Friday, April 22, 2005

Arreguei.

Cara... tem coisas que definitivamente vêm pro bem.

Estive pensando (mais uma vez) em deletar o blog.

Motivo: nenhum. Igualzinho ao motivo que tenho pra escrever aqui diariamente ou em qualquer outro ritmo: nenhum.

Acho que é isso. Nada a dizer demais. Ou nada que valha 'a pena ser dito. Vou pensar mais antes de meter as caras e datilografar qualquer coisa pra consumo alheio. Não quero mais perder o meu ou o seu (sim, você aí, meu leitor solitário) tempo com baboseiras sobre o estado calamitoso em que me encontro porque não me ajuda em nada. Ponto.

Decidi, no entanto, deixar essa bagaça aqui, flutuando no éter binário por mais uma ou duas semanas. Se nesse período eu tiver alguma coisa a mais, qualquer coisa a acrescentar a esse raciocínio que considero perfeito (não tenho nada a dizer, portanto silencio), significa que o blog vive. Se, em duas semanas, não surgir aquele clic!, aquela vontade, bá-bau!

Au revoir, merci!

Wednesday, April 20, 2005

FLOR.

Minha vontade está cada vez mais reduzida. Pra mim, vitória pessoal hoje em dia é conseguir trocar a resistência do chuveiro sem me eletrocutar. Vontade e entusiasmo se confundem. Me faltam os dois. Me sobra raiva. Só não tenho pique de tomar nenhuma atitude quanto a isso. Tô tão esvaziado de energia e sem sequer suspeitar de onde pode haver uma fonte qualquer de emergência, só consigo me arrastar e sigo em frente muito a contragosto.

Já disse: elocubrações a meu próprio respeito, a respeito de meu estado físico e mental (sim, leu direito, mental) podem se tornar importantes pra mim de repente e não vou deixar de escrever sobre essas coisas que, de jeito maneira, são menos legítimas do que qualquer outra baboseira ficcional que me dê na telha martelar.

Coloquei essa "flor" aí em cima não sei bem porque. Um impulso, talvez. Queria poder escrever sobre algo agradável, pra variar um pouco. Algo que me tomasse de assalto, me fizesse esquecer de meus problemas sem ter que ingerir álcool. Sim, nem isso posso fazer, já que o antibiótico que ando tomando não combina nem um pouco com bebida recreativa nenhuma. Da última vez que tentei algo assim não consegui ficar em pé por um dia inteiro. Bendita labirintite.

Terminei de ler dois dos livros que estava devorando na última semana. A antologia chinesa perde força depois do início do regime comunista. Uma pena. Ainda assim tá valendo por revelar hábitos e costumes do lugar nesse período. O trabalho de Sacks, posso dizer com certeza, é um trabalho de amor. Dá pra perceber, e ler nas entrelinhas, o quanto o sujeito gosta do que faz.

Esqueci de falar do trailler de SIN CITY que assisti antes de O CLÃ. Acho que ir ao cinema naquele dia já valeu 'a pena por isso.

Agora dá licença que seu Swift tá esperando. Louco e surdo como eu, o velho tem pouca paciência.

Monday, April 18, 2005

CLÃ.

Um daqueles dias atípicos em que corri pra cá, pra lá e consegui fazer mais coisas que o habitual.

Uma delas foi assistir ao obrigatório O CLÃ DAS ADAGAS VOADORAS. Excelente no quesito visual, vazio, praticamente vazio de conteúdo. Pelo menos em comparação com HERÓI, este sim, redondíssimo. Apesar de não ter Michelle Yeoh e Chow Yun Fat no elenco, tem lá o Takeshi Kaneshiro, primeiro ator japonês com potencial (leia-se: presença cênica, humor, carisma) pra ser o número oposto de Chow. E, ainda por cima, é um cara jovem. Já tinha visto Takeshi em O RETORNO, fc competente apesar de muito parecida com muita coisa que veio antes e ele me deixou com uma impressão muito boa.

CLÃ peca, a meu ver, por deixar em segundo plano a trama política, coisa que HERÓI não fez. Ao invés de se preocupar só com um aspecto do filme, Yimou se preocupou com o filme todo da primeira vez. Da segunda fez concessões demais. É certo que tem muita gente que acha CLÃ superior a HERÓI, mas não é meu caso. Ver Zhang Zhyi praticamente repetir seu papel de O TIGRE E O DRAGÃO fou um pouco chato. O espectador até já espera determinadas atitudes dela. Cahorro velho! Cachorro velho!!!

Hoje tirei folga do Daniel e suas elocubrações românticas. Quero que ele cresça um pouco no escuro, agora. O discurso ultraromântico é outra armadilha de tédio sem a qual posso passar.

No front literário comprei uma tradução decente de AS VIAGENS DE GULLIVER, do Swift, sim, meu querido Swift, que já fazia falta. Da próxima vez quero tentar esse material no original pra ver como funciona. Claro que vou precisar esperar outra Bienal do livro pra encontrar coisa remotamente parecida. Foi numa dessas que consegui meu Carroll completo, assim como meu Poe. Do Jon já tenho sua obra panfletária completa e faltava o que consegui hoje. Além de GULLIVER, encontrei SOBRE O OFÍCIO DO ESCRITOR, do bom e velho niilista Arthur Shopenhauer. Pra quem não sabe, sem o Artie a gente não teria Wagner nem Nietzche como temos hoje, pelo menos.

Gibis? Puá!

Não quero mais aber dessa merda!

Rárárá!

Enganei você?

Ótimo.

Sunday, April 17, 2005

Um gosto qualquer.

Quero, espero, desejo, recuperar, nem que por um ou dois momentos, ainda, a velha sensação de propósito que até há pouco tinha. A única coisa agora é esse vazio, essa chatice, essa ausência. Acima de tudo, a liberdade de ser eu-mesmo, essa criatura mitológica que enterrei por concessação aos outros. Exumá-la-ei, reacenderei seu fôlego com álcool e fósforos e o velho combustível da alma deve queimar ainda, nem que por alguns segundos, talvez um punhado de terceiros e, com muita, muita, muita sorte, quartos e quintos.

Depois novamente a brusquidão do vazio e o tédio sem fim, esse tédio de jardins de cascalho pré-arranjados de modo a projetar sombras, jardim de sombras, de momentos projetados pela presença ou ausência da luz, jardim de mesmices inéditas que dependem de nuvens, clarezas e obscuridades. E o movimento do rodo, todo de madeira, levando e trazendo o cascalho, o barulho insuportável, que não me faz falta, de uma betoneira conceitual que só não é mais repetitiva porque manuseada por mãos humanas e falhas e cansadas.

Agora, meu encontro adiado com o que importa.

NEWSARAMA - REVIEWING BLADE OF THE IMMORTAL - ALL 99 ISSUES

Carro.

Vi ele se aproximando enquanto eu cruzava a rua e não senti absolutamente nada, sequer um friozinho na espinha e essas coisas corriqueiras. Só que estava mais perto, mais perto e que o párabrisa era filmado, que, talvez, em seu interior houvesse um sei-lá-o-quê, entidade desencarnada, reflexo de meu desejo tão subito e tão forte de ir embora de vez pra Pasárgada, meu desejo absoluto de deixar de lado todos os aborrecimentos e pessoas aborrecidas com quem tive contato ultimamente.

Chame de autodestruição, vontade de aniquilação ou o que quer que seja... fuga, alienação... tudo é justificável. A imersão no espírito romântico e/ou ultraromântico, a evasão na morte, tudo isso é reflexivo da peça em questão, da peça ficcional em produção, em que estou me lançando completo, inteiro, e não aos pedaços como vinha fazendo antes. Não só técnica, mas técnica, tripas e alma, tudo junto, um uníssono louco que pode vir a imitar momentos de gente de verdade, gente viva, inconseqüente e com hormônios e tesão e total ausência de padrões a serem obedecidos.

Padrões, padrões, padrões.

Besteira, besteira, besteira.

Que simetria que nada.

A vida só é simétrica por acidente e só é possível ver beleza na simetria se você tiver conhecimento prévio dela. Tanto da beleza, do que é belo, quanto da simetria, do que é simétrico. De resto, há caos, há cows. Lembro de um bando de poetas metidos a cientistas ou cientistas metidos a poetas que quiseram provar que havia padrão mesmo no caos e dá-lhe Mandelbröt neles até que outros cientistas vieram e provaram que havia erros, erros cruciais nos cálculos e... cê sabe.

A nouvelle vague francesa é mais interessante agora. O estoícismo, a força necessária pra deixar de fora a poesia, a simetria e a fantasia numa peça que foge do real e tem raízes profundas no ideal deve me ocupar bem por mais tempo do que eu pretendia originalmente, mas se escrevo, se escrevo mesmo é só com esse propósito: me manter ocupado e ter um motivo pra não me preocupar com o que há atrás de um vidro filmado de automóvel anônimo.

Saturday, April 16, 2005

Ah, essas soluções...

...que encontrei nas narrativas de MARAVILHAS DO CONTO CHINÊS são, na melhor das acepções, fantásticas!

Que imaginário!

Que falta, que ausência de limites!

Tudo tão bonito que hoje senti vontade, fui levado 'a beira, de chorar, das lágrimas... só um controle férreo dos escretores lacrimais me pouparam vexame maior. Ainda assim, tão embevecido fiquei que quase não volto pra casa. É isso que dá ler no transporte coletivo. Hábito mau, hábito mau!

Mais de uma vez vi que o preconceito com o sobrenatural é inexistente. Fantasmas e espíritos animais se relacionam de igual pra igual com os vivos e os humanos e não falham em ser tão atraentes contra seu número oposto vivo e racional.

Há até, em CHENG E O GRILO, um achado literário que justifica minha opção por situar SONHO na China. Um duplo! Uma projeção inconsciente de um desejo consciente de redenção!

Lindo!

Precisei só de trezentos anos pra lê-lo.

Só.

Trezentos.

Anos.

Uma mixaria.

Precisaria, no entanto, de mais tempo pra ler mais, assim como você, meu caro, me fosse dada a capacidade de escrever sem parar todas as coisas que me ocorrem no momento.

Mas ainda preciso dormir e, por quê não, parafraseando Shakespeare, talvez sonhar.

No momento.

Tenho a cabeça, tá, não só a cabeça, mas também o resto, o que excede o limite imposto pelo crânio, o que estende tentáculos e roça idéias para além do limite físico, adentra o imaterial, o que flutua solto, as idéias na fotosfera, estratosfera e outras esferas/feras, tudo cheio e ocupado, devidamente ocupado, como deve ser.

'As vezes me falta habilidade pra ordenar tudo, pra coordenar a multitude agregada em mim e fora de mim, o excesso que me priva até mesmo da habilidade motora. Mas não sei se isso é bom ou ruim. Tá, sei que tenho medo de assumir o risco maior, a perda da sanidade por um fluxo mais amplo de idéias, mais amplo e flexível de idéias, algo que me permita admitir não só uma possibilidade de real, do que é real, mas todas, todas as ilimitadas possibilidades que podem se abrir se, e somente se, o medo for devidamente negado.

Assumir o risco.

Mergulhar de cabeça no que é fantástico e abandonar de vez a realidade não esquecendo de deixar um mínimo de capacidade organizacional reservada para cumprir compromissos assumidos em outros tempos, em outra vida menos, muito menos interessante do que a que agora se afigura.

No momento... minha dúvidas não são mais dúvidas, adquirem semelhança muito forte com as certezas absolutas e maníacas que fazem o mundo ser o lugar podre que é, em que tudo é justificável pelo ponto de vista de quem erra, de quem comete o crime, mesmo de morte, mesmo que aprove a doença, a negligência. The Carpenters. E todo o resto.

Ser maior e melhor e mais flexível vem sendo possível graças ao uso de coadjuvantes químicos e um esforço consciente de vontade. Um esforço consciente de vontade para tornar-me inconsciente de mim mesmo outra vez, inconsciente do mundo e do que me liga a ele, meu corpo, meu corpo que decai cada vez mais rapidamente e funciona como âncora, uma âncora triste e cada vez mais supérflua. A vida incorpórea se mostra mais e mais atraente, mais e mais próxima.

O êxtase final.

Ascensão.

Nirvana.

O Tao da química.

Friday, April 15, 2005

Delírios de um anormal.

O que é a normalidade?

Hã?

Leia rápido:

O que é anormalidade?

Lembro de, numa das várias escapadas da facul pro cinema, ter ido parar no único exemplar da baixada que trazia(ainda hoje, pelo que reza a lenda) filmes alternativos e, assim, ter visto o trailler impagável do filme cujo título emprestei pra este post. Mais uma produção do seu Zé Mojica. Foi tão marcante que lembro do trailler e não lembro do filme assistido. É, Zé do caixão teve um sério impacto no meu imaginário, tanto que ele aparece como barman em CHERCHEZ LA FEMME.

É aqui que faço uma pausa e explico a que venho, claro.

Zé, apesar de todas as limitações que os realistas transformariam numa boa base prum romance de tese e um par de jornalistas transformou na mais divertida biografia que li até hoje, é um puta gênio! O personagem principal de seu filme era submetido a hipnose pelo bom doutor Mojica e daí advinham as mais diversas barbaridades... ah, o por quê da hipnose? Parte do tratamento para que ele parasse de ver Zé do Caixão em seus pesadelos ou algo assim. O fato é que seu Mojica sacou que a imagem que criou pro seu personagem era forte o suficiente pra permitir metalinguagem e ele não se esquivou de seu uso, apesar de tudo. Zé é o Rod Serling brasileiro.

Aliás, enquanto tava escrevendo OGJ pus seu Rod num dos capítulos e depois mudei de idéia, quis substituir por seu Zé, dar uma cor mais local e tudo mais, mas a preguiça falou mais alto. E como você nunca vai ler essa história mesmo, não fez a menor diferença. Pelo menos me poupei o trabalho de reescrever algumas cenas e dormi do mesmo jeito no fim do dia.

No final das contas, isso aqui é tudo sobre o que é normal e o que é anormal, mais um subproduto de minha leitura de Oliver Sacks. O médico gringo é bom escritor e faz pensar. Em alguns momentos senti a propensão de anunciar um ou outro distúrbio de comportamento pra tentar descolar um tratamento "de grátis" com o sujeito, mas sejamos realistas, terminaria numa camisa de força batendo com a cabeça na parede num asilo qualquer da periferia... tá, já faço isso todo dia, de segunda 'a sexta indo ao trabalho secular. Bater com a cabeça aos sábados e domingos fica totalmente fora de cogitação, então.

Numa das várias subseções do livro, Sacks fala do excesso. Na primeira, é a falta. Lembrei do ARKHAM ASYLUM, do Morrison, porque em um momento da narrativa a médica responsável diz que o Coringa pode sofrer de supersanidade. O conceito me pegou tanto quanto a idéia do endorcismo e agora vejo que é tudo real, de verdade e acontece mesmo. Pessoas que são mais felizes com a doença mental do que eram, arrã, "normalmente", entram em definitivo na minha lista de interesse por conta da linha de pesquisa que tenho feito a respeito de percepções, diferenças entre mente e cérebro etc. Todos assuntos que me interessam e pelos quais nutro curiosidade crescente.

Daniel Ley, por exemplo, logo no começo de sua história sofre um ACV e se vê transportado a uma realidade que desconhece. O dano cerebral, em seu caso, funciona também como recurso narrativo. Aliás, uma das coisas que me interessaram em O HOMEM QUE CONFUNDIU... foi o caso de um idoso vítima da síndrome de Korsakov que, ao perceber a perda gradual de sua memória, passou a inventar novas identidades e fatos de sua história pessoal a fim de manter-se minimamente humano. Pense a respeito: todos precisamos dessa "narrativa interna" pra manter o senso de identidade e a noção de humanidade bem clara.

Outra paciente de neurossífilis descobriu que o efeito da doença deu um novo colorido 'a sua vida. Mais coisas a explorar.

O que é a normalidade?

Junte tudo.

'As turras.

Adoro isso e também um pouco daquilo.

Se tudo correu como planejado, ainda esta semana estarei pondo as mãos num punhado de exemplares da já mítica MANTICORE #3, número cabalístico cujo significado me escapa completamente. Nas entranhas de sua origem, MANTICORE seria uma revista/antologia colorida em papel cuchê (como se pode verificar nos dois primeiros números onde serializou-se CHUPACABRAS) e traria, em seu terceiro número, minha hq com José Aguiar GENEALOGIA DO MAL. Mais de 5 anos se passaram e agora, numa virada mais realista da história, aparece o terceiro numero em pb com minha história com Léo Andrade O ÚLTIMO COMPUTADOR.

Se você for de Santos, fiquesperto que o ponto de sempre deve receber o grosso dos exemplares que chegarem em minhas mãos. O grosso, Massula!

Nova novidade.

Perdi as contas de quantas vezes utilizei essas palavras como título de qualquer coisa.

Pra não prolongar ainda mais a agonia de me "ler" no presente estado de espírito, patrocinado exclusivamente por um ou dois espasmos cerebrais que mudaram a química dos miolos a ser corrigida com a ingestão de várias substâncias ilícitas, siga o link pra ler a primeira matéria que fala como o Hector fez pra se autopublicar nos EUA:

http://www.tramauniversitario.com.br/tuv2/noticia/noticia.jsp?id=3944

Bomb voyage!

Thursday, April 14, 2005

Ontem e hoje.

Ontem tava tão cansado que, apesar de ter checado e-mail e tudo mais, não tive pique de escrever nada aqui. Cansaço dos mais atrozes.

Hoje o cansaço é o mesmo, tá, talvez piorado, já que mais um dia se acumulou sobre o outro, mas tive um par de idéias e quero tentar discorrer sobre elas pra meu próprio prazer.

Essa é uma delas, claro: escrever pra meu próprio prazer é um negócio que venho adiando há algum tempo por vários motivos, entre os quais, o princípio de negação. Não foi ontem nem ano passado que alguém me disse que eu escrevia só pra mim. Foi a um bom par de anos (leia-se 4). Fiquei puto. Me achei no direito de ficar puto. Mas de lá pra cá tive a oportunidade, mais de uma vez, de refletir sobre o assunto. O resultado de reflexões similares já apareceu por aqui há pouco tempo. Uma ficha que demorou a cair é que, apesar de escrever pra mim, pro tipo de leitor que eu e meus pares somos, me negava isso, dizia que qualquer pessoa poderia entender/apreciar o que quer que me desse na telha martelar no papel. Ainda tenho um ou dois argumentos que favorecem essa opinião, mas eliminei pelo menos metade deles com outro que diz que a pessoa teria que ter uma história de leituras similar 'a minha pra apreciar o que aprecio.

Outra, engraçado, é a capacidade terapêutica que os livros podem ter sobre mim. Outro dia coloquei uma lista dos textos que ando lendo ultimamente, mas não comentei o quanto essas leituras foram adiadas. O livro de Oliver Sacks, por exemplo, tenho desde 98, mas só agora, por motivos mais de autoconhecimento/autodiagnose me atrevi a fuçá-lo como devido. Tem sido recompensador. A antologia de contos chineses, idem, tenho até há mais tempo, mas só agora inventei a desculpa certa pra encará-la e tem me ajudado a balancear um pouco com fantástico a realidade 'as vezes cruel das anamneses de Sacks. Por fim, mas não menos importante, tive em mãos uma edição anterior da longa entrevista HITCHCOCK/TRUFFAUT, emprestada pelo meu amigo Sérgio dos Anjos e, apesar de dispor da dita cuja por vários meses, só agora, em versão definitiva e de minha posse, me atrevi a encará-la. E, agora, felizmente, com essa dosagem de coisas boas, meus neurotransmissores parecem desinibidos o bastante pra que eu sinta vontade de pensar e ser.

A máxima do dia, extraída da leitura de um gibi e que me pegou desprevenido é a seguinte: depressão é raiva sem entusiasmo. Sabe de uma coisa? Fazia tempo que eu sequer pensei no conceito de entusiasmo. Hoje, com a combinação de textos meio amalucada que enfrento, senti algo semelhante mover-se nas profundezas empedernidas de minha própria cabeça. Foi um tipo de coceirinha benéfica.

Tuesday, April 12, 2005

No Calvino.

Sem Calvino por enquanto.

Quero mesmo digitar aquele negócio ainda, mas pensar no trabalho que vai dar ter que lidar com os cata-milhos habituais além de minha (falta) de acuidade visual realmente desanima.

Ao contrário disso, no entanto, tem meu projetinho que muda de forma o tempo todo e me mantém animado. Se fosse um negócio estanque a essa altura do campeonato já estaria pegando pó com os outros projetos semi-escritos e abandonados, sem mãe e sem um pai que ligue pra eles.

E dá-lhe "sem". Se fosse contar o número de histórias que escrevi recentemente que estão sem desenhista... bom, perdi as contas. Não que esteja reclamando. Melhor que os caras façam alguma coisa que dê retorno financeiro do que martelem esse material inócuo, desprovido de riqueza que é o gibi brasileiro. E não tô falando de qualidade, não que qualidade a gente tem de sobra. A gente não tem é ninguém disposto a desembolsar uma graninha preciosa pra ler material nacional. Particularmente não quando se foi criado com uma dieta 'a base de Marvel/Dc e congêneres. Que bela merda. Não que eu tenha deixado de ler o que me interessa. Os Morrisons da vida e os Moores e que tais sempre terão minha atenção, mesmo quando não fazendo seus trabalhos de autor.

Na primeira mini de JLA Classified, por exemplo, é um momento muito Morrison ver Batman pedindo a Alfred que não conte aos amigos do GCPD sobre seu arsenal de FC.

Voltando a SONHO, agora é quase certo que a história tome a forma de prosa. A escolha da cultura chinesa como substituta da japonesa se mostrou acertada por mais de um motivo. Como disse antes, a oportunidade de estudar algo novo, ou milenarmente novo, é imprescindível pra manter meu interesse. E tem muita coisa pra ser aprendida sobre a China, tanto a milenar quanto a atual.

Daniel Ley é pintor.

Magaly Yeoh é empresária.

Ele está no Brasil.

Ela está na China.

Um "acidente" (de tipo bastante específico) faz com que seus destinos se cruzem de um jeito não usual.

Daniel tem a oportunidade sonhada de apagar o passado e contruir vida onde só havia aridez.

Magaly sonha em preencher um vácuo em sua vida quase perfeita.

É este o começo.

Monday, April 11, 2005

Quando hoje não é hoje...

...é amanhã, é o exato momento em que me pego aqui, batendo meu teclado nada musical, fazendo o mesmo barulho monótono de dois ou três dedos digitando o nada no espaço eletrônico.

Mais uma que não é uma: Hector Lima (siga o link na barra lateral) avisou hoje que foi disponibilizado pela Comix Press a primeira publicação em língua inglesa de nosotros, ZOMBINGO/(IN)VERSION, e, é claro, você está convidado a dar uma checada no link que ele provavelmente disponibilizou em seu blog e que eu fui preguiçoso demais pra recortar e colar aqui. Só gente boa ilustrando: srs. Irapuan Luiz e Jean Okada!!! E o Jean não pára por aí: está de malas metaforicamente prontas pra embarcar numa nova empreitada e fazer quadrinhos pra Dinamarca! Mór força, cara! Você merece mais do que ninguém...

Em outras notas, lendo O CAMINHO DE SAN GIOVANNI, de Calvino, descobri um trecho que provavelmente vou digitar e publicar aqui em que o cara fala da relação quadrinhos e cinema. No mínimo inusitado.

Fui ver HERÓI. Quando digo que as referências pulam em cima quando me obseco por um assunto não estou pra brincadeira, não senhor. Não acredito que foi coincidência a estréia dos dois filmes do sr. Ymou sobre praticamente o mesmo assunto no mesmo final de semana. Claro que não precisava ser assim: HERÓI é de 2002 e O CLÃ DAS ADAGAS VOADORAS do ano passado. Por quê agora? Me chame de modesto.

Lendo MARAVILHAS DO CONTO CHINÊS, O HOMEM QUE CONFUNDIU SUA MULHER COM UM CHAPÉU e QUANDO TEREZA BRIGOU COM DEUS. Todos divertidíssimos ao modo particular de cada um deles e, mesmo assim, ainda tem uma pilha de outras coisas legais sobre os mesmos temas pra devassar. E daí? Daí que tô indo pra cama.

Acordo em 4 horas.

Sunday, April 10, 2005

Coincidência.

Li O PAGAMENTO, antologia de contos de P.K.Dick durante a última semana e, estranho, mas não surpreendente, me deparei com um conto intitulado A CIDADEZINHA que tem muito a ver com A CIDADE QUE ARISTÓTELES CONTRUIU, escrito por mim mesmo e publicado na revista pulp online A CASA DO TERROR.

Não é surpreendente porque já estou familiarizado demais com o "ideaspace" divulgado por Mr.Moore e corroborado por seus pares. Qualquer um externo a ordem cronológica e que lêsse os dois contos concluíria significativamente que se trata de plágio de minha parte, já que Dick escreveu o dele eras atrás e eu há somente dois ou três anos.

Segundo Moore, há um repositório de idéias que alguns chamam de inconsciente coletivo aonde tipos criativos vão buscar material bruto pra confeccionar suas obras. Pra mim soa adequado e justifica a coincidência, mas não explica. Ainda mais por conta de ser notória minha admiração pelo trabalho de Dick. Sempre senti falta de ler seus contos, sempre tive acesso a seus romances. Um dos primeiros livros que me lembro comprar com meu próprio dinheiro é justamente BLADE RUNNER (DO ANDROIDS DREAM OF ELETRICAL SHEEP?).

As temáticas dele são similares em mais de um ponto 'aquelas que gosto de abordar e também 'as que mereceram 'atenção de outro grande, talvez maior, talento literário, J.L.Borges. A percepção sendo a primeira delas. Percepção e mente ou consciência, como preferir.

De uns tempos pra cá meu interesse por psicologia se estendeu e aprofundou o bastante pra que me dedicasse também ao estudo do HD da coisa toda, a massa encefálica propriamente dita, e agora estudo também neurologia nas horas vagas. Meus trabalhos mais longos que só verão a luz do dia como roteiros em formato .pdf em algum ponto do futuro próximo (entenda-se, quando meu saco estiver mais cheio do que está agora) tratam do tema. Em PREFIXO SUPER, o mito do super-herói original é submetido ao tratamento da lente distorcida do universo DESVIO. Em VERDADE RELATIVA, a questão é "o que nos faz ser quem ou o quê somos?" ou "como vencer a programação que nos foi imposta?". Já O GRANDE JOGO tem um pouco disso em certa medida e lida com a coisa do "parece mais não é" com o que considero um tantinho de sutileza, de repente, mais sutileza do que o a que as pessoas que costumam ler quadrinhos estão acostumadas.

Isso merece um parêntese: as pessoas que costumam ler quadrinhos dificilmente vão atrás daqueles que exploram a mídia, o formato e tendem mais aos gibis coloridos de super-heróis, bichinhos ou infantis em geral. Isso não é derrogatório em nenhuma medida, só exclue todas as outras possibilidades de uso da linguagem. E quadrinhos, pra mim, são uma linguagem por essência. Uma das menos usadas e menos exploradas. O casamento perfeito entre duas outras, a verbal e a icônica e que, graças 'a indústria institucionalizada, só usa porções desta ou daquela na medida certa pra alienar o público do fato de se tratar de uma linguagem nova.

É fácil ouvir pessoas falando bem do roteiro ou dos desenhos de determinado gibi, difícil é ouvir falando do conjunto da obra.

E isso me perturba.

Friday, April 08, 2005

Confecção.

Uma das fases cruciais na composição de um roteiro, é por isso que estou passando agora, alinhavando todos os elementos que julgo de essência pro funcionamento do dito cujo.

Claro que tendo a dramatizar essa parte, mas é mais por conta da insegurança que pode vir a bater do que por outro motivo qualquer. Insegurança é uma constante em qualquer atividade que demande criatividade e precisamos sempre da constante aprovação de outrem. Ver os esforços feitos recebendo o reconhecimento de seus pares, pra alguns, é recompensa suficiente.

No meu caso, procuro sempre por amigos que possam dar algum feedback, o que consiste basicamente em ouvir do que a história trata, dar um sorrisinho, fazer um par de piadas a respeito e apagar da memória imediatamente depois disso.

Tá, tô só brincando.

Aqui nessas paragens só se consegue feedback dessa maneira, mesmo, contando com a caridade dos conhecidos porque os desconhecidos querem te manter assim, como eles. O ideal seria levar uma proposta a uma editora e ver se haveria interesse por parte dela no material. Então um editor seria incumbido de acompanhar o desenvolvimento do gibi e melhorar ou descartar material pré-existente assim como contribuir com novas idéias e inserções necessárias pro desenvolvimento da coisa toda.

Quase mais uma utopia, claro.

Só seria pior se eliminassem a produção de papel e tinta, elementos realmente essenciais pra criação de quadrinhos.

Como já disse alguém mais conhecido do que eu, em quadrinhos se pode fazer de tudo com um orçamento quase nulo.

É esse um dos pontos mais atraentes dessa mídia. Pra mim, claro.

SONHO tem elementos bastantes pra sustentar uma graphic novel. Daria pra se demorar no desenvolvimento e curtir de verdade detalhes estéticos tanto gráficos quanto verbais, mas vou optar pela rota mais certa, que é "destilar um barril de cerveja numa dose de combustível de foguete", ou seja, contar com a impossibilidade de um desenhista que tenha tempo de se dedicar a um projeto de fôlego mais longo e, sabendo de antemão como são as coisas no nosso, arrã, mercado, apostar numa narrativa mais curta e precisa e, por isso mesmo, realizável economicamente. Afinal, não queremos privar ninguém de trabalho que pague pra que se dedique tão somente a um SONHO.

Thursday, April 07, 2005

Aconteceu.

No fim, tudo somado e diminuído, o que importa é que dê certo.

Então, continuando meu looping de revisões pessoais e ainda pensando a respeito, com seriedade suficiente, a respeito do que é ser "indie", descobri o segredo do universo.

Simples e, mais que isso, super-simples, ser "indie" é fazer aquilo que se quer sem atender uma demanda comercial qualquer.

Eu, por exemplo, sou bastante "indie" nesse sentido porque a única coisa que quero fazer de verdade é contar histórias que me permitam explorar o potencial da mídia quadrinhos de modo a lhe dar feições de arte. Não vice-versa, nunca vice-versa.

Ou seja, a partir de uma idéia de história interessante procuro uma saída gráfica igualmente interessante pra representar o todo. Tem essa preocupação holística com as hqs que não me deixa, não me abandona e que venho calcando cada vez mais no que escrevo por aqui.

É a história da colaboração, o verdadeiro trabalho de equipe que só vai acontecer se o roteiro for escrito com clareza e o desenhista tiver conhecimento suficiente e necessário para trabalhá-lo. Então, enquanto escrevo tenho em mente que aquilo deve ser traduzido iconicamente, mais ainda, que há uma composição de página e a necessidade de que tudo flua a contento.

Nem mais nem menos.

Acredito que qualquer desenhista seria capaz de desenhar um roteiro meu desde que atendesse aos requisitos mínimos supracitados. Já me aconteceu, infelizmente, trabalhar com pessoas que não correspondiam ao desenhista do "olho da mente" que trabalhava ao meu lado enquanto eu compunha a "planta" da história. Tudo é projetado no estágio do roteiro. Tudo. Palavras e ações que podem vir a ser desenhados meses ou anos depois já estão no papel assim como uma planta de engenharia já descreve uma construção em todos os seus aspectos.

Pra mim, um dos crimes mais comuns, mais recorrentes por aqui é o de atribuir importância 'a esta ou aquela história baseando-se tão somente no desenhista. Se não há roteiro uma história não se sustenta.

Mesmo assim, reitero o que vinha dizendo no começo e direi por pelo menos algum tempo: colaboração é a essência e o segredo. Um com o outro, os dois juntos trabalhando pra que a história funcione.

E, mais uma vez, a coisa do "indie". Dizer que sou "indie" porque faço o que quero é real. Não vivo disso e muito provavelmente não vou sequer chegar perto de me sustentar com quadrinhos. A não ser que a DC compre minha proposta pra VERTIGO, SCREAMING BULLSHIT e comecem a chover convites pra escrever mais e mais títulos mensais. Também tem outro fator interessante: sabe quantas editoras brasileiras estão atrás de projetos de autores brasileiros no momento? Ou quantas editoras brasileiras estão procurando autores brasileiros e oferecendo a eles trabalho em um ou outro título? E não me venha falar de mauricio de Sousa que o que tinha a dizer a respeito dele já disse.

Quantas?

Wednesday, April 06, 2005

Incrível!!!

Quem ainda não assistiu ao filme OS INCRÍVEIS está perdendo tempo precioso. Isso mesmo, propaganda gratuita do filme em dia do lançamento do dvd nas lojas.

Antes da praxe da caminhada vespertina pela praia, passei na locadora mais próxima e, nenhuma surpresa, lá estava o filme passando em telas múltiplas. Parei e fiquei assistindo por um tempo considerável, meu cérebro lançado num looping de prazer quase infantil só experimentado em minha história recente com minha ida ao cinema para ver o mesmo filme. A ação ocorre de um jeito natural na tela, ao contrário dos diversos filmes em "live action" em que pessoas de carne e osso atuam diante de fundos verdes a fim de que depois sejam acrescentados os efeitos visuais. Isso trunca a narrativa de um jeito que perde qualquer possibilidade de haver a tão querida suspensão de descrença que é indispensável quando se trata desse tipo de material.

Como tudo no filme é efeito especial, até mesmo o queixão quadrado de Bob Parr, até mesmo a bunda volumosa de sua excelentíssima esposa, os poderes dos personagens são só mais um no meio de tantos outros. Isso faz com que tudo flua em uníssono, mais ou menos como se fosse um trabalho solo, o trabalho de uma única mente executado por braços múltiplos.

Meu ideal, na verdade.

Criar algo em colaboração que pareça autoral. Mas não no sentido esnobe, perjorativo até, que se atribui 'a palavra em nossos tempos insossos de besteirices exageradas. Autoral no sentido de que é uma visão compartilhada tanto pelo roteirista quanto pelo desenhista. Até acho que com meus colaboradores usuais alcanço isso. Mas ainda tem aquela vontade de criar algo realmente digno de nota, algo maior que a simples hq curta, quer seja de 5, 6, 10 páginas. Quero chegar nisso, quero alcançar o objetivo sublime de ter histórias fechadas de 24 páginas desenhadas por esses profissionais em quem sei que posso confiar que não fugirão do espírito adotado originalmente na confecção do roteiro por um momento de estrelismo. Colaboração é o meu mantra.

Funcionou fodidamente bem em OS INCRÍVEIS. A diferença básica é que rolou grana. A diferença básica é que no primeiro dia nas lojas dos EUA o dvd do filme vendeu 5 milhões de cópias.

Com histórias em quadrinhos brasileiras a história seria outra.

Tuesday, April 05, 2005

Beg the question.

A última vez que li alguma coisa remotamente parecida com um gibi indie recente (li algumas coisas do sempre bom/sempre mestre R.Crumb e seus parceiros da ZAP ano passado) foi BERLIN, do Jason Lutes, fonte de inspiração pra qualquer coisa mais elaborada em termos de narrativa visual que eu implemente em qualquer roteiro que escreva.

Agora tô lendo, a prestações, o gibi-autobio de Bob Fingerman, BEG THE QUESTION. Cara, se você pudesse ver o preciosismo com que ele trata todo seu trabalho, até mesmo essa verdadeira "novela gráfica", sentiria, como eu, vontade de ser capaz de fazer o mesmo.

Como não sou, mes contento em fazer o que posso.

Evidentemente isso tudo deveria servir de introdução preu falar das novas evoluções de SONHO que, acredite se quiser, tem ocorrido. Hoje mesmo enchi duas laudas com observações a respeito da história e ontem ocorreu um fenômeno parecido. Quando digo que determinadas narrativas dão a impressão de querer se escrever sozinhas estou falando de material como SONHO. Uma vez que me pego pensando a respeito da história a evolução é garantida.

Uma palhinha seria legal mas não quero estragar a surpresa da coisa toda. Apesar de estar considerando essa iniciativa como a minha história pra todos os gostos e tudo mais ela deve ter uma ou outra cabecice porque, sinceramente, não resisto. Acho que é função do autor provocar o leitor e encaro qualquer empreitada no campo ficcional como uma desculpa pra ligar e desligar, fazer um backup e reestartar a máquina, fazer upgrade cerebral de verdade, mudar a percepção que o leitor tem do mundo, sem tirar nem por.

A premissa é a do duplo, mas com uma entortada típica. A premissa é aquela que todo mundo já quis pra si em um ou outro momento de sua vida e continua querendo secretamente, sob os lençóis ou sobre o asfalto.

Indie.

Mais de uma vez por ano me pergunto o que faz um gibi ser classificado como "indie". Hoje em dia até as coisas mais superheroísticas do mundo saem sob essa chancela desde que por uma editora pequena. "Indie", aparentemente, tem pouco a ver com conteúdo e tudo a ver com o tamanho da casa publicadora.

Por algum motivo que ignoro o rótulo terminou pegando até pra mim. Não vou nem quero entrar em nenhuma discussão etimológica sobre que porra isso significa, ser "indie", porque não acho que haja espaço pra qualquer tipo de artista de quadrinhos no Brasil porque, muito simples, não há nenhum mercado pra quadrinhos brasileiros.

Exceto pelo Maurício de Sousa, mas o que ele faz também não me interessa nem mesmo como leitor, então por que discuti-lo, certo? Tem lá HOLLY AVENGER, um gibi que descobri na versão remasterizada e que amei de paixão pela arte da Erica Awano, mas sei lá quais eram os números de venda desse material.

Bom, já que sei tão pouco a respeito de tudo, faço melhor calando a boca e pronto.

Se sou "indie" só o sou por não ter editora nenhuma por trás (opa!) de meus projetos. Todos eles são cria minha e, de vez em quando, até consigo encaixar um ou outro, muito modestamente, em iniciativas de caras como o editor da Monalisa, que publica a Manticore.

E olhe lá.

Quem é o roteirista/desenhista mais requisitado do Brasil hoje em dia? No Brasil, claro! Ninguém, porque, sejamos sinceros, do mesmo jeito que todo brasileiro é técnico de futebol, quando se trata de hqs ou qualquer outra área de atuação, sempre temos os especialistas de garagem.

E, não, estou tendo um dia excelente.

Sunday, April 03, 2005

A continuidade de tudo.

Minha vida parece muitas vezes um filme sem continuísta. Ninguém preocupado em levar um desenvolvimento lógico de um extremo a outro da narrativa quer gráfica quer tematicamente. É assim que fico sabendo das coisas, aos tropeções, como quem entra na sessão de cinema atrasado.

Em mais de uma instância.

'As vezes pode ser positivo porque coisas positivas também acontecem fora de nossas vistas, outras nem tanto.

Dessa vez, por exemplo, soube que MANTICORE ficou pronta. Meus motivos são puramente egoístas, já que tem uma hq minha em parceria com o bom e velho de guerra (já se vão 10 anos aproximados nisso) Léo Andrade nela.

Fico pensando a respeito do que não é egoístico na vida e vejo que não vale 'a pena, assim como não vale 'a pena questionar os próprios motivos pra se fazer o que quer que se queira fazer, uma vez que seria uma atitude unilateral, vivendo como vivemos numa sociedade em que todos olham o próprio umbigo primeiro.

Por outro lado da mesma moeda, SONHO vem se desenvolvendo mais que a contento e se essa não for uma hq comercial e pra todas as idades não sei o que será. Também é uma das melhores coisas que já escrevi. Casa garantida, desenhista nem tanto. É uma daquelas coisas que preciso resolver. Poucos desenhistas com pouco tempo me fizeram perder um par de oportunidades.

Uma das coisas que mudou durante a feitura do trabalho é o fato de que a hq agora se passa parcialmente na China, não mais no Japão como sonhada originalmente. E isso é ótimo porque me dá a oportunidade de aprender coisas novas sobre um lugar antigo. Desculpa também pra reler A ARTE DA GUERRA e mergulhar de cabeça em todas as referências que parecem se manifestar espontaneamente quando uma hq quer ser feita.