz bruxuleia e dá um clima fantasmagórico ‘a cena. As feições de Abel parecem deformadas na pouca luz disponível.

RECORDATÓRIO: Ele prefere escolher sozinho, escrever sua história e ignorar todos os que se dispõem a prever e ordenar a vida alheia.

Painel 8;
Andando por um corredor estreito, paredes e teto sustentados por vigas de madeira, tocha na mão.

RECORDATÓRIO: Traçar seu caminho um passo por vez.

Painel 9;
Ele está parado agora diante de uma escadaria iluminada com luz própria. Prende a tocha num suporte de parede antes do umbral, olhando em direção da luz.

RECORDATÓRIO: Sem interferências indesejadas.

FIM.

Friday, August 19, 2005

Improviso.

De hoje:
Terminei o primeiro tratamento da última historinha do segundo ciclo de CÁPSULAS.

Ficou engraçado escrever esse negócio aí em cima, com tantos indicadores de ordem.

O título de trabalho, que, é provável, será mudado, é STULTIFERA NAVIS, referência nada oculta ‘a HISTÓRIA DA LOUCURA, livro de Foucault que tem me inspirado, entre tantos outros, a prosseguir com a insanidade que é escrever. Ou prova de insanidade. Você escolhe.

A história se resume, basicamente, ‘a uma nova transição, da perspectiva do segundo ciclo pra do terceiro e não tem maiores pretensões.

Quando tudo estiver devidamente amarrado, publico aqui junto com as outras. O que tem me pegado é a desaceleração que sofri com o retorno ao trabalho secular. Mas quero fomentar uma fórmula de desenvolvimento que me poupe dos tropeços e travas comuns ao processo de criação fragmentário.

Uma das possíveis válvulas de escape é o retorno ao bloco de notas como auxiliar nos momentos em que me encontro longe demais do computador pra digitar qualquer coisa. Pelo menos enquanto não dispuser de um notebook eletrônico.

Que mais?

Terminei, há algumas horas, de ler BLACK FLAG e, posso dizer sem pestanejar que estou num mar de sincronicidades literárias. De novo.

Não que isso seja ruim (dissílabo)... é só que ainda tenho dificuldades em lidar com coisas que pertencem ao campo do Mistério.

Saber das coisas e entender das coisas... bom, são situações diferentes, apesar de parecerem similares. Claro que a separação entre ambas é de milímetros ou menos, mas nem por isso deixa de ser real. Gosto daquelas observações bem sacadas, como :”Um sonho não deixa de ser real por ter sido sonhado”. O que diferencia sonho e realidade é só uma sutileza e ambos fazem parte de algo maior que não pode ser simplesmente quebrado em pedaços e estudado sem que se perca elementos importantes pra sua apreensão.

Acho que tô num mood particularmente filosófico por causa dos encadeamentos divergentes e do súbito assalto do kosmos.

Como se tudo isso não bastasse, o fantasma de natais passados me apareceu. Não falamos nada, mas o corpo dela me disse que continua a mesma: perfeita quando vista sob a lente improvisada no fundo de um copo de tequila.

Tuesday, August 16, 2005

PROCURADO.

Sabe aquele momento não-especificado em que você se pega próximo ‘a Iluminação final?

Rá! ‘As vezes me acontece essa sensação estranha de estar de posse de todos os fatos. Mais estranho ainda é sacar, de repente, que a Iluminação não é o fim e que não se pode ignorar o Samsara e mergulhar no Nirvana de uma vez, ao contrário, deve-se surfar no mar da Forma e tirar o melhor proveito possível da experiência.

Pensando nesse monte de coisas aparentemente desconexas, peguei PROCURADO e comecei a reler, dessa vez com o intuito firme e irremovível de uma experiência não-serializada.

O engraçado do processo de criação de Millar é que tudo é exacerbadamente absurdo, de modo a justificar os risinhos irreprimíveis que provoca no leitor, mesmo numa leitura superficial.

O mesmo roteirista já teve sua quota de obras transcendentais, como é o caso de sua permanência no título do Monstro do Pântano, na minha opinião, mais digna e marcante em termos de criatividade do que qualquer coisa escrita recentemente por ele.

É. Mas não mais engraçada.

Por um motivo que não vou mencionar, ler PROCURADO é como assistir ‘a SIN CITY. Uma experiência extravagante que desnorteia um pouco e dá vazão ao riso.

Justifico minha reação ao filme de Rodriguez/Miller/Tarantino por se tratar da transposição, não adaptação, de uma mídia bidimensional pra uma tridimensional sem maiores preocupações. É só imaginar como seriam as graphics interpretadas por pessoas de carne e osso e, presto, você visualiza tudo sem maior esforço.

Em PROCURADO, Millar tenta trazer a figura do vilão ao mundo real e, sinceramente, não existe coisa mais ridícula, de fazer rir mesmo, do que alguém que se autodenomina malvado. Até escrever “malvado” há pouco me pareceu engraçado.

Imagine alguém usando o discurso direto, falando em voz alta a respeito de como “sou foda” que você capta com perfeição do que estou falando.

Como disse antes, Millar teve sua participação em escrever histórias melhores, mais inspiradas, mais criativas, mas ainda assim é necessário que alguém chafurde na merda de vez em quando pra nos trazer uma pérola do Samsara como essa.

Ih, acho que fiz exatamente o que disse que não faria mais. Isso deve significar que mudei de idéia e, portanto, não estou morto.
POST SCRIPTUM: Ainda esta semana deve aparecer o final do segundo ciclo de CÁPSULAS. É so o tempo de conseguir juntar todos os fragmentos que tenho.

Monday, August 15, 2005

Hoje.

Completamente outra coisa no dia de hoje.

Por incrível que pareça, gostaria de recomendar algumas leituras, mas sem emitir juízo de valor sobre elas, já que deixei claro que o valor é, bem, relativo.

Uma das histórias que reli ontem foi HELLBLAZER: LOVE STREET, na verdade, um complemento habilmente elaborado pra mítica de SANDMAN, em que Peter Hogan e Michael Zulli mostram o destino de um dos vários sonhos desaparecidos no primeiro arco da revista do sr. Morpheus.

Outra coisa que estou relendo e gostando cada vez menos é OS LIVROS DE MAGIA. Engraçado como a medida que o tempo passa algumas releituras chegam a ser dolorosas. Preciso me forçar a ler alguns trechos que, a meu ver, foram escritos no fórceps. Não que isso seja antinatural, apesar de eu saber perfeitamente como soa a declaração acima, mas há um limite muito claro agora em minha cabeça pro que é místico e o que é Místico. Na verdade, a historinha de Gaiman é boa fantasia, mas minha fase de apreciar esse tipo de literatura passou. Pelo menos por enquanto.

Agora, como dizem os gringos, os livros ‘de verdade’ que estou lendo exigem um pouco mais de compromisso do que o habitual mas compensam. De Foucault, HISTÓRIA DA LOUCURA é uma excelente pedida. Só a introdução, em que o autor discute o valor da introdução ou prefácio, já vale a entrada. O tema principal ser a exclusão só dignifica um tanto mais a leitura.

MINHA IDÉIA DE DIVERSÃO, de Will Self, foi adquirido hoje depois de uma tremenda resistência que me impus no sábado. Li COCK & BULL do mesmo autor há uma dezena de anos e achei que seria interessante uma nova olhadela na prosa do sujeito daquele período pra ver se me tornei mais ou menos competente em lidar com a repulsa que o mesmo é tão proficiente em causar aos desavisados. Na primeira página, Ian, narrador, diz que gostaria de decapitar um mendigo e fornicar com o buraco remanescente do pescoço.

BLACK FLAG comprei na FIQ. Li o primeiro capítulo hoje e achei surpreendente a idéia pra cena inicial. Confusão instaurada em não mais que dez páginas, o autor limpa o palato e prepara-se pra investir em frentes diferentes das imaginadas inicialmente.

Ainda lendo COMO E POR QUE LER, de Harold Bloom por intervenção externa. Surpreso que o livro funcione comigo por conta de minha resistência declarada ‘a opinião de terceiros sobre obras que, julgo, devem ser experimentadas em primeira mão. O fato de ele concordar com minha opinião a respeito de MERIDIANO SANGRENTO, de Cormac McCarthy deve ter alguma relação com minha tolerância. Além disso, há o fator de vários dos livros sugeridos não terem tradução e serem, assim, mais difíceis de encontrar.

Sei que disse que não emitiria juízo de valor mas acredito, ao mesmo tempo, que é dificílimo manter essa impostura. Uma vez que menciono qualquer obra já a estou julgando.
No mais, boa noite.

Sunday, August 14, 2005

Visões.

Nada e tudo a ver com o já dito anteriormente. Me falta gás pra insistir com o assunto anterior, assim como pra justificar qualquer escritura no momento.

É a natureza da coisa, pelo menos pra mim é assim. O fato de escrever como terapia influencia e muito. Se minha mola fosse outra seria diferente, mas sendo essa, termino escrevendo só quando quero dar sentido ‘a minha perspectiva de mundo.

O curioso é que, apesar de ter essa consciência de não haver necessidade de desgaste pelo menos no momento, provavelmente por não ter o que acrescentar agora, por não ter questão alguma a ser respondida, ainda assim sinto o frêmito inconfundível de deitar narração ao papel, mesmo ao papel virtual.

Acredite, não é falta do que dizer, é só aquele vazio que dói na alma por se saber que tanta gente mais competente já disse o que se pode e o que sobra é um arremedo de discurso redundante que nada acrescenta.

Fuçando meus gibis mais velhos, encontrei o exemplar de UTÓPOLIS que gerou minha primeira investida na rede, a encarnação primitiva de ENTRE QUADRINHOS, coluna que mantive esparsamente por um par de anos no UHQ.

Hoje li uma coluna similar de um conhecido no HQM e me peguei questionando a validade de escrever em prosa sobre um meio holístico como hq. McCloud está certíssimo em abordar tudo ao mesmo tempo como em seus dois livros UNDERSTANDING e REINVENTING COMICS.

Mesmo que a habilidade ensaística do escrivinhador seja maior do que a minha, ainda hei de questionar os motivos de falar sobre algo tão sui generis. O ideal é experimentar em primeira mão, não através da experiência de outrem.

Entra nisso o princípio da incerteza da física, só que aplicado ‘a arte. Minha opinião sobre tal e qual música pode ser diversa da opinião de um adolescente. Quer dizer, a essa altura, tem que ser diversa ou eu estaria tornando muito fácil minha classificação num nível menos especializado do que o meu atual.

Mas também tem a ver... o princípio da incerteza diz que o próprio ato de observar determinado objeto pode mudar o comportamento do mesmo. No caso da física, ao usar luz sobre partículas pequenas demais, faz-se com que seu movimento natural sofra alteração.

No caso da experiência de leitura, o indivíduo leitor o complementa, complementa o objeto de leitura com sua própria vida.

A minha atual é bem diferente da que eu levava aos dezessete anos e o que foi dito acima não teve a menor intenção de ofender os adolescentes.

Assim, eis a questão que talvez estivesse me perturbando ou incomodando, pelo menos o bastante pra que me desse a aborrecida tarefa de escrever: vale ‘a pena o esforço de falar de alguma obra de modo a incentivar ou não o consumo da mesma por parte de terceiros?

Dúvida cruel.

Falar por falar não é nada. O problema é que quando falamos acrescentamos nossa própria experiência ao discurso e damos uma visão distorcida do objeto. O que vale mais? Dizer: leia tal coisa. É memorável. Ou: você vai ficar aterrorizado!

Sim, sim. Mais um episódio análogo que acaba de me ocorrer: um amigo assistiu THE BLAIR WITCH PROJECT e ficou excitado o bastante com o filme pra me perguntar se eu já o tinha visto. Na época, não, não tinha, mas fui logo a seguir. Com a expectativa gerada pela observação: “Precisa de calça plástica pra não sujar a roupa!” A decepção, como você bem pode imaginar, foi enorme.

O fato de eu não poder reproduzir a lente e a luz sob a qual o objeto foi examinado pelo outro não me faz menos capaz. Só diferente.

É engraçado que esteja escrevendo ainda sobre o assunto mesmo sendo adulto há tempos. Tem a ver mais com os outros que comigo. É, de repente, defender um ponto de vista é mais importante pra uns que pra outros.

Sunday, August 07, 2005

Tendências.

Já falei aqui do Romantismo como reação alérgica ao Iluminismo.

Ainda brigando pra descobrir os motivos, todos eles, dessa quase intoxicação informacional.

O que o Iluminismo ou Modernidade fez foi trazer ‘a mesa a diferenciação entre elementos que até então se confundiam.

Soube-se diferenciar o self, a cultura e a ciência pela primeira vez.

É o princípio do solve et coagula de que já tratei em algum ponto anterior só que num momento em que falava exclusivamente de quadrinhos.

O problema maior, pelo que entendo do problema, é que se fez a diferenciação mas não a integração dos princípios.

O Romantismo surge como uma resposta a este problema.

O erro do Romantismo, no entanto, foi retroceder ao estágio anterior em que a diferenciação não existia, em que tudo era uma grande e confusa bola de neve sem começo ou fim.

Agora, voltando a tratar da temática poesia versus hqs e aplicando o que foi dito até o momento, há de se pensar que temáticas variáveis têm surgido através da história das duas linguagens tentando preencher lacunas sem nunca integrá-las.

Depois do Romantismo, na poesia, temos o Parnasianismo, que deixou de lado o conteúdo e dedicou-se quase que exclusivamente ‘a forma.

Depois do Parnasianismo, surge o Simbolismo, que vai atrás de compensar a ausência de sensações, a ausência de sinestesia nas artes poéticas.

Agora, imagine só se alguém juntasse as três tendências numa coisa só, integrada e funcional: o sentimentalismo/subjetivismo do Romantismo, a técnica do Parnasianismo e a sinestesia do Simbolismo.

A poesia chegaria num ponto que não poderia ser ignorado.

Falo disso tudo porque as hqs, o meio de comunicação ou expressão artística de minha opção, vem passando por transformações similares.

Já tivemos nossas eras de Ouro, Prata e Bronze, nossa era das Trevas e sabe-se lá o que está a caminho agora, mas imagino que uma integração de tendências seja a nova tendência.

Como faltam só 3 horas e quinze minutos pra eu acordar e ir trabalhar, paro por aqui, apesar de sentir que a cabeça, depois de um longo e tenebroso inverno de inatividade, vai me recusar o repouso necessário.

Saturday, August 06, 2005

Ritmo.

Fora do padrão a que me habituei nos já quase distantes dias de férias mas ainda inclinado ao registro escrito do que venho fazendo por último. Nada excessivo, claro, a não ser pela carga de trabalho e o excesso de filmes, sempre os filmes em abundância, só o bastante pra manter os neurônios em atividade.
Vi FILME FALADO hoje e confesso ter ficado embevecido e chocado, sentimentos misturados, mesmo, e difíceis de evitar.
A propósito disso, tenho pensado mais em poesia com o retorno da atividade secular e no que os vários períodos literários acrescentaram aos anteriores.
Pra quem ignora, sou defensor de que as hqs têm mais similaridades com a poesia do que com a prosa. Qualquer indivíduo com um mínimo de discernimento sabe disso, mas como sou pago pra ensinar, insisto no velho padre nosso ao vigário.
Uma das coisas que mais me pegam quando ensino poesia é o estereótipo médio que se tem dela, de que poesia é sinonímia de sentimentalismo quando, na verdade, é uma plataforma perfeita pra qualquer discurso. Evidente que o discurso amoroso é o que mais sobressai na produção poética, só que dizer tratar-se da única possibilidade pra essa forma de expressão seria ignorar que qualquer conteúdo cabe nela.
Me ocorreu agora outra possibilidade de comparação entre poesia e hq: o amor está pra poesia como os super-heróis estão pra hq.
Enfim, isso aqui é a respeito de linguagens, certo? E suas semelhanças.
Na verdade, quando escrevi o título do post não estava pensando em absolutamente nada. A essa altura você já notou, entre outras coisas, que voltei a usar advérbios no discurso. Explico: é tarde, estou cansado e o registro é mais um diário do que qualquer coisa. Pra lembrar do que estava pensando na ocasião anterior 'a presente que estará, no futuro, diante de mim.
A questão do ritmo é uma das similaridades de que falei.
Poesia vive de ritmo, assim como os bons quadrinhos. Texto demais atulha a hq. Há exemplos de montão disso, basta que você vá a sua coleção particular e apanhe um exemplar qualquer de quadrinhos super-heroísticos mais 'a mão. O Arqueiro Verde de Kevin Smith é um exemplo recente capaz de afundar o fluxo da história por causa do excesso supramencionado.
Muita gente que faz hq está envolvida em um ou outro grau com música. É difícil encontrar quadrinhista que não toque um instrumento ou que dirija. Não sei qual é o fenômeno que ocorre, masestá aí. Alguma área do cérebro deve deixar de funcionar como compensação de outra que funciona em excesso.
Poesia também envolve pausas, calhas, se preferir e, poesia concreta em particular se assemelha mais ainda com quadrinhos por fazer uso dos espaços em branco da página e da formatação do texto pra comunicar idéias.
Ia falar um pouco dos conteúdos e das possibilidades discursivas mas cansei.
Se tudo der certo, amanhã continuo meu esforço pra colocar as novas idéias a respeito da mídia em perspectiva de modo a permitir assimilação mais tranqüila, sem a necessidade de alteradores de consciência químicos.

Thursday, August 04, 2005

Superstição.

Me chame de antiquado, mas de uns tempos pra cá tenho me tornado cada vez mais supersticioso com relação a números e é só por isso que escrevo hoje, pra sair da numeração atual de postagens.
Seria abusar demais de um estereótipo repetir que não creio mas que coisas incorpóreas existem?
Acho que sim.
E não adianta de nada, porque existem.
É mais ou menos como tentar estabelecer relação entre cérebro e mente. Já pensou nisso? É um tema que merece reflexão, certo?
O cérebro pode ser medido, pesado, examinado... anomalias cerebrais podem ser detectadas. A falta de serotonina pode causar depressão, mas ainda assim não seria a única causa, seria só o fator fisiológico. O emocional ficaria de fora da equação.
A mente, por outro lado, não é física.
O único modo de saber o que alguém pensa continua sendo a boa e velha conversa e, mesmo assim, ainda se corre o risco de ser iludido pelo interlocutor.
Ainda muito caminho pela frente pra formar uma opinião definitiva sobre o assunto, mas já no caminho.
E falando nisso, se você consegue se desviar do caminho é porque ele não é o Caminho.
Tô começando a sentir o Zen bater.
Dormir, sonhar talvez.

Wednesday, August 03, 2005

Adivinhou?

Pois é, sem tempo pra escrever, por mais que eu goste de fazê-lo.
Apesar disso, tudo está muito bem encaminhado, tenho o plot pro final do segundo ciclo se escrevendo em minha cabeça 'a medida que vou lendo UMA CANÇÃO DE PEDRA e AS MINAS DE SALOMÃO, último cavalheiro extraordinário da série.
Depois vem o vácuo inicial do terceiro ciclo. Apesar de já saber do que se trata, ainda não imaginei a abordagem correta, o que fazer não, mas como fazer. São três aspectos, três visões, três percepções diferentes, mais ou menos, dos mesmos assuntos.
Talvez o truque pro grand finale seja tão somente incluir o cartógrafo no mapa, coisa que ainda não foi feita, apesar de já ter sido anunciada.
Só de pensar em fazer o processo criativo já começa a tomar corpo. É um negócio velho, antiquado até, se quiser, dizer isso, mas que funciona e é real não se pode discutir.
Fake it until you make it, como já dizia mr.Morrison.
Por hoje é isso.
Mais quando houver mais e todos aqueles clichês de quem tá com sono que cês conhecem.